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São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

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MUTAÇÕES

Produto poderá ser comercializado nos mercados interno e externo; governo diz que vai punir novos plantios

Soja transgênica tem de "sumir" até janeiro

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os produtores de soja transgênica terão até 31 de janeiro de 2004 para vender toda a sua colheita. O produto poderá ser vendido no país ou ser exportado. A partir de fevereiro, qualquer sobra da soja geneticamente modificada colhida na atual safra terá de ser destruída.
Ontem o governo publicou a medida provisória com as regras para a comercialização de soja geneticamente modificada -que, embora ilegal no país, está temporariamente liberada para a venda, desde que devidamente rotulada.
"É uma situação especial", disse a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), contrária aos transgênicos. Segundo ela, o governo vai fiscalizar e punir os agricultores que insistirem em plantar soja ilegal, a partir de agora.
"A medida provisória é para resolver essa questão [da safra atual], que acabou gerando um problema econômico e social em razão do volume da colheita e por culpa do Estado, que não fez o seu dever de fiscalizar", disse a ministra. Ainda não se sabe qual será a estrutura para a fiscalização -e se ela seria efetiva.
A idéia é privilegiar a venda para o exterior. O governo poderá até, segundo a MP, criar medidas para estimular a exportação.
Mesmo assim, parte da soja transgênica acabará na mesa do consumidor brasileiro: a produção de transgênicos no Rio Grande do Sul, a região com a maior incidência do grão modificado, é superior às exportações do Estado. Segundo estimativas do próprio governo, até 80% da soja no RS é transgênica. O Estado exporta 20% da colheita.

Decisão do consumidor
Com a liberação temporária da soja para o consumo, o que era uma questão de saúde pública passou a ser uma questão do consumidor. Um dos motivos da proibição da venda de produtos geneticamente modificados no Brasil é a falta de informações sobre o impacto na saúde humana. Até 31 de janeiro, a decisão de consumir ou não transgênicos será do consumidor.
A medida provisória obriga as empresas a rotular todo produto que possa estar contaminado com soja geneticamente modificada. Para poder exibir um selo de que está livre de transgênicos, o produto terá de ser feito a partir de soja certificada pelo Ministério da Agricultura. O ministério poderá conceder certificados a produtores individuais ou decretar que uma determinada região do país está livre de transgênicos.
Além disso, a medida provisória também cria novas punições para os produtores que insistirem em desrespeitar a legislação brasileira, que até agora não liberou o plantio de produto geneticamente modificado para a comercialização. "Estamos criando mecanismos de punição para quem desobedece a lei", disse Marina.
"Fica definido claramente que, enquanto houver uma decisão judicial de proibir o plantio, o governo brasileiro não permitirá o cultivo de soja transgênica", disse o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Quem plantar soja transgênica em 2004, além de estar sujeito a perda de sua safra e multas, ficará impedido de obter empréstimos e financiamentos de instituições públicas, perderá eventuais benefícios fiscais e não poderá participar de programas de recuperação fiscal do governo. O agricultor também estará sujeito a uma multa adicional de no mínimo R$ 16,110 mil.

Voto vencido
O texto final da medida provisória não saiu como queria o Ministério do Meio Ambiente. Marina foi voto vencido numa série de questões. Primeiro, a ministra queria que toda a safra fosse exportada. Resignada de que parte da colheita teria de ir para o mercado interno, insistiu em que só se liberasse o consumo animal no país. Perdeu mais uma vez: a soja poderá ser vendida para qualquer finalidade, exceto como sementes para plantio futuro.


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