São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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LUÍS NASSIF

Retratos do Brasil

A respeito das colunas dos dois domingos anteriores, sobre o desemprego, alguns e-mails recebidos:
De Maurício: "Nós não somos um percentual numa planilha, mas uma tragédia humana que corrói a alma, destrói família, mata uma pessoa em vida, ela vai murchando por dentro".
Da leitora A.B.: "Nossa família ficou dividida, meio lá, meio cá. Muitas mudanças, muita dor. E aí observamos os governantes paralisados, empacados, imobilizados, em círculos viciosos. Esse é um desabafo de homens e mulheres que choram a perda de seu trabalho, de sua honra e da sua vida".
Do leitor J.B.: "Tenho dois filhos e acho que valerá ter tocado na banda, se eu conseguir que os dois tenham a sensibilidade que falta em economistas, políticos e, desculpe, em muitos jornalistas".
Da leitora M.E.R.M.: "Um homem também chora, uma mulher também lamenta. Muitas vezes, um choro seco, um lamento surdo. Vivo o desemprego. Conheço as conseqüências".
De R.G.T: "O ensino, após o término de meu doutorado, se abre como uma das poucas perspectivas para um profissional que já tem 45 anos de idade. Espero, como professor, poder incutir um pouco de sensibilidade social nesses garotos inteligentes e bem nascidos, que, após sua graduação em alguma escola de elite, fazem um doutorado no exterior e retornam para ditar os rumos do país".
De F.B.: "O pior ainda é você estar desempregado e depender de seu pai, com 62 anos de idade, que está trabalhando. Uma vergonha para mim, para o país".
Da leitora E.G.: "Toda vez que privo meus filhos e a mim mesma de algo que sempre fez parte do nosso dia-a-dia e que deixará de fazer por absoluta e total falta de recursos neste momento da minha vida, penso que isso tudo é "momento" e só nos tornará seres humanos melhores. Porém este meu autoconforto cada vez mais me parece piegas e uma forma simplista de encarar a minha atual incompetência de provedora".
Da leitora P.S.: "Sinceramente espero que o céu azul chegue logo para todos os brasileiros".
Da leitora. M.H.: "Ficamos calados, sofrendo, desacreditando e lutando para a dignidade que o trabalho nos oferece".
Da leitora A.L.C.M., 57 anos, de Recife: "Fiquei chorando. Acho que o artigo me fez extrapolar para a situação que vivo, de ter acreditado, e ainda a vontade que dê certo, eu, militante que sou da política. Espero que, daqui a algum tempo, as coisas finalmente se ajustem para o nosso povo ser feliz".
Da leitora R.G.: "Tomara que todos os desempregados e familiares pudessem ler seu artigo, como é o nosso caso, com filho casado, dois filhos e desempregado há cinco anos. Sabemos que as dores são para amadurecimento, crescimento etc. Elas são mais suportáveis quando são naturais à vida. O difícil é suportá-las quando são conseqüências do egoísmo. Deus o abençoe e à sua família".
De J.F., de Curitiba: "Como um bom capitão de navio, olho sempre o horizonte, sinto a força do vento e das ondas. Procuro colocar o barco sempre de proa para ondas. Mas sei que existem ondas intransponíveis".
De J.C.J., de Boston: "Sou um brasileiro que decidiu sair do Brasil na época do Plano Verão. Moro hoje em Boston, estou bem financeiramente, mas o Brasil é uma mancha de dendê no meu coração. Devoro diariamente os jornais brasileiros à cata de sinais de progresso, que, infelizmente, custam a aparecer".
Da leitora M.R.: "Moro num condomínio cheio de madames, trabalho, tenho duas filhas e meu marido está desempregado, fechou a empresa que tinha (informática) e agora estamos tentando nos reerguer, só que minha renda é insuficiente. Já tive luz cortada, carro com busca, telefone mudo. A sorte é que a casa é nossa e está paga, minhas filhas estão na escola pública neste ano. Muitos acham que ele é um folgado. Mas o que os outros pensam não me incomoda. O que me incomoda é não ver o sorriso dele há muito tempo, vê-lo chegar em casa com ombros caídos e pensar que estamos sem perspectivas. Fiz uma opção de estar ao lado dele sempre, pois ele ainda é o homem da minha vida".

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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