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LUÍS NASSIF
Retratos do Brasil
A respeito das colunas dos
dois domingos anteriores,
sobre o desemprego, alguns e-mails recebidos:
De Maurício: "Nós não somos
um percentual numa planilha,
mas uma tragédia humana que
corrói a alma, destrói família,
mata uma pessoa em vida, ela vai
murchando por dentro".
Da leitora A.B.: "Nossa família
ficou dividida, meio lá, meio cá.
Muitas mudanças, muita dor. E
aí observamos os governantes paralisados, empacados, imobilizados, em círculos viciosos. Esse é
um desabafo de homens e mulheres que choram a perda de seu
trabalho, de sua honra e da sua
vida".
Do leitor J.B.: "Tenho dois filhos
e acho que valerá ter tocado na
banda, se eu conseguir que os dois
tenham a sensibilidade que falta
em economistas, políticos e, desculpe, em muitos jornalistas".
Da leitora M.E.R.M.: "Um homem também chora, uma mulher
também lamenta. Muitas vezes,
um choro seco, um lamento surdo. Vivo o desemprego. Conheço
as conseqüências".
De R.G.T: "O ensino, após o término de meu doutorado, se abre
como uma das poucas perspectivas para um profissional que já
tem 45 anos de idade. Espero, como professor, poder incutir um
pouco de sensibilidade social nesses garotos inteligentes e bem nascidos, que, após sua graduação
em alguma escola de elite, fazem
um doutorado no exterior e retornam para ditar os rumos do
país".
De F.B.: "O pior ainda é você estar desempregado e depender de
seu pai, com 62 anos de idade,
que está trabalhando. Uma vergonha para mim, para o país".
Da leitora E.G.: "Toda vez que
privo meus filhos e a mim mesma
de algo que sempre fez parte do
nosso dia-a-dia e que deixará de
fazer por absoluta e total falta de
recursos neste momento da minha vida, penso que isso tudo é
"momento" e só nos tornará seres
humanos melhores. Porém este
meu autoconforto cada vez mais
me parece piegas e uma forma
simplista de encarar a minha
atual incompetência de provedora".
Da leitora P.S.: "Sinceramente
espero que o céu azul chegue logo
para todos os brasileiros".
Da leitora. M.H.: "Ficamos calados, sofrendo, desacreditando e
lutando para a dignidade que o
trabalho nos oferece".
Da leitora A.L.C.M., 57 anos, de
Recife: "Fiquei chorando. Acho
que o artigo me fez extrapolar para a situação que vivo, de ter acreditado, e ainda a vontade que dê
certo, eu, militante que sou da política. Espero que, daqui a algum
tempo, as coisas finalmente se
ajustem para o nosso povo ser feliz".
Da leitora R.G.: "Tomara que
todos os desempregados e familiares pudessem ler seu artigo, como é o nosso caso, com filho casado, dois filhos e desempregado há
cinco anos. Sabemos que as dores
são para amadurecimento, crescimento etc. Elas são mais suportáveis quando são naturais à vida.
O difícil é suportá-las quando são
conseqüências do egoísmo. Deus
o abençoe e à sua família".
De J.F., de Curitiba: "Como um
bom capitão de navio, olho sempre o horizonte, sinto a força do
vento e das ondas. Procuro colocar o barco sempre de proa para
ondas. Mas sei que existem ondas
intransponíveis".
De J.C.J., de Boston: "Sou um
brasileiro que decidiu sair do Brasil na época do Plano Verão. Moro hoje em Boston, estou bem financeiramente, mas o Brasil é
uma mancha de dendê no meu
coração. Devoro diariamente os
jornais brasileiros à cata de sinais
de progresso, que, infelizmente,
custam a aparecer".
Da leitora M.R.: "Moro num
condomínio cheio de madames,
trabalho, tenho duas filhas e meu
marido está desempregado, fechou a empresa que tinha (informática) e agora estamos tentando nos reerguer, só que minha
renda é insuficiente. Já tive luz
cortada, carro com busca, telefone mudo. A sorte é que a casa é
nossa e está paga, minhas filhas
estão na escola pública neste ano.
Muitos acham que ele é um folgado. Mas o que os outros pensam
não me incomoda. O que me incomoda é não ver o sorriso dele
há muito tempo, vê-lo chegar em
casa com ombros caídos e pensar
que estamos sem perspectivas. Fiz
uma opção de estar ao lado dele
sempre, pois ele ainda é o homem
da minha vida".
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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