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TECNOLOGIA
Complexidade do sistema operacional, sempre compatível com versões anteriores, impede atualização rápida
Domínio do Windows retarda inovação
DO "NEW YORK TIMES"
Por volta de 1998, o governo dos
Estados Unidos declarou que seu
processo antitruste contra a Microsoft não era apenas uma questão de defender a lei, mas também
uma batalha pela inovação. A
preocupação era que a empresa
decidisse brandir seu poder de
mercado e usasse sua estratégia
de incorporar cada vez mais recursos a seu sistema operacional,
o Windows, para bloquear a concorrência e sufocar a inovação.
Passados oito anos, a verdade é
que o Windows está de fato sufocando a inovação -na Microsoft.
O longo esforço da empresa para desenvolver uma nova versão
do Windows, chamada Vista, sofreu repetidos atrasos. Na semana
passada, a Microsoft anunciou o
mais recente revés, ao adiar o lançamento da versão pessoal do novo Windows para janeiro.
Nesses cinco anos, a Apple produziu quatro novas versões de seu
sistema operacional Mac, levando
ao mercado, antes da Microsoft,
recursos que farão parte do Vista,
como um sistema de busca na
máquina, recursos gráficos tridimensionais avançados e "widgets", pequenos programas de
propósito único como obter notícias, gerar relatórios de tráfego e
localizar mapas meteorológicos.
Assim, o que há de errado com a
Microsoft? Afinal, não há escassez
de engenheiros de software capacitados na empresa. O problema,
ao que parece, é que o sucesso da
Microsoft e sua estratégia de incorporar todos os recursos possíveis ao sistema operacional se tornaram pontos fracos.
O Windows está em 330 milhões de computadores pessoais
em todo o mundo. Dezenas de
milhares de aplicativos de software desenvolvidos por terceiros
operam com base no Windows. E
um dos motivos cruciais para que
a Microsoft detenha participação
de mais de 90% no mercado de
sistemas operacionais é que a empresa se esforça para garantir que
software e hardware que funcionavam com versões anteriores do
Windows continuam a funcionar
nas mais recentes -"compatibilidade", em jargão de informática.
Como resultado, cada nova versão do Windows carrega a bagagem de seu passado. À medida
que o Windows crescia, os desafios técnicos se tornavam cada vez
mais assustadores. Milhares e milhares de engenheiros trabalharam para criar e testar o Windows
Vista, um projeto de construção
de software imenso e complexo,
com mais de 50 milhões de linhas
de código, 40% mais que seu predecessor, o Windows XP.
"O Windows se tornou grande e
pesado a esse ponto devido ao tamanho de sua base de código, às
dimensões de seu ecossistema e à
insistência da empresa em manter a compatibilidade com hardware e software mais antigos, e
agora o programa torna tudo
mais lento", disse David B. Yoffie,
professor de administração da
Universidade Harvard.
Em memorando interno divulgado em outubro, Ray Ozzie, vice-presidente de tecnologia da
Microsoft, que começou a trabalhar para a empresa no ano passado, escreveu que "a complexidade
mata. Ela suga a vida das equipes
de desenvolvimento, torna difícil
planejar, construir e testar os produtos, gera desafios de segurança
e causa infinitas frustrações a administradores e usuários".
Do zero
O Vista também sofreu atrasos
porque o projeto teve de ser reiniciado no terceiro trimestre de
2004. Àquela altura, se tornara
claro a James Allchin, o executivo
de engenharia que comanda a
equipe do Vista, bem como a outros da Microsoft, que a maneira
pela qual a empresa estava tentando construir a nova versão do
Windows, então conhecida como
Longhorn, não funcionaria.
Dois anos de trabalho foram jogados no lixo e alguns recursos
planejados acabaram abandonados, como o sistema inteligente de
armazenagem de dados WinFS.
O projeto retomado, decidiu a
Microsoft, adotaria nova abordagem. O Vista foi desenvolvido na
forma de módulos que poderiam
ser unidos como blocos de Lego, o
que tornaria mais fácil administrar o desenvolvimento e os testes.
"Eles tomaram a decisão certa
quando aceitaram que o código
do Longhorn era um mixórdia
impossível de salvar e começaram
de novo", disse Michael A. Cusumano, professor de administração do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). "Mas o
Vista continua a ser uma estrutura imensamente complexa."
Lições da Apple
Céticos como Cusumano dizem
que para resolver os problemas
do Windows seria necessária uma
abordagem mais radical: a disposição de abandonar o passado.
Um exemplo instrutivo, dizem, é
aquilo que aconteceu na Apple.
Basta lembrar que Steve Jobs
voltou à Apple porque os esforços
da empresa para desenvolver o
sistema operacional Copland fracassaram. Jobs convenceu a Apple a adquirir sua empresa, a
Next, em 1996, por US$ 400 milhões, para usar o sistema operacional que ela havia desenvolvido.
Jobs e sua equipe levaram dois
anos para reformular e reequipar
o Next e fazer dele o que viria a ser
o Mac OS X. Quando o novo sistema chegou ao mercado, em 2001,
representava essencialmente o
completo abandono do sistema
operacional anterior da Apple, o
OS 9. Os aplicativos concebidos
para o OS 9 funcionariam em
uma máquina com o OS X, mas só
por meio de ativação separada do
velho sistema operacional.
A abordagem não era muito elegante, mas permitiu que a Apple
adotasse nova tecnologia e um
sistema operacional mais estável,
com projeto muito mais elegante.
O único sacrifício foi a perda da
compatibilidade entre o OS X e os
programas antigos do Mac, passo
que a Microsoft sempre se recusou a dar no caso do Windows.
E a Apple, que produz sistemas
operacionais que funcionam apenas nas máquinas que ela fábrica,
não precisa lidar com o maciço
ecossistema empresarial da Microsoft, com centenas de fabricantes de PCs e milhares de empresas fornecedoras de software.
"Esse lastro é também um dos
pilares da força da Microsoft e
motivo para que parceiros setoriais e usuários mantenham o
Windows, mesmo que seu tamanho e questões estratégicas retardem inovações. A menos que a
Microsoft consiga ganhar agilidade, os consumidores talvez tenham de aceitar um Windows cada vez pior, com o tempo, e isso é
lastimável", disse Yoffie.
Tradução de Paulo Migliacci
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