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AGROFOLHA
PERDAS E DANOS
Produtores afirmam que o fungicida Stratego, usado contra a ferrugem asiática na safra 2003/4, é ineficiente
Sojicultores querem indenização da Bayer
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM
DIAMANTINO E CUIABÁ (MT)
Produtores de soja entraram
com mais de 30 ações judiciais
contra a Bayer CropScience, braço agrícola da multinacional alemã, em que pediam indenizações
por perdas devido à suposta ineficiência do fungicida Stratego,
usado na prevenção à ferrugem
asiática na safra 2003/4. O produto tinha sido recém-lançado.
São 20 ações em Mato Grosso,
15 em Minas Gerais e 1 em Goiás.
Em Mato Grosso, maior produtor
de soja do Brasil, foi criada em outubro passado a Aplus (Associação dos Produtores Lesados pelo
Uso do Stratego).
O presidente da entidade, o
agrônomo Sônio Aramis dos Santos Blauth, 50, afirma que reúne
ao menos 40 sojicultores. Segundo ele, o número de ações é maior
e há casos também na Bahia e em
Mato Grosso do Sul.
"Acreditamos que as perdas ultrapassem os R$ 150 milhões", diz
Blauth. O produtor Lauro Diavan,
29, não-associado à Aplus, pediu
indenização de R$ 40 milhões
(leia texto nesta página).
Os processos começaram em
2004, mas surgem novas ações.
"Em Mato Grosso, temos 40 ações
diretas contra a Bayer [que admite 20]. Há mais 12 que ainda vão
entrar só por esse escritório", disse o advogado Flávio Bertin.
A Aplus e demais produtores
ouvidos pela Folha citam como
prova da suposta ineficiência do
Stratego um estudo coordenado
pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) na
safra 2003/4, feito por 17 fundações de pesquisas e universidades.
Testes
A Embrapa reuniu em uma publicação, de abril de 2005, os resultados de testes (chamados ensaios) feitos com aplicações de
fungicidas para checar a eficiência
deles no controle da ferrugem
asiática da soja.
O Stratego aparece com eficiência de 59% a 74%, ao lado de três
produtos. Outros quatro tiveram
índices de 80% a 86%, e seis tiveram desempenho acima de 90%.
A Bayer CropScience desqualifica o trabalho (leia texto nesta página), afirmando que houve aplicação em plantas com ferrugem,
sendo que o Stratego só tem eficiência preventiva se usado na soja ainda sadia.
"É desculpa deles. Acho que entraram dez ensaios, e um deles
aplicado quando [a planta] já tinha sintoma [estava com ferrugem], na condição em que a Bayer
não recomenda. Os outros nove,
não", afirmou a organizadora do
estudo, Cláudia Vieira Godoy,
doutora em fitopatologia da Embrapa Soja de Londrina (PR).
"Numa sumarização conjunta,
isso não alterava [o resultado],
pois era um ensaio entre dez. Então essas alegações deles não têm
muito fundamento", diz Godoy.
Ferrugem apareceu
Outro argumento da Bayer é
que os sojicultores aplicaram o
Stratego de forma incorreta.
"Aplicamos o produto como a
empresa recomendou, preventivamente. Quando nós terminamos a primeira aplicação, não tinha ferrugem. Uma semana depois, começou a aparecer", disse
Blauth.
O produtor rural e agrônomo
Sérgio da Silva Ramos, 51, também de Diamantino, mostra uma
perícia judicial -feita com participação, segundo ele, de técnicos
da Bayer- na qual foi relatada a
perda de 24.208 sacas de soja. Ele
pede na Justiça indenização de R$
1,2 milhão.
Ramos aponta que na parte de
sua lavoura onde foi usado apenas o Folicur, outro produto da
Bayer, a produção foi de 59,10 sacas por hectare. Em outra parte,
pulverizada preventivamente
com o Stratego e depois com o Folicur, como curativo, conseguiu
obter apenas 17,16 sacas por hectare. "Se é Bayer, é bom, mas não
com o Stratego", ironizou Ramos.
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