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VINICIUS TORRES FREIRE
O debate político e o PIB "novo"
Dados que IBGE divulga hoje podem mudar estimativas de gasto público e do potencial de crescimento da economia
GOVERNO E algumas consultorias e bancos que se arriscaram a estimar o crescimento
de 2006 dão conta de que o PIB teria
avançado 3,5%, contra os 2,9% apurados segundo o método antigo de
calcular o ritmo da atividade econômica, que foi revisado pelo IBGE.
O pibinho revisado e vitaminado
não tem apenas implicações contábeis, nem os décimos de porcentagem adicionais que podem aparecer
hoje no PIB do ano passado serão
meras firulas estatísticas.
Em jogo estão indicadores relevantes, como o tamanho da dívida
pública em relação ao PIB e a quantidade de dinheiro dos impostos que
o governo precisa colocar de lado a
fim de fazer com que a dívida caia
ou, pelo menos, não cresça -isto é, o
tão maldito superávit primário.
Como o PIB ficou maior e o tamanho da dívida pública não mudou, a
proporção dívida/PIB, claro, caiu,
pelo menos até 2005.
Deve cair ainda mais se confirmado
um pibinho maior em 2006.
E daí? Daí que o superávit primário, a contenção de gastos necessária
para reduzir a dívida nos próximos
anos, pode, em tese, ser menor do
que o previsto no plano do governo.
Não se trata apenas da adequação
aritmética do superávit ao novo tamanho do PIB -isto é, o superávit
anteriormente previsto, de 4,25%
do PIB "velho", deve equivaler a uns
3,8% do PIB "novo". Mas, como agora se parte de um patamar menor de
dívida como proporção do PIB, ficou
mais fácil atingir a meta de redução
do endividamento público para os
próximos anos de Lula.
A alternativa é óbvia. Decerto não
faz sentido manter o superávit do
PIB "velho", o que implicaria novo e
brutal corte de gastos (mais de R$ 9
bilhões). A fim de manter a dívida
estabilizada, com um crescimento
de 3,5% em 2007, basta um superávit de 2% no PIB "novo", na estimativa dos economistas do ABN.
O problema de baixar o superávit
dos 3,8% do PIB "novo" é perder a
chance de abater a dívida pública
mais rapidamente. Se a dívida pública é menor, menor é a conta de juros. Quanto mais rapidamente cair a
conta de juros, mais cedo virá a
oportunidade de aumentar o investimento do governo em obras (ou de
reduzir os impostos, a depender do
gosto político do freguês).
Os dados sobre o ritmo trimestral
do investimento (em máquinas e
instalações) e do consumo são outro
indicador politicamente relevante
que o IBGE deve apresentar hoje.
Com os novos dados de investimento, fica menos imprecisa a medida
da produtividade da economia.
O nível de produtividade é importante também para estimar com imprecisão menos indecente o potencial de o PIB crescer sem que ocorra
descontrole de preços, inflação. Os
primeiros dados novos do IBGE sobre o assunto mostraram como são
precários os cálculos sobre o limite
do crescimento. E como há cascata
ideológica sobre o assunto.
vinit@uol.com.br
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