São Paulo, sábado, 28 de março de 2009

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Lula diz que não é hora de pedir reajuste

Na crise, importante é contribuir para que empresas vendam mais, afirma presidente

Sindicalistas criticam discurso de Lula e dizem que reivindicação por aumento real nos salários não pode ser abandonada


PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu ontem que os trabalhadores deixem de se concentrar nas reivindicações por aumento salarial enquanto durar a crise -o que provocou críticas de sindicalistas.
Diante de uma plateia de empresários do ramo da construção civil, Lula, que presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema (1975 a 1981), afirmou que não há possibilidade de os trabalhadores se beneficiarem em época de crise econômica.
"Hoje, mais do que fazer uma pauta de reivindicação pedindo mais aumento, temos que contribuir para que as empresas vendam mais", disse Lula, em discurso na Feicon (Feira da Construção Civil), em São Paulo. Mais de dois terços das categorias profissionais do setor privado têm data-base em maio e já começam a negociar sua pauta com empresários, segundo o Dieese (Departamento Sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Lula voltou a fazer apelo para que as pessoas consumam, já que, para ele, a crise tem um lado "verdadeiro" e um "lado de pânico, de incerteza".
"Se tivermos medo de comprar, o comércio não vai vender. Se o comércio não vende, a indústria não produz. E o povo não comprando, o comércio não vendendo e a indústria não produzindo seria o caos econômico em qualquer país", afirmou. "Como sindicalista, sei que, quando há uma crise e as empresas não estão vendendo, não há como brigar para segurar o trabalhador."
O discurso do presidente provocou a reação de sindicalistas. Para Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo), filiado à Força Sindical, que estava presente no evento, Lula cometeu um "deslize". "Tomei um susto quando ouvi."
De acordo com Ramalho, a categoria vai reivindicar aumento real de 5% neste ano. O sindicalista diz ainda que irá organizar uma paralisação no dia 27 de abril para pressionar as empresas.
Adi dos Santos Lima, secretário-geral da CUT-SP (Central Única dos Trabalhadores de São Paulo), mais afinada com o governo, diz "discordar totalmente" de Lula. Para ele, o crescimento do país nos últimos anos deve-se ao aumento da renda proporcionada pelo ganho real dos trabalhadores.
"Trabalhamos com a lógica de que o aumento do salário aumenta o poder de compra, o que leva a uma maior produção. É isso o que faz a economia girar. Não vamos deixar de lado as reivindicações por aumento real nos salários", afirmou.
Para o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, Lula "desaprendeu ou então nos ensinou tudo errado quando era sindicalista". "O consumo movimenta a economia. E vamos continuar lutando para haver aumentos."


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