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Lula diz que não é hora de pedir reajuste
Na crise, importante é contribuir para que empresas vendam mais, afirma presidente
Sindicalistas criticam
discurso de Lula e dizem que reivindicação por aumento real nos salários não
pode ser abandonada
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu ontem que os
trabalhadores deixem de se
concentrar nas reivindicações
por aumento salarial enquanto
durar a crise -o que provocou
críticas de sindicalistas.
Diante de uma plateia de empresários do ramo da construção civil, Lula, que presidiu o
Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo do Campo e Diadema (1975 a 1981), afirmou
que não há possibilidade de os
trabalhadores se beneficiarem
em época de crise econômica.
"Hoje, mais do que fazer uma
pauta de reivindicação pedindo
mais aumento, temos que contribuir para que as empresas
vendam mais", disse Lula, em
discurso na Feicon (Feira da
Construção Civil), em São Paulo. Mais de dois terços das categorias profissionais do setor
privado têm data-base em maio
e já começam a negociar sua
pauta com empresários, segundo o Dieese (Departamento
Sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Lula voltou a fazer apelo para
que as pessoas consumam, já
que, para ele, a crise tem um lado "verdadeiro" e um "lado de
pânico, de incerteza".
"Se tivermos medo de comprar, o comércio não vai vender. Se o comércio não vende, a
indústria não produz. E o povo
não comprando, o comércio
não vendendo e a indústria não
produzindo seria o caos econômico em qualquer país", afirmou. "Como sindicalista, sei
que, quando há uma crise e as
empresas não estão vendendo,
não há como brigar para segurar o trabalhador."
O discurso do presidente
provocou a reação de sindicalistas. Para Antonio de Sousa
Ramalho, presidente do Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da
Construção Civil de São Paulo),
filiado à Força Sindical, que estava presente no evento, Lula
cometeu um "deslize". "Tomei
um susto quando ouvi."
De acordo com Ramalho, a
categoria vai reivindicar aumento real de 5% neste ano. O
sindicalista diz ainda que irá
organizar uma paralisação no
dia 27 de abril para pressionar
as empresas.
Adi dos Santos Lima, secretário-geral da CUT-SP (Central
Única dos Trabalhadores de
São Paulo), mais afinada com o
governo, diz "discordar totalmente" de Lula. Para ele, o
crescimento do país nos últimos anos deve-se ao aumento
da renda proporcionada pelo
ganho real dos trabalhadores.
"Trabalhamos com a lógica
de que o aumento do salário aumenta o poder de compra, o
que leva a uma maior produção.
É isso o que faz a economia girar. Não vamos deixar de lado
as reivindicações por aumento
real nos salários", afirmou.
Para o presidente da Força
Sindical, Paulo Pereira da Silva,
Lula "desaprendeu ou então
nos ensinou tudo errado quando era sindicalista". "O consumo movimenta a economia. E
vamos continuar lutando para
haver aumentos."
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