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G20 só mostrará "vontade política", diz FMI
Para diretor-gerente do Fundo, cúpula em Londres não conterá nenhum anúncio novo sobre a crise econômica global
Strauss-Kahn enfatiza
importância de líderes
assumirem o "compromisso
político" de implementar
medidas já acordadas
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O diretor-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn,
admitiu ontem que a cúpula do
G20, a realizar-se na quinta-feira em Londres, não conterá
nenhum anúncio novo sobre a
crise econômica global nem irá
além dos dois comunicados
emitidos pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos
centrais, após a reunião que
mantiveram no dia 14 passado.
Um fracasso à vista, então?
Não, diz Strauss-Kahn: ele acha
relevante o fato de os líderes assumirem o "compromisso político" de implementar o que os
responsáveis diretos pela economia decidiram há três semanas. E que implementem o decidido "muito rapidamente" é
igualmente relevante.
O dirigente do FMI repassou
a agenda básica do Fundo para
a cúpula, em entrevista coletiva
para três cidades (Paris, onde
ele estava, Londres e Washington). Ficou claro que toda ela já
está coberta pela declaração
ministerial e/ou por decisões
individuais de cada governo.
Por partes:
1) Strauss-Kahn diz que o
"ponto mais importante" é a faxina no setor financeiro, entupido de ativos tóxicos. Os ministros da Fazenda e presidentes de BCs também acharam,
tanto que emitiram um comunicado à parte apenas para tratar do assunto.
Além disso, o governo americano anunciou nesta semana o
seu programa para a retirada
dos ativos tóxicos do mercado,
o que Strauss-Kahn considerou
"um passo na direção certa".
Tão importante é a faxina
que o diretor-gerente do Fundo
chegou a dizer que "um dólar
usado para limpar o sistema financeiro é mais útil que um dólar gasto em uma ponte".
A frase mostra significativa
mudança de ênfase: o FMI foi o
primeiro a propor que o G20
adotasse um programa de gasto
público equivalente a 2% do
PIB de cada país para relançar a
economia.
Agora, seu diretor-gerente
lembra que, nas 122 crises bancárias registradas nos 60 anos
de história do Fundo, "nunca
houve recuperação antes da
limpeza do setor financeiro".
2) Strauss-Kahn dá por satisfatório o tamanho dos pacotes
já anunciados, com o que põe
fim à falsa polêmica entre EUA,
supostamente a favor de mais
programas, e a Europa, que
prefere ver os resultados dos
que estão andando.
A polêmica é falsa porque o
comunicado dos ministros, assinado por europeus e americanos indistintamente, fala em
fazer tudo o que for necessário
para reanimar a economia, até
quando for necessário.
Não parece, portanto, haver
espaço para que a cúpula vá
muito além dessa formulação
bastante forte. Mas Strauss-Kahn adverte que, se os pacotes
cobrem bem 2009, pode ser necessário adotar outros para
2010, desde que haja "sustentabilidade fiscal" -ou seja, que os
países que os lancem não estejam atolados em dívidas.
3) Os líderes deveriam comprometer-se com o restabelecimento do fluxo de capitais tanto para os países emergentes
como para os mais pobres, pois
a crise secou o financiamento.
Essa decisão também já está
tomada, tanto que o primeiro-ministro Gordon Brown, anfitrião da cúpula, informou no
Brasil que espera que o encontro de Londres anuncie pelo
menos US$ 100 bilhões para a
retomada dos créditos destinados ao comércio internacional,
estancado em grande medida
por falta de financiamento.
4) Reforma do FMI. Ponto
igualmente decidido, embora
falte especificar de quanto será
o aumento dos recursos para
que o Fundo cumpra uma de
suas funções, a de financiar países em dificuldades.
Strauss-Kahn citou que a cereja desse bolo de prioridades
seria a adoção de novas regras
para a regulação/supervisão do
sistema financeiro. O comunicado dos ministros e presidentes de BCs é rico nesse sentido,
para alegria de europeus e brasileiros: não deixa nenhuma
atividade bancária/financeira
fora do radar, inclusive os paraísos fiscais.
Além disso, o governo americano acaba de anunciar seu
próprio programa de reforma
da supervisão, derrubando a última resistência ideológica, ao
reconhecer que a autorregulação pelos próprios mercados
não funcionou.
Impressão de dinheiro
Os ministros e presidentes
de BCs também anunciaram
"instrumentos não-convencionais" de política monetária que
poderiam ser usados para debelar a crise. O Reino Unido e
os EUA já os estão usando, imprimindo dinheiro para comprar títulos em poder de investidores, na expectativa de que o
utilizem para o financiamento
à demanda, no que seria um
"bypass" nas artérias entupidas
do sistema financeiro.
O diretor-gerente do FMI
disse ontem que o Banco Central Europeu logo tomaria o
mesmo caminho e convidou
outros BCs, citando o do Japão,
a igualmente fazê-lo.
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