São Paulo, sábado, 28 de março de 2009

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G20 só mostrará "vontade política", diz FMI

Para diretor-gerente do Fundo, cúpula em Londres não conterá nenhum anúncio novo sobre a crise econômica global

Strauss-Kahn enfatiza importância de líderes assumirem o "compromisso político" de implementar medidas já acordadas

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, admitiu ontem que a cúpula do G20, a realizar-se na quinta-feira em Londres, não conterá nenhum anúncio novo sobre a crise econômica global nem irá além dos dois comunicados emitidos pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais, após a reunião que mantiveram no dia 14 passado.
Um fracasso à vista, então? Não, diz Strauss-Kahn: ele acha relevante o fato de os líderes assumirem o "compromisso político" de implementar o que os responsáveis diretos pela economia decidiram há três semanas. E que implementem o decidido "muito rapidamente" é igualmente relevante.
O dirigente do FMI repassou a agenda básica do Fundo para a cúpula, em entrevista coletiva para três cidades (Paris, onde ele estava, Londres e Washington). Ficou claro que toda ela já está coberta pela declaração ministerial e/ou por decisões individuais de cada governo.
Por partes:
1) Strauss-Kahn diz que o "ponto mais importante" é a faxina no setor financeiro, entupido de ativos tóxicos. Os ministros da Fazenda e presidentes de BCs também acharam, tanto que emitiram um comunicado à parte apenas para tratar do assunto.
Além disso, o governo americano anunciou nesta semana o seu programa para a retirada dos ativos tóxicos do mercado, o que Strauss-Kahn considerou "um passo na direção certa".
Tão importante é a faxina que o diretor-gerente do Fundo chegou a dizer que "um dólar usado para limpar o sistema financeiro é mais útil que um dólar gasto em uma ponte".
A frase mostra significativa mudança de ênfase: o FMI foi o primeiro a propor que o G20 adotasse um programa de gasto público equivalente a 2% do PIB de cada país para relançar a economia.
Agora, seu diretor-gerente lembra que, nas 122 crises bancárias registradas nos 60 anos de história do Fundo, "nunca houve recuperação antes da limpeza do setor financeiro".
2) Strauss-Kahn dá por satisfatório o tamanho dos pacotes já anunciados, com o que põe fim à falsa polêmica entre EUA, supostamente a favor de mais programas, e a Europa, que prefere ver os resultados dos que estão andando.
A polêmica é falsa porque o comunicado dos ministros, assinado por europeus e americanos indistintamente, fala em fazer tudo o que for necessário para reanimar a economia, até quando for necessário.
Não parece, portanto, haver espaço para que a cúpula vá muito além dessa formulação bastante forte. Mas Strauss-Kahn adverte que, se os pacotes cobrem bem 2009, pode ser necessário adotar outros para 2010, desde que haja "sustentabilidade fiscal" -ou seja, que os países que os lancem não estejam atolados em dívidas.
3) Os líderes deveriam comprometer-se com o restabelecimento do fluxo de capitais tanto para os países emergentes como para os mais pobres, pois a crise secou o financiamento.
Essa decisão também já está tomada, tanto que o primeiro-ministro Gordon Brown, anfitrião da cúpula, informou no Brasil que espera que o encontro de Londres anuncie pelo menos US$ 100 bilhões para a retomada dos créditos destinados ao comércio internacional, estancado em grande medida por falta de financiamento.
4) Reforma do FMI. Ponto igualmente decidido, embora falte especificar de quanto será o aumento dos recursos para que o Fundo cumpra uma de suas funções, a de financiar países em dificuldades.
Strauss-Kahn citou que a cereja desse bolo de prioridades seria a adoção de novas regras para a regulação/supervisão do sistema financeiro. O comunicado dos ministros e presidentes de BCs é rico nesse sentido, para alegria de europeus e brasileiros: não deixa nenhuma atividade bancária/financeira fora do radar, inclusive os paraísos fiscais.
Além disso, o governo americano acaba de anunciar seu próprio programa de reforma da supervisão, derrubando a última resistência ideológica, ao reconhecer que a autorregulação pelos próprios mercados não funcionou.

Impressão de dinheiro
Os ministros e presidentes de BCs também anunciaram "instrumentos não-convencionais" de política monetária que poderiam ser usados para debelar a crise. O Reino Unido e os EUA já os estão usando, imprimindo dinheiro para comprar títulos em poder de investidores, na expectativa de que o utilizem para o financiamento à demanda, no que seria um "bypass" nas artérias entupidas do sistema financeiro.
O diretor-gerente do FMI disse ontem que o Banco Central Europeu logo tomaria o mesmo caminho e convidou outros BCs, citando o do Japão, a igualmente fazê-lo.


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