São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006

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ORTODOXIA

BC fala em "parcimônia" na redução dos juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de sete cortes seguidos nos juros básicos da economia, o Banco Central dá sinais de que o processo de redução da taxa Selic pode se tornar mais lento ou até mesmo ser interrompido. Em documento divulgado ontem, a diretoria do BC afirma que "a flexibilização da política monetária" deve ocorrer com "maior parcimônia" daqui para a frente.
Essas palavras constam da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, na semana passada, reduziu a Selic de 16,50% ao ano para 15,75%. Como já havia ocorrido antes, as "incertezas" em relação ao efeito que a recente queda dos juros terá sobre a economia no futuro foram citadas como justificativa para a maior cautela.
O parágrafo do documento que fala em "maior parcimônia" no corte dos juros foi copiado da ata da reunião que o Copom fez em dezembro de 2003. Naquela ocasião, a situação era parecida com a atual: os juros já haviam sido reduzidos sete vezes seguidas, e especulava-se sobre a continuidade -ou não- dessa queda.
Foi divulgado, então, um texto citando "incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária" para defender que a redução dos juros fosse feita "de forma parcimoniosa". Na primeira reunião do Copom após o documento, a série de corte dos juros foi interrompida.
Não se espera que o BC repita esse comportamento e pare, neste momento, com a redução da Selic. Mas a expectativa é que os cortes sejam menores. O Copom volta a se reunir nos dias 30 e 31 de maio, e analistas se dividem entre a possibilidade de corte de 0,5 e 0,75 ponto percentual nos juros.
O economista Luís Suzigan, da LCA Consultores, diz que ainda acredita num corte de 0,75 ponto no mês que vem: "Os juros poderiam estar mais baixos, mas a trajetória da taxa é consistente com a atitude mais cautelosa que a diretoria do BC tem tido".
Segundo Suzigan, o fato de a taxa Selic estar hoje perto dos níveis mais baixos dos últimos anos deve fazer com que o BC atue com mais cuidado de agora em diante, pois não se sabe ao certo como a economia brasileira reage a essa taxa mais baixa. "Estamos chegando num nível de juro real mais baixo em muitos anos. O BC vai trabalhar num terreno praticamente desconhecido", diz.
Segundo Alexandre Mathias, economista-chefe do Unibanco Asset Management, "parece mais razoável" apostar num corte de 0,50 ponto no próximo encontro do Copom. Mas ele ressalta que, na sua avaliação, o ponto mais importante do texto divulgado ontem é a avaliação bastante positiva feita pelo BC sobre o comportamento da inflação e o crescimento da economia.
"Os juros no Brasil são altos mesmo, mas juros não mudam a vida de ninguém. As variáveis objetivas são o crescimento e a inflação. Os juros são apenas um instrumento para melhorar isso", diz Mathias. A expectativa do mercado é que a taxa Selic encerre o ano próxima de 14%.
De fato, o texto escrito pela diretoria do BC mostra um cenário otimista para a economia brasileira neste ano. No cenário interno, avalia-se que a redução dos juros que tem sido feita desde setembro de 2005 ainda dará um impulso considerável na expansão da economia nos próximos meses, movimento que é favorecido pela expectativa de maiores investimentos das empresas e inflação sob controle.
Do lado do cenário externo, ainda existem dúvidas sobre a continuidade da alta dos juros nos Estados Unidos, além da ameaça da disparada dos preços do petróleo no mercado internacional. O BC considera, porém, que esses riscos não são grandes e não devem afetar muito o Brasil.


Leia a íntegra da ata do Copom


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