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ORTODOXIA
BC fala em "parcimônia" na redução dos juros
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de sete cortes seguidos
nos juros básicos da economia, o
Banco Central dá sinais de que o
processo de redução da taxa Selic
pode se tornar mais lento ou até
mesmo ser interrompido. Em documento divulgado ontem, a diretoria do BC afirma que "a flexibilização da política monetária"
deve ocorrer com "maior parcimônia" daqui para a frente.
Essas palavras constam da ata
da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do
BC), que, na semana passada, reduziu a Selic de 16,50% ao ano para 15,75%. Como já havia ocorrido antes, as "incertezas" em relação ao efeito que a recente queda
dos juros terá sobre a economia
no futuro foram citadas como justificativa para a maior cautela.
O parágrafo do documento que
fala em "maior parcimônia" no
corte dos juros foi copiado da ata
da reunião que o Copom fez em
dezembro de 2003. Naquela ocasião, a situação era parecida com a
atual: os juros já haviam sido reduzidos sete vezes seguidas, e especulava-se sobre a continuidade
-ou não- dessa queda.
Foi divulgado, então, um texto
citando "incertezas que cercam os
mecanismos de transmissão da
política monetária" para defender
que a redução dos juros fosse feita
"de forma parcimoniosa". Na primeira reunião do Copom após o
documento, a série de corte dos
juros foi interrompida.
Não se espera que o BC repita
esse comportamento e pare, neste
momento, com a redução da Selic. Mas a expectativa é que os cortes sejam menores. O Copom volta a se reunir nos dias 30 e 31 de
maio, e analistas se dividem entre
a possibilidade de corte de 0,5 e
0,75 ponto percentual nos juros.
O economista Luís Suzigan, da
LCA Consultores, diz que ainda
acredita num corte de 0,75 ponto
no mês que vem: "Os juros poderiam estar mais baixos, mas a trajetória da taxa é consistente com a
atitude mais cautelosa que a diretoria do BC tem tido".
Segundo Suzigan, o fato de a taxa Selic estar hoje perto dos níveis
mais baixos dos últimos anos deve fazer com que o BC atue com
mais cuidado de agora em diante,
pois não se sabe ao certo como a
economia brasileira reage a essa
taxa mais baixa. "Estamos chegando num nível de juro real mais
baixo em muitos anos. O BC vai
trabalhar num terreno praticamente desconhecido", diz.
Segundo Alexandre Mathias,
economista-chefe do Unibanco
Asset Management, "parece mais
razoável" apostar num corte de
0,50 ponto no próximo encontro
do Copom. Mas ele ressalta que,
na sua avaliação, o ponto mais
importante do texto divulgado
ontem é a avaliação bastante positiva feita pelo BC sobre o comportamento da inflação e o crescimento da economia.
"Os juros no Brasil são altos
mesmo, mas juros não mudam a
vida de ninguém. As variáveis objetivas são o crescimento e a inflação. Os juros são apenas um instrumento para melhorar isso", diz
Mathias. A expectativa do mercado é que a taxa Selic encerre o ano
próxima de 14%.
De fato, o texto escrito pela diretoria do BC mostra um cenário
otimista para a economia brasileira neste ano. No cenário interno,
avalia-se que a redução dos juros
que tem sido feita desde setembro
de 2005 ainda dará um impulso
considerável na expansão da economia nos próximos meses, movimento que é favorecido pela expectativa de maiores investimentos das empresas e inflação sob
controle.
Do lado do cenário externo, ainda existem dúvidas sobre a continuidade da alta dos juros nos Estados Unidos, além da ameaça da
disparada dos preços do petróleo
no mercado internacional. O BC
considera, porém, que esses riscos não são grandes e não devem
afetar muito o Brasil.
Leia a íntegra da ata do Copom
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