São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006 |
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TENSÃO ENTRE VIZINHOS Presidente se queixa a Kirchner e Chávez da "agressividade" do colega boliviano sobre a Petrobras e a EBX Lula diz que atitude de Morales é "inaceitável"
ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA FOLHA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou com os colegas Hugo Chávez, da Venezuela, e Néstor Kirchner, da Argentina, do "nível de agressividade" do boliviano Evo Morales contra empresas brasileiras, notadamente a Petrobras e a EBX, do empresário Eike Batista. Conforme a Folha apurou, Lula aproveitou o encontro de anteontem com os dois colegas latino-americanos, em São Paulo, para advertir que Morales, empossado presidente há apenas três meses, não está indo num bom caminho na Bolívia. Considerou a situação "preocupante" e "inaceitável". A expectativa é que ambos conversem com Morales, apoiado quando candidato por Lula, para esfriar o clima. Enviado em missão do governo brasileiro a La Paz, o secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Guimarães, manteve conversas em diferentes níveis na hierarquia do novo governo boliviano, em que pediu basicamente a abertura de negociações com a Petrobras e a EBX. Ele voltou ontem à noite a Brasília. Informado por Guimarães, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reuniu-se ontem no Planalto com Lula e com o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Entre outras coisas, eles falaram sobre o nível de tensão entre os dois países. Na avaliação do Itamaraty, Morales tem tido posições "radicais e inexplicáveis", pois está praticamente enxotando a EBX e assustando a Petrobras, sempre via imprensa, sem nem sequer ouvir as ponderações de ambas e sem explicar exatamente o que quer. A EBX é acusada de não cumprir normas e exigências do governo boilviano. Já a Petrobras sofre a ameaça da reestatização dos poços de exploração de gás. A orientação do Planalto e do Itamaraty, que Samuel Pinheiro Guimarães aplicou na sua ida a La Paz, foi mostrar o aborrecimento brasileiro e, simultaneamente, a importância da Petrobras para a Bolívia, que só fecha suas contas porque a empresa atua no país. A empresa investiu cerca de US$ 1 bilhão na exploração de gás na Bolívia em 2005 -o PIB do país foi em torno de US$ 8 bilhões. Na prática, é improvável que o vizinho possa sobreviver sem a estatal brasileira. No caso da EBX, apesar do impasse e das ameaças mútuas de Moraes e de Batista, o empresário enviou carta às autoridades bolivianas em que disse, basicamente: 1) que tem todas as licenças exigidas pela lei do país, inclusive a ambiental (o que Morales nega); 2) que não paga impostos porque se instalou numa espécie de zona franca justamente para isso; 3) que, se houver irregularidade, estaria disposto a corrigi-la. Batista, que já investiu US$ 50 milhões na construção de dois fornos de produção de ferro-gusa, também manteve encontros com autoridades de Brasília, como Amorim, Pinheiro Guimarães, Garcia e o subsecretário-geral do Itamaraty para a América do Sul, embaixador José Felício. Em todas as conversas, manifestou-se disposto a dialogar e negociar, reclamando que o governo Morales lhe fechara todas as portas, inclusive de defesa. Impasse A crise chegou a um impasse. Em entrevista ao "Roda Viva", veiculado na segunda pela TV Cultura, Morales disse que a Bolívia vem sendo "saqueada" e praticamente expulsou a empresa. Como resposta, Batista avisou publicamente que a EBX está deixando o país, o que pode levar a uma infindável disputa na Justiça, com o governo boliviano tentando expropriar os fornos -o vice-presidente do país, Álvaro García Linera, disse ao jornal "La Prensa" que o Estado tentará expropriar os investimentos- e o empresário tentando desativá-los para trazê-los de volta ao Brasil. Segundo a Folha apurou, Batista já iniciou conversas com representantes do Itamaraty e do Ministério de Minas e Energia para conseguir transferir dois alto-fornos modulares para o país. A idéia é obter o máximo de apoio possível e sensibilizar o Planalto. A desconfiança do Itamaraty é que, de um lado, Batista pode ter se aproveitado de "buracos" da lei boliviana para instalar os fornos e, de outro, Morales esteja radicalizando como represália à parceria do brasileiro com a família Monastério, adversária ferrenha do novo governo do país. Colaborou Janaina Lage, da Sucursal do Rio Texto Anterior: Óleo cai abaixo de US$ 71 em NY Próximo Texto: Chávez também vira alvo de críticas Índice |
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