São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grécia é rebaixada e Bolsas caem pelo mundo

Agência tira status de grau de investimento do país em meio a temores sobre calote; FMI pode entrar com mais 10 bi, diz jornal

Pacote anunciado na sexta por UE e Fundo pode não ser suficiente para Grécia rolar dívida; Portugal também tem nota rebaixada


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A agência de classificação de risco Standard and Poor's rebaixou ontem a avaliação dos títulos da dívida da Grécia e retirou do país o status de grau de investimento, que serve no mercado como uma espécie de atestado de bom pagador.
O movimento, apenas dois dias úteis após a União Europeia e o FMI anunciarem um pacote de 45 bilhões (R$107 bilhões) para salvar Atenas de um calote e preservar o euro, sinaliza descrédito e alimenta a ansiedade do mercado quando o ágio sobre os bônus gregos já bate recordes.
Apesar das reiteradas promessas de socorro, a Grécia, que só na sexta decidiu lançar mão da oferta, encontra cada dia mais dificuldade para refinanciar os quase 50 bilhões que tem para vencer neste ano.
A S&P rebaixou a avaliação dos títulos com vencimento no longo prazo para BB+ -no jargão, "junk", lixo- com perspectiva de piora. Para os de curto prazo, a classificação é B. Todos os países europeus são pelo menos A.
"O rebaixamento vem de nossa avaliação dos desafios políticos, econômicos e orçamentários que o governo grego enfrenta para colocar a dívida pública em uma trajetória de baixa que se sustente", escreveu o analista Marko Mrsnik em comunicado no site da S&P.
"As opções políticas do governo estão diminuindo diante dos prospectos cada vez mais frágeis de crescimento da economia bem no momento em que a pressão por medidas de ajuste fiscal aumenta", segue o texto, aludindo à dificuldade de impor novos cortes ante a crescente oposição popular.
Foi o suficiente para fazer a Bolsa de Atenas recuar 6%, ressoando em toda a Europa. Londres recuou 2,61%; Paris, 3,82%; Frankfurt, 2,73%. Em Nova York, houve queda de 1,90%. A Bovespa caiu 3,43% (leia ao lado). O euro foi cotado a US$ 1,32, menor nível ante o dólar em cerca de um ano.
Para piorar, a S&P rebaixou a classificação dos papéis de Portugal, outro país com dívida inchada, para A- (ainda grau de investimento e superior à nota brasileira: BBB-).
O movimento indica que as discordâncias dentro da UE sobre o pacote grego ofuscam seu efeito. Enquanto França e Itália pedem urgência, a Alemanha, que deve contribuir com mais da metade da parcela europeia de 30 bilhões, resiste em abrir o cofre diante da forte oposição da opinião pública. Sem aval do Parlamento em Berlim não há pacote.
Além disso, o valor do plano -anunciado após longo vaivém sobre como rachar a conta e a resistência em recorrer ao FMI- mal banca a rolagem neste ano. Só até o fim de maio vencem quase 20 bilhões.
O socorro pode vir exatamente de onde a UE não quer: segundo o "Financial Times", o FMI, que já havia anunciado linha de crédito de 15 bilhões (R$ 36 bilhões) dentro do pacote conjunto, estuda oferecer mais 10 bilhões. O credito seria concedido perante a adoção de mais medidas de arrocho pelo país, obrigado a cortar dez pontos seu deficit fiscal de 13,6% até 2013.


Leia a coluna de Clóvis Rossi

www.folha.com.br/1011718



Texto Anterior: Tecnologia: Jornalista que apresentou o novo iPhone é alvo da polícia
Próximo Texto: Saiba mais: Títulos "Junk" têm alto risco de calote
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.