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PULO DO DRAGÃO
Copom diz, pela 1ª vez, que alta de preços pode superar meta de 5,5% e aponta sinais "inequívocos" de crescimento
BC já admite inflação "ligeiramente" maior
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Inflação "ligeiramente" acima
da meta fixada pelo governo e sinais "inequívocos" de crescimento econômico. Esse é o cenário
traçado pela diretoria do Banco
Central, que, na semana passada,
decidiu manter os juros básicos
em 16% ao ano. O quadro delineado pelo BC sinaliza que, pelo
menos por enquanto, a taxa Selic
não deve sofrer grandes reduções.
Pela primeira vez, o BC admite
que a alta dos preços neste ano
pode ficar acima da meta do governo, fixada em 5,5%. O documento não fala em números, mas
afirma que, se a cotação do dólar
continuar próxima de R$ 3,10 e se
os juros forem mantidos em 16%
ao ano, a inflação deve ficar "ligeiramente acima" desses 5,5%
-embora dentro da margem de
erro de 2,5 pontos.
Num cenário em que se projeta
uma inflação acima das metas,
cortes dos juros ficam mais distantes, ainda mais considerando a
avaliação do BC de que os sinais
de crescimento da economia são
bastante fortes -o que, em tese,
significa que uma redução na taxa
Selic não é tão urgente.
As informações constam na ata
da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do
BC), divulgada ontem. O documento expõe os motivos que levaram o BC a manter os juros inalterados por mais um mês.
Antes da divulgação da ata, o
Ministério da Fazenda já havia estimado em 6,37% o IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo) para este ano, adotando a estimativa média do mercado.
Volatilidade
Na semana passada, quando
anunciou a manutenção da taxa
Selic, o BC divulgou uma nota em
que citava a "volatilidade recente"
no cenário internacional como
justificativa para sua decisão. A
afirmação foi mal recebida por
analistas, que viram na afirmação
uma admissão da fragilidade do
Brasil a choques externos.
Na ata de ontem, o BC deu ênfase a indicadores de atividade econômica que têm apresentado resultados positivos e minimizou os
efeitos que turbulências externas
possam ter sobre o país.
A ação do BC tem sido bastante
criticada por empresários, economistas e aliados do governo que
defendem uma redução mais acelerada dos juros, para que se estimule a retomada do crescimento.
As críticas aumentaram quando,
por dois meses seguidos (janeiro e
fevereiro), foi interrompida a seqüência de cortes na Selic.
Na ata, o BC cita as maiores vendas no varejo e na indústria como
sinais de que a economia está se
recuperando, "a despeito dos temores bastante difundidos" de
que a manutenção dos juros pudesse prejudicar o processo. "Os
indicadores de nível de atividade,
inclusive os referentes ao mercado de trabalho, têm dado testemunho inequívoco do quadro de
recuperação sustentada da economia brasileira", afirma.
Apesar de o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) apontar taxas de desemprego
recorde, o BC diz que o número
de postos de trabalho criados no
mercado formal também tem registrado crescimento recorde.
Em relação ao cenário externo,
o BC afirma que "há razões para
crer que o desempenho das exportações brasileiras não venha a
ser fortemente afetado" por uma
eventual desaceleração da economia chinesa. Diz também que as
turbulências causadas pela perspectiva de aumento nos juros
norte-americanos "tendem a se
dissipar no médio prazo" e que os
preços do petróleo devem apresentar "alguma acomodação" nos
próximos meses.
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