São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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PULO DO DRAGÃO

Copom diz, pela 1ª vez, que alta de preços pode superar meta de 5,5% e aponta sinais "inequívocos" de crescimento

BC já admite inflação "ligeiramente" maior

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Inflação "ligeiramente" acima da meta fixada pelo governo e sinais "inequívocos" de crescimento econômico. Esse é o cenário traçado pela diretoria do Banco Central, que, na semana passada, decidiu manter os juros básicos em 16% ao ano. O quadro delineado pelo BC sinaliza que, pelo menos por enquanto, a taxa Selic não deve sofrer grandes reduções.
Pela primeira vez, o BC admite que a alta dos preços neste ano pode ficar acima da meta do governo, fixada em 5,5%. O documento não fala em números, mas afirma que, se a cotação do dólar continuar próxima de R$ 3,10 e se os juros forem mantidos em 16% ao ano, a inflação deve ficar "ligeiramente acima" desses 5,5% -embora dentro da margem de erro de 2,5 pontos.
Num cenário em que se projeta uma inflação acima das metas, cortes dos juros ficam mais distantes, ainda mais considerando a avaliação do BC de que os sinais de crescimento da economia são bastante fortes -o que, em tese, significa que uma redução na taxa Selic não é tão urgente.
As informações constam na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), divulgada ontem. O documento expõe os motivos que levaram o BC a manter os juros inalterados por mais um mês.
Antes da divulgação da ata, o Ministério da Fazenda já havia estimado em 6,37% o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para este ano, adotando a estimativa média do mercado.

Volatilidade
Na semana passada, quando anunciou a manutenção da taxa Selic, o BC divulgou uma nota em que citava a "volatilidade recente" no cenário internacional como justificativa para sua decisão. A afirmação foi mal recebida por analistas, que viram na afirmação uma admissão da fragilidade do Brasil a choques externos.
Na ata de ontem, o BC deu ênfase a indicadores de atividade econômica que têm apresentado resultados positivos e minimizou os efeitos que turbulências externas possam ter sobre o país.
A ação do BC tem sido bastante criticada por empresários, economistas e aliados do governo que defendem uma redução mais acelerada dos juros, para que se estimule a retomada do crescimento. As críticas aumentaram quando, por dois meses seguidos (janeiro e fevereiro), foi interrompida a seqüência de cortes na Selic.
Na ata, o BC cita as maiores vendas no varejo e na indústria como sinais de que a economia está se recuperando, "a despeito dos temores bastante difundidos" de que a manutenção dos juros pudesse prejudicar o processo. "Os indicadores de nível de atividade, inclusive os referentes ao mercado de trabalho, têm dado testemunho inequívoco do quadro de recuperação sustentada da economia brasileira", afirma.
Apesar de o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontar taxas de desemprego recorde, o BC diz que o número de postos de trabalho criados no mercado formal também tem registrado crescimento recorde.
Em relação ao cenário externo, o BC afirma que "há razões para crer que o desempenho das exportações brasileiras não venha a ser fortemente afetado" por uma eventual desaceleração da economia chinesa. Diz também que as turbulências causadas pela perspectiva de aumento nos juros norte-americanos "tendem a se dissipar no médio prazo" e que os preços do petróleo devem apresentar "alguma acomodação" nos próximos meses.


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