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JORGE GERDAU JOHANNPETER
Por que a China cresce mais que o Brasil?
Países com poupança em torno de 20% do PIB, como o Brasil, não conseguem crescer mais de 2,5% ao ano
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TODOS OS dias, jornais estampam notícias sobre o crescimento econômico da China,
sob os mais diversos enfoques. São
produtos que ganham espaço no
mercado, movimentos setoriais de
consolidação para aumento de escala
ante a competição global e definições
de política monetária, entre outros
temas. No entanto questões estruturais, que justificam as diferenças entre o desempenho econômico do
Brasil e da China, merecem uma análise mais aprofundada. Evidentemente são países muito diferentes
-do ponto de vista cultural, social e
político. Entretanto a equação para o
crescimento é comum para ambos e
passa por investimentos em inovação tecnológica, acúmulo de capital
humano e eficiência dos investimentos públicos e privados.
No entanto pouco se explora a relação do aumento da poupança com
o crescimento sustentável dos países. Estudos do Banco Mundial
apontaram que países com poupança
ao redor de 20% do PIB não conseguem superar a barreira de 2,5% de
crescimento econômico por ano. Esse, sem dúvida, é o caso do Brasil. Estamos amarrados ao baixo nível de
poupança. Por mais de 20 anos o percentual médio de crescimento do
PIB tem sido de 2,5%, enquanto a
poupança tem atingido níveis abaixo
de 20% do PIB. Desse total, a poupança privada interna situou-se em
cerca de 19% e a externa variou de 5%
a -1% no período.
É a poupança pública que explica
parte da diferença na performance
entre os dois países. A contribuição
do Estado brasileiro para a poupança
nacional, nos últimos 20 anos, tem
sido nula ou até negativa, com o setor
privado transferindo recursos para o
governo. A forma de financiamento
desse déficit do governo, por meio de
pesada carga tributária e de elevados
juros, onera os setores produtivos e
emperra o crescimento.
Uma referência teórica para estimarmos o crescimento econômico
mínimo necessário no Brasil é a taxa
de crescimento da população economicamente ativa, que, desde a década de 80, tem sido ao redor de 3% ao
ano. Some-se a isso o aumento da
produtividade industrial e agropecuária, no mínimo, de 1% ao ano, que
reduz a necessidade de mão-de-obra,
e o crescimento anual da economia
capaz de absorver todas essas pessoas deveria ser de cerca de 5%.
A China, hoje, tem poupança superior a 45% do PIB, o que viabiliza taxas médias de crescimento de 9% ao
ano. Os patamares de poupança pública alcançam 10%, e a poupança
privada, interna e externa, responde
por mais de 30%. Como resultado, há
elevados investimentos em ativos fixos e incentivos para a atração de investimentos externos diretos.
No Brasil, a saída é transformar a
gestão do setor público. É preciso aumentar a eficiência dos governos, ou
seja, fazer mais com menos, gerindo
as despesas de forma a desonerar as
contas governamentais. É importante que decisões sejam tomadas
para corrigir problemas estruturais,
escapando de armadilhas decorrentes da histórica condução de políticas econômicas. Por exemplo: deveria haver uma meta de poupança pública em relação à arrecadação, assim como existem percentuais estabelecidos de destinação de recursos
para a educação e a saúde.
Enquanto os congressistas e os
candidatos à Presidência não se
conscientizarem disso, só medidas
paliativas continuarão sendo tomadas. O Brasil precisa superar o nível
de 20% de poupança sobre o PIB e
atingir patamares de 25% a 30%. Para isso, é fundamental criar consciência coletiva clara sobre o caminho que o país deseja seguir, capaz
de gerar crescimento e empregos.
JORGE GERDAU JOHANNPETER, 69, é presidente do Grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil
Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
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