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Débito sobe 250% desde 95, aponta deputado
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
A MP (medida provisória) da
dívida agrícola saiu do forno às
vésperas do cultivo de inverno,
em que se destaca o trigo, um
dos produtos classificados como "sensíveis" pelo ministro da
Agricultura, Reinhold Stephanes, para a economia do país.
Para cada saca que o Brasil
produz de trigo, duas são importadas. Com o anúncio da renegociação dos débitos rurais,
o governo espera ter acertado
no timing do alívio financeiro
para estimular o setor a elevar
em 20% a produção nacional
do cereal.
O governo Lula pretende lançar outras medidas no plano de
safra, prometido para o próximo mês, para consolidar uma
colheita de inverno mais robusta e preparar o caminho para
que as próximas lavouras de verão também cresçam, aproveitando este momento de commodities valorizadas.
Apenas se a demanda e os
preços nos campos se mantiverem em alta, será possível esperar que a nova renegociação saneie as finanças do setor, afirma o deputado federal Homero
Pereira (PR-MT), presidente
da Comissão Nacional de Endividamento da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil).
Segundo Márcio Lopes de
Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, "o processo [de reestruturação das dívidas] contempla
boa parte das questões" levantadas pelo setor.
Os representantes da produção se queixam dos impactos
dos sucessivos planos econômicos desde o Cruzado, em
1986, sobre as contas dos agricultores. "Passados 13 anos
[desde 1995, início do primeiro
mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso], as
dívidas passaram de R$ 25 bilhões para R$ 87,5 bilhões",
afirma Pereira.
Para o deputado, integrante
da bancada ruralista, os números devem ser mostrados como
argumento de que essa renegociação não representa privilégio, mesmo com a valorização
dos produtos agrícolas. "A agricultura contribuiu para a estabilização da economia, com o
superávit da balança comercial.
A opinião pública deveria nos
apoiar. Nos países desenvolvidos, o setor tem tratamento diferenciado até por segurança
alimentar", diz Pereira.
Preços e custos
Para José Carlos Hausknecht, diretor da MB Agro Consultoria, "com certeza a opinião
pública vai achar estranho [o
anúncio da renegociação], com
os preços excelentes [para os
produtos agrícolas]".
Hausknecht ressalta, porém,
que "os custos de produção
também estão em alta. O câmbio [pela valorização do real]
também não ajuda".
Para ele, a situação é mais delicada nas regiões consideradas
distantes, em que a precariedade da infra-estrutura é outro fator de pressão. "Em áreas mais
próximas de centros consumidores e de portos para exportação, não faz sentido uma ajuda
mais significativa. É preciso haver um critério para beneficiar
quem de fato precisa", afirma.
"Os custos no campo subiram na mesma proporção da alta dos alimentos", diz Leonardo
Sologuren, diretor da Céleres
Consultoria. Segundo ele, desde 2000, os gastos para produzir grãos no país avançaram
75%, em média. Enquanto o
preço do barril do petróleo não
baixar, não há como reduzir as
despesas com insumos essenciais, como fertilizantes, diz.
Sologuren aponta a necessidade de a renegociação de alguma forma alcançar o endividamento dos agricultores com os
financiadores do setor privado,
como tradings e distribuidores,
além de fornecedores de sementes e agroquímicos.
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