São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 2002

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LUÍS NASSIF

O analista Constantin e o Brasil

Quem faz a cabeça dos investidores internacionais? A historinha abaixo -verídica- explica um pouco o porquê de o mercado julgar que o Brasil tem risco maior que a Nigéria ou do que a própria Colômbia conflagrada.
Constantin Menges se apresenta como "analista de temas internacionais para o governo norte-americano, no período 1983-1986". Não existe nada sobre ele na internet, sinal de que ou é muito reservado ou muito irrelevante.
No dia 21 de junho ele foi um dos três analistas contratados pela Prudencial Securities para uma "conference call" com analistas do mundo inteiro. O sujeito recebia um número de telefone, o 706-645-9291, e uma senha. E tinha direito de ouvir e de perguntar a Constantin, o analista político.
Logo de início, Constantin, o cartesiano, anunciou que se recusava a tratar o candidato do PT por Lula, porque pareceria muito carinhoso. Seria Mr. Silva. Sua avaliação sobre Mr. Silva é definitiva. "O radicalismo de Silva e do seu partido preocupa, e é evidente que ele fará um governo muito parecido com o de Hugo Chávez, se for eleito."
Assim como Chávez, na visão de Constantin, Lula se aliará a países terroristas, como Irã, Iraque e Cuba. E fará treinamento de guerrilha conjuntamente com as Farc, na Colômbia. O atilado Constantin assegura que Mr. Silva tem participado de encontros com outros líderes comunistas e discutido temas militares com Fidel Castro e Chávez. "Mas todo esse radicalismo ficou escondido depois que ele fez a barba, usou terno e escolheu um empresário para vice presidente."
Como todo cientista isento e racional, Constantin trabalha com indicadores. Segundo eles, as chances de Mr. Silva vencer são de 60% e as de ele declarar "default" da dívida depois da vitória são de 80%.
O conselho de Constantin é que o presidente George W. Bush negue visto de entrada a Lula em território norte-americano e declare ao mundo que Mr. Silva apóia o terrorismo.
Indagado por um dos presentes se os militares poderiam impedir a posse de Lula, Constantin foi taxativo: "Fontes muito seguras me disseram que Silva e o PT estão treinando militarmente o MST (parceiro mais radical deles) com as Farc. De 80 mil a 100 mil homens do MST estarão prontos para cercar as bases operacionais dos militares se eles ameaçarem fazer alguma coisa".
Qual a saída para a democracia ocidental? "Às vezes, é preciso fazer uma intervenção militar para remover o radicalismo e restabelecer a democracia. Nesses casos, a intervenção militar é justificável."
A Prudencial Securities é uma das maiores seguradoras do mundo. E a eminente zebra listrada, de nome Constantin, é a prova cabal da enorme consistência das análises do mercado internacional.
A exuberante imaginação do Constantin ainda está disponível no mesmo telefone, para quem possua senha de acesso.

Os C-Bond
O Diretor da Área Internacional do Banco Central, Beny Parnes, entra em contato para justificar a operação de compras de C-Bond pelo BC -bastante criticada no mercado pela falta de transparência.
Segundo ele, o mercado de C-Bond é o mais líquido dentre os títulos de países emergentes, movimentando pelo menos US$ 500 milhões ao dia. O Banco Central já cumpriu suas metas de captação neste ano.
Desde o início do ano, a maior preocupação do banco era com os vencimentos de 2003 e 2004, que estão acima da média. São US$ 4,5 bilhões em 2003 e US$ 6,7 bilhões em 2004, com impacto direto sobre as reservas.
O que o Banco Central fez foi quitar antecipadamente a dívida aproveitando os preços absolutamente irreais do papel na semana passada. No plano financeiro, fez um belo negócio, já que a aplicação renderá 20% ao ano.
Sua primeira intenção foi reduzir a pressão de vencimento nos próximos anos. Subsidiariamente foi demonstrar a confiança do Banco Central nos seus próprios papéis. Pela natureza da operação, diz ele, obviamente não se pode revelar seus detalhes. O BC anunciou que dispõe de US$ 3 bilhões para operar esses mercados, mas poderá aumentar o valor.
Mas que deixou o mercado inquieto deixou.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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