São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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DEZ ANOS DE REAL

Preços sob controle e juros maiores criam ambiente para a proliferação das opções de investimento, que rendem acima da inflação

Mercado de fundos experimenta boom

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de fundos de investimentos cresceu com ímpeto desde a adoção do Plano Real. Houve, nos últimos dez anos, a proliferação de produtos financeiros oferecidos aos investidores e um aumento no número de fundos.
Analistas apontam fatores como o controle da inflação e a manutenção dos juros elevados como fomentadores do processo.
O número de fundos disponíveis no mercado saltou de 91 em 1993 (ano anterior à criação do real) para 4.794 neste ano, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Já o patrimônio líqüido dos fundos passou de R$ 98,7 bilhões em 93 para R$ 542,4 bilhões agora.
Marcelo D'Agosto, sócio do site Fortuna, que faz análise das aplicações, afirma que a criação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, que entrou em vigor em 97) ajudou a dar fôlego aos fundos.
Os CDBs -então importante aplicação no período e que passou a ter a cobrança da CPMF- perderam, apenas em janeiro de 97, R$ 7,5 bilhões líqüidos, que migraram, em grande parte, para fundos isentos do tributo.
"O controle da inflação permitiu que as pessoas passassem a planejar seus investimentos pensando dois, três anos à frente. Antes, isso era impossível", diz Ricardo Magalhães, gestor da Mellon Global Investments.
Ganhar da inflação nos primeiros dez anos do Real não foi tarefa das mais difíceis para quem aplicou suas economias, independentemente do tipo de investimento.
Até mesmo a caderneta de poupança, considerada a aplicação mais ao gosto dos conservadores, acumulou rentabilidade de 352% no período, segundo a consultoria Economática. Quem tivesse aplicado R$ 10 mil em junho de 94 na poupança -e não tivesse mexido até hoje- contaria atualmente com R$ 45,2 mil.
A inflação, pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), subiu 167% nos últimos dez anos.
Há aplicações que foram criadas ou só ganharam espaço no mercado após 94, mas que, mesmo assim, tiveram ganho bem acima da inflação desde então.
Os fundos cambiais, por exemplo, registraram rentabilidade média acumulada de 580,4% entre o fim de 95 e junho deste ano. Além de acompanharem a variação do dólar (sendo formados principalmente por títulos que seguem o sobe-e-desce da moeda), os fundos cambiais ainda rendem juros. Do fim de julho de 94 até a última sexta-feira, o dólar subiu 230,9% diante do real.
"Os administradores aproveitaram o maior interesse e a crescente procura por fundos de investimentos a partir da segunda metade da década de 90 para lançar novos produtos", diz Marcos De Callis, diretor de investimentos da HSBC Asset Management.
Apesar de o balanço ser positivo na indústria de fundos, o mercado passou por alguns traumas.
Em maio de 2002, quando o governo resolveu alterar as regras de contabilização dos títulos que formam os fundos, o mercado passou por grande turbulência.
Muitos fundos, principalmente no segmento dos DI e de renda fixa, perderam rentabilidade, chegando a ficar no vermelho. Um grande número de investidores sacou os recursos aplicados em fundos, com medo de prejuízos.
O resultado foi uma captação líqüida (diferença entre saques e aplicações) negativa de R$ 60 bilhões em 2002.


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