São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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ESPECIAL SEGUROS

Movido pela insegurança maior, setor cresce, mas ainda trabalha com baixos volumes, preços altos e sofre reclamações de clientes

Consumidor quer proteção e vê novos riscos

LUCIANO MARTINS COSTA
FREE-LANCER PARA A FOLHA

O aumento da insegurança, nas ruas, no emprego e até dentro de casa, fez crescer a venda de seguros que cobrem os mais variados riscos e temores do brasileiro. No ano passado, a venda de seguros cresceu 24% em relação a 2002.
A expansão, entretanto, acontece em meio a conflitos regulatórios -no caso dos planos de saúde- e à desconfiança do consumidor de que está pagando muito caro pela proteção de seus bens e de sua família.
O mercado de seguros ainda é pequeno frente ao dos EUA, onde a grande demanda e a oferta variada de produtos permitem às seguradoras praticarem preços que equivalem, em alguns casos, a um décimo dos nacionais -caso dos seguros de vida.
A competição acirrada pela superexploração de um mercado restrito produz para o consumidor riscos diferentes dos que pretendem prevenir com o seguro. Cada ramo exige um cuidado especial na hora do contrato.
Os números da Susep (Superintendência de Seguros Privados) e uma pesquisa concluída recentemente pela consultoria E-Consulting Corp, especializada em análise de desempenho da economia digital, indicam que as seguradoras sofrem uma crise sistêmica e vêem diminuir suas margens de lucros.
O setor cresceu, arrecadou R$ 37,3 bilhões em 2003, contra pouco mais de R$ 30 bilhões em 2002, e tem projeção de mais de R$ 40 bilhões para este ano. Mas tem uma contradição em termos de negócio: vende um serviço que nenhuma das partes quer utilizar. Não pode "fidelizar" o cliente, porque arbitra os contratos usando a falta de informação do contratante, e se alimenta das vulnerabilidades da sociedade.
Segundo Daniel Domeneghetti, diretor da E-Consulting Corp, o setor só vai alcançar a sustentabilidade com um movimento sistêmico e inovador que leve em conta as pressões por maior integração socioeconômica e por maior transparência nos negócios -buscando a segmentação extremada, investindo em Tecnologia da Informação e criando alternativas para a inclusão do consumidor de baixa renda.
Já existem casos bem-sucedidos, como a carteira criada há 15 anos em Minas Gerais, que tem quase 900 mil segurados no país.
O baixo nível da atividade econômica prejudicou diversos ramos, como o de automóveis, que, considerado o aumento da frota, teve queda de 12%, enquanto os sinistros em geral cresceram 16,3% de janeiro a novembro de 2003 na comparação com igual período de 2002, tendo as seguradoras desembolsado R$ 16 bilhões com indenizações.
Mesmo assim, o estudo considera que o setor tem espaço para aumentar a receita, hoje em torno de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). A população segurada corresponde a 11,5% dos 170 milhões de brasileiros e pode chegar aos 15% em cinco anos.
Um dos campeões de queixas nos institutos de defesa do consumidor, o setor sofre, por outro lado, com altos índices de fraudes. Em 2003, o sistema perdeu cerca de R$ 4,5 bilhões por conta de declarações falsas, identificações trocadas e outras irregularidades, que afetam principalmente os ramos de saúde e veículos.
O esforço que as empresas de seguro-saúde estão fazendo para induzir 21,5 milhões de clientes antigos a migrar para novos contratos baseados na Lei 9656/98, por exemplo, tem causado desconfiança e rejeição da maioria dos consumidores.
As seguradoras também buscam novos nichos, que, em outros países, produzem resultados, como o seguro de responsabilidade civil profissional e o de animais.
A diversidade das percepções de risco é outro aspecto que desafia a criatividade do setor. Do cientista que coloca seu cérebro no seguro à candidata a celebridade que garante as nádegas, o mercado abre possibilidades variadas em torno dos chamados riscos especiais, muitos dos quais considerados exóticos.
A onda de misticismo observado em 1999 levou 15 mil mulheres na Europa a se prevenir contra a concepção involuntária do Messias ou do AntiCristo na virada do milênio. A seguradora Goodfellows, de Londres, vendeu na época 40 mil apólices para pessoas que temiam ser abduzidas e engravidadas por alienígenas.


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