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ESPECIAL SEGUROS
Movido pela insegurança maior, setor cresce, mas ainda trabalha com baixos volumes, preços altos e sofre reclamações de clientes
Consumidor quer proteção e vê novos riscos
LUCIANO MARTINS COSTA
FREE-LANCER PARA A FOLHA
O aumento da insegurança, nas
ruas, no emprego e até dentro de
casa, fez crescer a venda de seguros que cobrem os mais variados
riscos e temores do brasileiro. No
ano passado, a venda de seguros
cresceu 24% em relação a 2002.
A expansão, entretanto, acontece em meio a conflitos regulatórios -no caso dos planos de saúde- e à desconfiança do consumidor de que está pagando muito
caro pela proteção de seus bens e
de sua família.
O mercado de seguros ainda é
pequeno frente ao dos EUA, onde
a grande demanda e a oferta variada de produtos permitem às
seguradoras praticarem preços
que equivalem, em alguns casos, a
um décimo dos nacionais -caso
dos seguros de vida.
A competição acirrada pela
superexploração de um mercado
restrito produz para o consumidor riscos diferentes dos que pretendem prevenir com o seguro.
Cada ramo exige um cuidado especial na hora do contrato.
Os números da Susep (Superintendência de Seguros Privados) e
uma pesquisa concluída recentemente pela consultoria E-Consulting Corp, especializada em análise de desempenho da economia
digital, indicam que as seguradoras sofrem uma crise sistêmica e
vêem diminuir suas margens de
lucros.
O setor cresceu, arrecadou
R$ 37,3 bilhões em 2003, contra
pouco mais de R$ 30 bilhões em
2002, e tem projeção de mais de
R$ 40 bilhões para este ano. Mas
tem uma contradição em termos
de negócio: vende um serviço que
nenhuma das partes quer utilizar.
Não pode "fidelizar" o cliente,
porque arbitra os contratos usando a falta de informação do contratante, e se alimenta das vulnerabilidades da sociedade.
Segundo Daniel Domeneghetti, diretor da E-Consulting
Corp, o setor só vai alcançar a sustentabilidade com um movimento sistêmico e inovador que leve
em conta as pressões por maior
integração socioeconômica e por
maior transparência nos negócios
-buscando a segmentação extremada, investindo em Tecnologia da Informação e criando alternativas para a inclusão do consumidor de baixa renda.
Já existem casos bem-sucedidos, como a carteira criada há 15
anos em Minas Gerais, que tem
quase 900 mil segurados no país.
O baixo nível da atividade
econômica prejudicou diversos
ramos, como o de automóveis,
que, considerado o aumento da
frota, teve queda de 12%, enquanto os sinistros em geral cresceram
16,3% de janeiro a novembro de
2003 na comparação com igual
período de 2002, tendo as seguradoras desembolsado R$ 16 bilhões com indenizações.
Mesmo assim, o estudo considera que o setor tem espaço para
aumentar a receita, hoje em torno
de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). A população segurada
corresponde a 11,5% dos 170 milhões de brasileiros e pode chegar
aos 15% em cinco anos.
Um dos campeões de queixas
nos institutos de defesa do consumidor, o setor sofre, por outro lado, com altos índices de fraudes.
Em 2003, o sistema perdeu cerca
de R$ 4,5 bilhões por conta de declarações falsas, identificações
trocadas e outras irregularidades,
que afetam principalmente os ramos de saúde e veículos.
O esforço que as empresas de
seguro-saúde estão fazendo para
induzir 21,5 milhões de clientes
antigos a migrar para novos contratos baseados na Lei 9656/98,
por exemplo, tem causado desconfiança e rejeição da maioria
dos consumidores.
As seguradoras também buscam novos nichos, que, em outros
países, produzem resultados, como o seguro de responsabilidade
civil profissional e o de animais.
A diversidade das percepções
de risco é outro aspecto que desafia a criatividade do setor. Do
cientista que coloca seu cérebro
no seguro à candidata a celebridade que garante as nádegas, o mercado abre possibilidades variadas
em torno dos chamados riscos especiais, muitos dos quais considerados exóticos.
A onda de misticismo observado em 1999 levou 15 mil mulheres na Europa a se prevenir contra
a concepção involuntária do Messias ou do AntiCristo na virada do
milênio. A seguradora Goodfellows, de Londres, vendeu na época 40 mil apólices para pessoas
que temiam ser abduzidas e engravidadas por alienígenas.
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