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SEGURO NO DIVÃ
Mercado oferece opção de resgate do investimento em caso de sobrevivência após um prazo determinado; mas custo é elevado
Medo da morte encolhe carteira de vida
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado financeiro descobriu uma forma de lidar com a negação da morte -que breca a expansão das carteiras de seguro de
vida - longe dos divãs dos analistas. Na contramão de outros ramos do mercado, as receitas dessa
carteira caíram 33% no ano passado, em relação a 2002.
"As pessoas negam sua mortalidade, por isso é difícil a venda dos
seguros tradicionais que cobrem
o risco de vida", diz Ronan Rezende, gerente de produtos da Metlife. Para quem se recusa a encarar
a própria finitude, algumas seguradoras oferecem a opção de devolver parte dos valores aplicados
se o cliente sobreviver após um
prazo determinado.
São os seguros resgatáveis, contratados por períodos fixos que
variam de cinco a 30 anos. Na
maioria dos casos, entretanto, o
prazo máximo para resgate existente no mercado é de 10 anos.
Nesses seguros, uma parte do
dinheiro aplicado mensalmente é
reservada para cobrir o risco de
morte (mais invalidez e outras coberturas adicionais contratadas).
O restante vai para um fundo de
investimento e será capitalizado.
Parte da reserva do fundo é resgatada no fim do contrato pelo segurado - o montante devolvido
varia segundo a seguradora. Consultores financeiros, entretanto,
não recomendam o produto.
É que, se fica caro cobrir o risco
de morte, como fazem os seguros
de vida tradicionais, dar garantias
à sobrevivência por um prazo
longo fica mais caro ainda. "É
muito mais barato fazer um seguro de vida simples, de preferência
em grupo, e complementar com
um plano de previdência privada", diz o planejador financeiro
Louis Frankenberg, da Personal
Financial Planning.
Custos altos
Por falta de renda e de uma cultura de prevenção, o mercado
brasileiro ainda sofre pela escala
reduzida, o que encarece os seguros de vida - tanto os tradicionais como os resgatáveis.
"Os seguros tradicionais, aqueles que a pessoa paga a vida toda
para que a família receba uma indenização em caso de morte do titular, são 30% mais caros no Brasil do que nos EUA", diz Walter
Hime, diretor da Aon Consulting,
uma das cinco maiores consultorias em benefícios e recursos humanos do mundo.
Esses seguros são contratados
por tempo indeterminado: as
apólices são renovadas e corrigidas pela inflação anualmente. Se a
pessoa quiser desistir, terá de pedir o cancelamento da apólice.
Nesse caso, tudo que aplicou fica
com a seguradora.
Há duas formas de contratação:
em grupo (funcionários de uma
empresa, categoria profissional e
"clubes" formados por algumas
seguradoras) ou individual.
O valor a ser pago mensalmente
depende da idade da pessoa e da
indenização contratada. No modelo tradicional, quanto mais jovem for o segurado, menor será o
valor da aplicação mensal. O problema é que de cinco em cinco
anos ocorre o reenquadramento
por faixa etária e o valor da mensalidade dá um salto.
"À medida que a pessoa envelhece, aumentam o risco de morte
e o valor das mensalidades. Muitos acabam "expulsos" do seguro,
pois não conseguem mais pagar",
diz Marcos Antonio Simões Peres, coordenador da área de vida e
previdência do departamento técnico e atuarial da Susep (Superintendência de Seguros Privados).
Já os seguros resgatáveis são
contratados individualmente por
prazo determinado e têm prestações constantes, mas pecam pelos
valores altos dos aportes. Parte
dos recursos aplicados formará
uma reserva que será corrigida
pela inflação e renderá juros.
Além do valor da indenização
contratada e da idade da pessoa, o
preço é definido pelo percentual
de resgate da reserva financeira
que cada seguradora garante.
Transparência
Outro problema dos seguros de
vida resgatáveis é a pouca transparência, segundo o consultor Silvio Paixão, sócio do site Financenter. "O investidor não sabe
qual é a taxa que a seguradora cobra, na parcela dos recursos que
vai compor a reserva para o seguro, e na que vai para investimentos", observa.
Peres, da Susep, diz que todos os
seguros de vida têm taxa de carregamento que pode chegar a 30%,
de acordo com as normas do órgão regulador. "A diferença é que,
nos seguros resgatáveis, a taxa é
explícita e nos tradicionais é implícita", diz ele. Essa taxa incide
sobre cada aporte mensal.
Assim, quem aplicar R$ 100 por
mês em um seguro de vida tradicional ou resgatável, poderá deixar até R$ 30 para cobrir os custos
de corretagem e administrativos
mais o lucro da seguradora. Além
disso, pagará mais 7% de IOF.
Nos seguros contratados em grupo não há limite para a taxa de
carregamento. "As normas são de
1992 e estão defasadas", diz Peres.
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