São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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Investimento menor afeta serviço, diz Anatel

Para agência, recursos aplicados pela Telefônica em infraestrutura não foram suficientes para sustentar expansão da base de clientes

Empresa nega que problemas estejam relacionados à falta de investimento; BNDES prevê procura menor das teles por financiamentos

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase um ano após a primeira pane do Speedy, o serviço da Telefônica de acesso à internet em banda larga, conselheiros da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) chegaram a uma conclusão: os investimentos em infraestrutura não acompanharam o crescimento da base de assinantes.
Na quarta passada, a conselheira Emilia Ribeiro afirmou, durante um evento em São Paulo, que a rede da Telefônica está saturada e, segundo ela, a concessionária "não poderia oferecer o Speedy nem de graça". "A demanda é maior que a oferta", disse Ribeiro. Por isso, a agência proibiu a Telefônica de vender o Speedy até que a empresa comprove a estabilidade de sua rede.
No mesmo dia, a AET (Associação dos Engenheiros de Telecomunicações) enviou carta ao presidente do Conselho Consultivo da Anatel, Átila Augusto Souto, detalhando os problemas da Telefônica e fazendo recomendações, a pedido da própria Anatel.
"A falta de investimento é um dos principais gargalos", afirmou à Folha Ruy Bottesi, presidente da AET. "A Telefônica recebeu R$ 2 bilhões do BNDES para investimentos na rede. Os fornecedores de equipamentos e os integradores aguardavam as encomendas, que não aconteceram na mesma proporção."
O presidente da Telefônica, Antônio Carlos Valente, nega que os problemas na rede da empresa estejam relacionados à falta de investimento (leia texto ao lado).
Segundo Bottesi, pressionada por resultados financeiros, principalmente pelo aumento da lucratividade, a Telefônica decidiu cortar custos e investimentos. Uma das estratégias foi a compra de equipamentos mais baratos.
"Muitas vezes, esses aparelhos não "conversam" entre si", diz Bottesi. "Nesse caso, é preciso integrá-los com softwares específicos que funcionam como tradutores para que as conexões se estabeleçam."
Mesmo assim, as chances de conflitos são grandes e, quando eles acontecem, a rede fica instável. Resultado para o assinante: queda na velocidade da internet e, em casos extremos, interrupção do serviço.
O problema se agrava porque, ainda segundo Bottesi, a quantidade desses equipamentos em funcionamento passou a tomar capacidade da rede. "Ela deveria ser usada para atender os clientes, principalmente usuários de internet, e está sendo usada para alimentar o funcionamento dos equipamentos da própria rede", diz. "Não é à toa que a Telefônica garante em contrato só 10% da velocidade de navegação ao cliente. Ela precisa usar essa diferença para outras tarefas.
Para ele, com a redução dos investimentos e a expansão da base de clientes, as chances de novas panes são maiores. Além disso, Bottesi afirma que a operadora cortou seus quadros de engenheiros pela metade, desde a privatização do Sistema Telebrás, e terceirizou a manutenção de áreas estratégicas, como a atualização dos softwares da rede por onde ela presta serviços, desde chamadas telefônicas até o acesso à internet.

Desaceleração
No ano passado, o BNDES liberou R$ 17,5 bilhões para as operadoras (fixas e móveis) investirem em infraestrutura. Levantamento da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações, revela que as teles investiram R$ 16,15 bilhões, uma diferença de R$ 1,35 bilhão em relação ao valor desembolsado pelo banco em 2008. Uma parte dessa diferença pode ter sido usada na rede de acesso à internet, mas as operadoras não abrem esses números, considerados estratégicos.
O BNDES prevê que, neste ano, a demanda das teles por crédito para investimento será 20% menor e atingirá R$ 14 bilhões. A crise financeira, que elevou as dívidas das operadoras, é um dos motivos da revisão dos investimentos. Mas os analistas do setor dizem que também há pressão dos acionistas das companhias para que a margem de lucro volte a subir.
Dados do Teleco mostram que, nos últimos 12 meses, o valor pago por ação da Telefônica, por exemplo, passou de R$ 1,18 para R$ 0,95, uma queda de 19,5%. "As teles não têm como negar essa pressão e ela é ruim, porque acaba levando a cortes de custos e até de investimentos", diz Eduardo Tude, presidente do Teleco.


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