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Investimento menor afeta serviço, diz Anatel
Para agência, recursos aplicados pela Telefônica em infraestrutura não foram suficientes para sustentar expansão da base de clientes
Empresa nega que problemas
estejam relacionados à falta
de investimento; BNDES
prevê procura menor das
teles por financiamentos
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase um ano após a primeira pane do Speedy, o serviço da
Telefônica de acesso à internet
em banda larga, conselheiros
da Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) chegaram
a uma conclusão: os investimentos em infraestrutura não
acompanharam o crescimento
da base de assinantes.
Na quarta passada, a conselheira Emilia Ribeiro afirmou,
durante um evento em São
Paulo, que a rede da Telefônica
está saturada e, segundo ela, a
concessionária "não poderia
oferecer o Speedy nem de graça". "A demanda é maior que a
oferta", disse Ribeiro. Por isso,
a agência proibiu a Telefônica
de vender o Speedy até que a
empresa comprove a estabilidade de sua rede.
No mesmo dia, a AET (Associação dos Engenheiros de Telecomunicações) enviou carta
ao presidente do Conselho
Consultivo da Anatel, Átila Augusto Souto, detalhando os
problemas da Telefônica e fazendo recomendações, a pedido da própria Anatel.
"A falta de investimento é um
dos principais gargalos", afirmou à Folha Ruy Bottesi, presidente da AET. "A Telefônica
recebeu R$ 2 bilhões do
BNDES para investimentos na
rede. Os fornecedores de equipamentos e os integradores
aguardavam as encomendas,
que não aconteceram na mesma proporção."
O presidente da Telefônica,
Antônio Carlos Valente, nega
que os problemas na rede da
empresa estejam relacionados
à falta de investimento (leia
texto ao lado).
Segundo Bottesi, pressionada por resultados financeiros,
principalmente pelo aumento
da lucratividade, a Telefônica
decidiu cortar custos e investimentos. Uma das estratégias
foi a compra de equipamentos
mais baratos.
"Muitas vezes, esses aparelhos não "conversam" entre si",
diz Bottesi. "Nesse caso, é preciso integrá-los com softwares
específicos que funcionam como tradutores para que as conexões se estabeleçam."
Mesmo assim, as chances de
conflitos são grandes e, quando
eles acontecem, a rede fica instável. Resultado para o assinante: queda na velocidade da
internet e, em casos extremos,
interrupção do serviço.
O problema se agrava porque, ainda segundo Bottesi, a
quantidade desses equipamentos em funcionamento passou
a tomar capacidade da rede.
"Ela deveria ser usada para
atender os clientes, principalmente usuários de internet, e
está sendo usada para alimentar o funcionamento dos equipamentos da própria rede", diz.
"Não é à toa que a Telefônica
garante em contrato só 10% da
velocidade de navegação ao
cliente. Ela precisa usar essa
diferença para outras tarefas.
Para ele, com a redução dos
investimentos e a expansão da
base de clientes, as chances de
novas panes são maiores. Além
disso, Bottesi afirma que a operadora cortou seus quadros de
engenheiros pela metade, desde a privatização do Sistema
Telebrás, e terceirizou a manutenção de áreas estratégicas,
como a atualização dos softwares da rede por onde ela presta
serviços, desde chamadas telefônicas até o acesso à internet.
Desaceleração
No ano passado, o BNDES liberou R$ 17,5 bilhões para as
operadoras (fixas e móveis) investirem em infraestrutura.
Levantamento da consultoria
Teleco, especializada em telecomunicações, revela que as teles investiram R$ 16,15 bilhões,
uma diferença de R$ 1,35 bilhão
em relação ao valor desembolsado pelo banco em 2008. Uma
parte dessa diferença pode ter
sido usada na rede de acesso à
internet, mas as operadoras
não abrem esses números, considerados estratégicos.
O BNDES prevê que, neste
ano, a demanda das teles por
crédito para investimento será
20% menor e atingirá R$ 14 bilhões. A crise financeira, que
elevou as dívidas das operadoras, é um dos motivos da revisão dos investimentos. Mas os
analistas do setor dizem que
também há pressão dos acionistas das companhias para que
a margem de lucro volte a subir.
Dados do Teleco mostram
que, nos últimos 12 meses, o valor pago por ação da Telefônica,
por exemplo, passou de
R$ 1,18 para R$ 0,95, uma queda de 19,5%. "As teles não têm
como negar essa pressão e ela é
ruim, porque acaba levando a
cortes de custos e até de investimentos", diz Eduardo Tude,
presidente do Teleco.
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