São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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Fed assume aposta arriscada de US$ 2 tri

Créditos de recebimento duvidoso devem aumentar com a compra de mais US$ 1,25 trilhão em títulos hipotecários

Dinheiro é usado para financiar programas de ajuda a bancos e empresas e tentar reanimar o mercado imobiliário, raiz da crise

Pablo Monsivais - 24.mar.09/Associated Press
Manifestantes protestam atrás de Ben Bernanke (centro), do Fed, no Congresso dos EUA


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Em intervenções sem precedentes para tentar reverter a atual recessão, o Federal Reserve (o banco central dos EUA) dobrou em menos de um ano o volume de créditos de recebimento altamente duvidoso despejados na economia norte-americana.
Boa parte do dinheiro foi injetado em empresas virtualmente falidas. Ou para que outras companhias pudessem se financiar com o Fed garantindo 100% da rolagem ou emissão de dívidas -já que elas não contam mais com a confiança de investidores privados.
Nos últimos nove meses, a carteira de créditos a receber do Fed saltou de US$ 1,13 trilhão para US$ 2,03 trilhões (quase a metade do Produto Interno Bruto da China).
O valor voltará a crescer rapidamente agora. O Fed anunciou na semana passada que comprará mais US$ 300 bilhões em títulos do Tesouro dos EUA e US$ 1,25 trilhão em papéis hipotecários. Somados, os dois valores representam cerca de 10% do PIB dos EUA.
O objetivo dessas ações é financiar programas de ajuda a bancos e empresas e tentar reanimar o mercado imobiliário, que está na raiz da atual crise. Com mais dinheiro circulando na economia, a tendência é que o custo do dinheiro caia (para financiamentos, por exemplo), ajudando na recuperação.
Em muitos casos, o dinheiro do Fed foi dirigido a empresas que estariam hoje quebradas se não tivessem sido estatizadas. Entre elas, a AIG (maior seguradora do mundo) e o banco Bear Stearns, que praticamente quebrou no ano passado e que foi comprado pelo JPMorgan Chase com a ajuda de dinheiro público.
O dinheiro também serviu para garantir emissões de dívidas de bancos com problemas, como o Citigroup, e de empresas como a General Motors (ambos têm hoje o governo dos EUA como maior acionista).
Nesta crise, e pela primeira vez em sua história, o banco central dos EUA está garantindo diretamente a emissão de títulos de centenas de empresas e bancos no país que, diante da desconfiança de investidores privados, não conseguem levantar dinheiro no mercado.
Se essas companhias quebrarem ou não pagarem suas dívidas, o prejuízo direto será assumido pelo Fed.
A aposta do banco central norte-americano é que a economia comece a se recuperar até o final do ano, com o consumo aumentando e melhorando a saúde das empresas -contribuindo para que estejam aptas a pagar os créditos recebidos.
A mesma aposta deve elevar a dívida pública dos EUA como proporção de seu PIB dos atuais 44% para 65% até 2010, segundo projeções oficiais do Comitê de Orçamento do Congresso.

Sinais contraditórios
Nas últimas semanas, persistem sinais extremamente contraditórios sobre o quadro econômico nos EUA. O comportamento errático da Bolsa de Valores de Nova York reflete quase que diariamente a alternância entre boas e más notícias.
Muitos veem a tendência geral de valorização (+3,6% em 30 dias no índice S&P 500) como "otimista demais".
"A recuperação do mercado veio antes da retomada da atividade. Não ficarei surpreso em ver um pouco de ar saindo disso [em referência a uma possível nova "bolha'], diz Jim Dunigan, do PNC Wealth Management.
Alguns analistas consideram que o mercado acionário ainda poderá ter muitos altos e baixos antes de se firmar baseados na atividade econômica. Na crise da década de 1930, foi ensaiada mais de meia dúzia de recuperações. Mas elas não vingaram antes de 1933 (veja gráfico nesta página).
Segundo pesquisa da consultoria TrimTabs, as vendas de ações de empresas que formam o índice S&P 500 somaram US$ 2,6 bilhões em junho. As compras, menos de US$ 120 milhões, sinal de pessimismo.
Outra pesquisa feita entre executivos de grandes empresas revela que no segundo trimestre o índice de confiança dos empresários subiu de 5 pontos negativos entre janeiro e abril para 18,5 pontos positivos (abaixo de 50 pontos, as empresas esperam contração).
"É mais visível que ninguém espera a continuidade da queda livre, mas também ninguém acredita que vamos começar a crescer já", afirma Ivan Seidenberg, presidente da Business Roundtable, que faz o levantamento.


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