São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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EM TRANSE

Em 2001, empresas rolavam 96,5% dos débitos; de janeiro a maio, rolagem foi a 58%; problema infla dólar e dívidas

Crise faz empresas renovarem só 22% da dívida externa

FABRICIO VIEIRA
JOSÉ ALAN DIAS

DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado externo fechou as portas para o Brasil. No mês de junho, as empresas brasileiras conseguiram renovar somente 22% das dívidas que venceram no exterior, segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. De janeiro a maio, quando as empresas já encontravam dificuldades para renovar compromissos externos, o percentual de renovação de dívidas havia sido de 58%.
Naquele período, dos US$ 9,16 bilhões em vencimentos, foram renegociados US$ 5,32 bilhões. Em junho, os vencimentos chegariam a US$ 1,7 bilhão. Ou seja, não mais que US$ 370 milhões foram renovados. O restante deveria ter sido quitado pelas empresas.
O cenário no ano passado era bastante diferente: dos US$ 25,4 bilhões em créditos que venceram ao longo de 2001, as empresas renovaram US$ 24,5 bilhões.
As razões para a escassez de recursos são duas: primeiro o aumento da aversão ao Brasil. Situação provocada pelas dúvidas sobre o programa econômico a ser adotado pelo próximo governo -e potencializada, segundo analistas, pela perspectiva de que FHC não eleja seu sucessor. Na sexta, o risco-país do Brasil fechou em 1.991 pontos. O índice reflete a desconfiança dos investidores em relação à capacidade de o país honrar seus vencimentos.
O segundo fator tem natureza externa. Com a série de escândalos contábeis em empresas dos EUA, aumenta o temor de investidores de se exporem nos chamados emergentes, como o Brasil.
""Não há rolagem no mercado externo para empresas brasileiras. Nem se elas aceitarem juros mais altos", diz Sérgio Blanc, vice-diretor de tesouraria do banco Brascan. ""As únicas possíveis são com securitização", completa, em referência a operações em que as empresas dão como garantia créditos que terão a receber no futuro -recurso normalmente usado por exportadores ou bancos.
O Banco do Brasil confirmou na quinta-feira que fará uma captação de US$ 200 milhões no exterior, com a securitização de ordens de pagamentos de clientes. Tentará captar recursos justamente para aumentar a linha de crédito no mercado interno.
Entre as empresas mais afetadas pelo fechamento das portas no mercado externo está a Eletropaulo. A distribuidora de energia confirmou que negocia com seus credores forma de refinanciar sua dívida de curto prazo. Dos US$ 700 milhões com vencimento no semestre, US$ 400 milhões se concentram em agosto.
""Ao longo do primeiro semestre tentamos captações de diversas formas e não conseguimos. A alta volatilidade no mercado interno e a situação externa são fatores que nos atrapalham", disse Andrea Ruschmann, vice-presidente da Eletropaulo.
No mercado, a versão era que a Petrobras fizera sondagens para uma nova emissão de títulos -parte dos recursos deveria ser usado para quitar os US$ 754,6 milhões que deverá pagar à vista pela compra do braço petrolífero do grupo Perez Companc. Detalhe: a gigante estatal adiara o lançamento de bônus em junho por conta das incertezas sobre o quadro da dívida pública e político.
O presidente da estatal, Francisco Gros, disse da segunda, que a Petrobras tem ""diferentes opções" de honrar o compromisso.
A restrição para renovar dívida no exterior ou realizar novas captações obriga as empresas a buscarem financiamento no mercado interno. ""Com isso, os bancos aproveitaram para jogar as taxas na lua", diz Fernando Ferreira, diretor da Global Invest.


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