São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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EM TRANSE

Presidente afirma que conversas com o organismo são permanentes, mas nega que haja negociações formais

FHC decide nesta semana se país vai ao FMI

WILSON SILVEIRA
ENVIADO A GUAIAQUIL (EQUADOR)

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, no Equador, que vai avaliar nesta semana a necessidade de buscar ou não recursos adicionais no FMI (Fundo Monetário Internacional). Ele disse que as conversas com o Fundo são permanentes, mas negou que esteja havendo negociações formais.
"Não é que estejamos negociando, nós estamos sempre conversando. Não interessa a nenhum setor sério do mundo que a economia brasileira sofra um desaguisado [desordem" pelo qual ela não é responsável", afirmou.
O presidente reiterou que os fundamentos da economia brasileira estão em ordem, que as reservas somam US$ 40 bilhões ("que dão de sobra") e a inflação está baixa. "Não há nenhum sintoma de moléstia alguma. Não obstante o médico, ou seja, o mercado, que agora se investiu da qualidade de médico, vem e diz: "Ah, não, mas pode ser que morra". Bom, aí, só Deus, né?"
FHC repetiu que o país buscará recursos no FMI quando julgar necessário. "Mas não marque uma data porque senão o mercado, não sei baseado em quê, tem uma decepção com ele próprio, e quem paga é o povo, porque, quando o mercado sofre as decepções das ilusões que ele mesmo criou, ele cobra é do povo."
Essa foi uma referência à reação negativa do mercado a entrevista dada anteontem pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan. Segundo FHC, o mercado imaginou que Malan fosse fazer algum anúncio espetacular, como um acordo com o FMI, e ele simplesmente ia explicar algumas questões.
"Não se faz uma negociação dessas assim de repente, sem mais. Esperavam que o Malan desse um aviso que é impossível. No curso desta semana eu espero que nós possamos ter mais calma para ver realmente o que nós precisamos", afirmou.

Valores
Sobre a informação de que o Brasil pode vir a pedir até US$ 10 bilhões para o FMI, divulgada ontem pela Folha, o presidente afirmou: "Se a imprensa divulgou, a responsabilidade é da imprensa, não é minha, porque eu não tenho essa informação e não houve uma negociação numérica. Não sei de onde saiu esse número. Pode ser que sim, pode ser que não, vamos ver no decorrer do tempo".
Segundo FHC, o país não passa por uma asfixia de pagamentos. "Há uma espécie de falta de ar dos que operam nos computadores do mercado e dos analistas que estão na loja e que fazem análise de risco. Como eu já disse, hoje não é uma questão de risco, é uma questão de incerteza, e, na incerteza, apertam."

Almodóvar
Irônico, o presidente perguntou: "Como é que se chama aquele filme famoso?, O mercado está à beira de um ataque de nervos", referindo-se ao filme do espanhol Pedro Almodóvar "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos". Segundo FHC, "tem que tomar cuidado, tem que melhorar o ataque de nervos".
A solução, segundo o presidente da República, é convencer pouco a pouco o mercado de que o Brasil tem um rumo e esse rumo não acaba no fim do seu mandato. "Esse rumo é o rumo do nosso país. Qualquer que seja o candidato eleito, eu espero que seja o do meu partido, vai prestar contas ao Brasil. Ele não vai querer ver o Brasil de pernas para o ar. Vai querer estar com os pés bem plantados no nosso chão, olhando para o futuro, com projetos, com esperança."
FHC participou em Guaiaquil do segundo encontro de presidentes da América do Sul e voltou ontem à tarde para Brasília.


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