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ANÁLISE
Falta responder se país fica de pé sem o Fundo
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem sido incompleto o debate entre governo e analistas
sobre a necessidade de o Brasil renovar seu acordo com o FMI.
Até agora, o embate esteve centrado nas estimativas do resultado das contas externas brasileiras
no próximo ano. Ou seja, de um
lado e de outro se discute se haverá crédito e investimentos estrangeiros suficientes para que o Brasil salde suas dívidas.
A resposta que falta, no entanto,
é se mudou algo na economia
brasileira que nos faça crer que o
Brasil não vai precisar de ajuda
para se manter de pé. O simples
fato de o debate girar em torno da
disponibilidade ou não de fluxos
de capitais para tapar o buraco
das contas externas é sinal de que
o grito de independência em relação ao FMI ainda é muito frágil.
Por que o Brasil pediu ajuda ao
Fundo? Porque a economia brasileira não exporta mercadorias em
quantidade suficiente para trazer
ao país os dólares de que necessita
para pagar compromissos externos e as importações das quais o
país depende para crescer.
É verdade que hoje existe um
supostamente robusto superávit
comercial de US$ 11,4 bilhões.
Mas ele foi atingido à custa do encolhimento do mercado interno.
E não são poucos os que duvidam
de que esse superávit se mantenha caso o Brasil comece a crescer
a taxas maiores do que 2% ao ano.
Durante toda a década de 90, o
governo brasileiro apostou na
teoria de que ter superávit comercial não fazia diferença. Era uma
época de otimismo na economia
mundial e sobrava dinheiro no
mercado internacional. O Brasil
poderia importar o necessário,
confiar na entrada ilimitada de investimentos estrangeiros e captar
os recursos que faltavam para fechar as contas externas.
Só que ondas de otimismo, em
economia, sempre são seguidas
de um ou dois pequenos desastres. O otimismo acabou, o dinheiro secou e, desde 1998, o Brasil depende do dinheiro do FMI
para fechar as contas.
O governo pode optar por abrir
mão do acordo com o Fundo neste ano. Talvez, em 2004, as contas
fechem, o dinheiro externo volte e
tudo fique bem. Mas a economia
brasileira só será relativamente
independente quando conseguir,
com a produção local, trazer parte
substancial dos dólares de que
precisa todos os anos. Até lá, o
Brasil será obrigado a pedir água a
cada crise de crédito no mercado
internacional de capitais.
Não há consenso sobre os tipos
de medida um país precisa para
garantir um superávit comercial
sustentável. Há os que sugerem
apenas garantir câmbio competitivo -moeda desvalorizada - e
os que pregam forte intervenção
estatal, com a adoção de uma política industrial que torne os produtores locais mais competitivos.
Parte do ganho de competitividade depende do governo, direta
ou indiretamente. No Brasil, faltam estradas, portos, infra-estrutura. Por enquanto, técnicos do
governo deixaram ventilar que o
Brasil vai jogar pesado com o
Fundo e tentar excluir do cálculo
do superávit primário os investimentos das estatais. Isso liberaria
dinheiro para novos investimentos. Não será a primeira vez em
que o Brasil irá propor isso ao
FMI. Em todas as outras, ouviu
um não como reposta.
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