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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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ANÁLISE

Falta responder se país fica de pé sem o Fundo

MARCELO BILLI DA REPORTAGEM LOCAL

Tem sido incompleto o debate entre governo e analistas sobre a necessidade de o Brasil renovar seu acordo com o FMI.
Até agora, o embate esteve centrado nas estimativas do resultado das contas externas brasileiras no próximo ano. Ou seja, de um lado e de outro se discute se haverá crédito e investimentos estrangeiros suficientes para que o Brasil salde suas dívidas.
A resposta que falta, no entanto, é se mudou algo na economia brasileira que nos faça crer que o Brasil não vai precisar de ajuda para se manter de pé. O simples fato de o debate girar em torno da disponibilidade ou não de fluxos de capitais para tapar o buraco das contas externas é sinal de que o grito de independência em relação ao FMI ainda é muito frágil.
Por que o Brasil pediu ajuda ao Fundo? Porque a economia brasileira não exporta mercadorias em quantidade suficiente para trazer ao país os dólares de que necessita para pagar compromissos externos e as importações das quais o país depende para crescer.
É verdade que hoje existe um supostamente robusto superávit comercial de US$ 11,4 bilhões. Mas ele foi atingido à custa do encolhimento do mercado interno. E não são poucos os que duvidam de que esse superávit se mantenha caso o Brasil comece a crescer a taxas maiores do que 2% ao ano.
Durante toda a década de 90, o governo brasileiro apostou na teoria de que ter superávit comercial não fazia diferença. Era uma época de otimismo na economia mundial e sobrava dinheiro no mercado internacional. O Brasil poderia importar o necessário, confiar na entrada ilimitada de investimentos estrangeiros e captar os recursos que faltavam para fechar as contas externas.
Só que ondas de otimismo, em economia, sempre são seguidas de um ou dois pequenos desastres. O otimismo acabou, o dinheiro secou e, desde 1998, o Brasil depende do dinheiro do FMI para fechar as contas.
O governo pode optar por abrir mão do acordo com o Fundo neste ano. Talvez, em 2004, as contas fechem, o dinheiro externo volte e tudo fique bem. Mas a economia brasileira só será relativamente independente quando conseguir, com a produção local, trazer parte substancial dos dólares de que precisa todos os anos. Até lá, o Brasil será obrigado a pedir água a cada crise de crédito no mercado internacional de capitais.
Não há consenso sobre os tipos de medida um país precisa para garantir um superávit comercial sustentável. Há os que sugerem apenas garantir câmbio competitivo -moeda desvalorizada - e os que pregam forte intervenção estatal, com a adoção de uma política industrial que torne os produtores locais mais competitivos.
Parte do ganho de competitividade depende do governo, direta ou indiretamente. No Brasil, faltam estradas, portos, infra-estrutura. Por enquanto, técnicos do governo deixaram ventilar que o Brasil vai jogar pesado com o Fundo e tentar excluir do cálculo do superávit primário os investimentos das estatais. Isso liberaria dinheiro para novos investimentos. Não será a primeira vez em que o Brasil irá propor isso ao FMI. Em todas as outras, ouviu um não como reposta.


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