São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2008

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Resistência de China e Índia travam OMC

Gigantes emergentes são maiores barreiras para acordo de liberalização do comércio global negociado em Genebra

Divergências dentro do Mercosul após rejeição argentina de redução de tarifa industrial também é entrave para acordo


MARCELO NINIO
DE GENEBRA

As negociações em torno de um acordo global de comércio esbarram na resistência dos dois maiores países emergentes em aceitar a proposta apresentada na sexta-feira para romper o impasse.
Índia e China exigem modificações no pacote de soluções elaborado pelo diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, o que é rejeitado vigorosamente pelos países desenvolvidos, sobretudo os Estados Unidos.
Para a Índia, o maior problema é aceitar a fórmula de limites à importação. Seu argumento é que ela não fornece proteção suficiente aos pequenos agricultores e põe em risco a segurança alimentar. Paraguai e Uruguai fazem firme oposição à medida, em mais um foco do racha entre os emergentes.
Já a China rejeita a linguagem incluída na proposta de acordos setoriais para reduções tarifárias na indústria. Exige que fique claro o caráter voluntário dos acordos.
Além disso, Pequim retrocedeu nas negociações e agora diz que não aceita cortar tarifas sobre três produtos -arroz, trigo e açúcar. O endurecimento chinês preocupa os grandes produtores agrícolas emergentes, entre eles o Brasil.
Depois de sete dias de intensa barganha, as chances de um acordo estão entre 65% e 75%, disse o chanceler brasileiro, Celso Amorim. "O fato de o barco continuar navegando e não ter afundado é uma boa notícia neste estágio." O Brasil, que foi o primeiro a aceitar o pacote de Lamy, continua firme em sua oposição a mudanças no texto, distanciando-se de aliados como Índia e Argentina.
A insistência argentina em exigir mais proteção para sua indústria dos cortes tarifários para o Mercosul já aceitos por Brasil, Uruguai e Paraguai causa tensão no bloco e é mais um entrave para um acordo final.
Hoje serão apresentados novas versões dos documentos que servem de base para o ambicioso projeto de liberalização da agricultura e da indústria.
Um negociador disse à Folha que ainda há outros pontos pendentes, mas que, se Índia e China forem dobradas, o caminho estará pavimentado.
A boa notícia do dia foi dada por Amorim, sobre o provável acordo de redução das tarifas de importação de bananas da América Latina na União Européia. "É um acordo histórico." A exigência dos latino-americanos em ter tarifas menores, aproximando-se do tratamento preferencial dado às ex-colônias da África, Caribe e Pacífico, era uma ameaça a um acordo. Mas ainda é preciso convencer alguns africanos.
A Índia tentou mostrar força em sua defesa de um freio mais potente às importações em casos de emergência. Apresentou documento com o apoio de mais de cem países à idéia de impor tarifas mais altas que as propostas por Lamy quando houver surtos de importação.
Indagado pela Folha se a Índia aceitaria flexibilizar sua posição para destravar as negociações, o ministro do Comércio, Kamal Nath, preferiu escapar da responsabilidade por um fracasso.
"A Índia não está sozinha", disse Nath, apontado como o negociador mais inflexível entre os sete que participam do fórum reduzido das discussões.
Apesar das dificuldade e das divisões entre países emergentes, há a sensação de que o preço político de um fiasco seria mais alto do que o de aceitar propostas imperfeitas. "Com o pacote apresentado, passamos do ponto do não-retorno", disse uma fonte da OMC que não quis se identificar.


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