São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2008

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Condomínio fechado ganha versão classe C

Crédito farto leva construtoras a adaptar conceito de bairros planejados, antes restritos a famílias de renda mais alta

Classe C amplia horizonte de compras com alongamento de prazo de financiamento, que chega a até 30 anos, e se torna mais exigente


Raimundo Pacco/Folha Imagem
A gerente Maria Aparecida de Souza, no condomínio em Cotia (SP),
em que investiu suas economias para comprar uma casa


JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Condomínios fechados, com segurança e lazer, que incluem piscina, pista de corrida, espaço gourmet, "fitness center" e brinquedoteca, não estão mais restritos às residências das famílias de renda mais alta.
Em tempos de crédito farto, as construtoras estão adaptando os grandes condomínios e bairros planejados para caber no bolso da classe C.
Segundo André Vieira, diretor-executivo da construtora Tenda, focada no segmento popular, a maior oferta de serviços é resultado da exigência da própria classe C, que ampliou seu horizonte de compras de acordo com o alongamento dos prazos do crédito. Primeiro, esses consumidores financiaram eletrodomésticos, depois carros e, por fim, imóveis. O prazo de pagamento hoje pode ser de até 25 ou 30 anos.
Com o aumento do consumo e do interesse das construtoras nessa fatia do mercado, aumentaram as ofertas de condomínios e prédios com um leque maior de serviços.
De olho nesse filão, as construtoras com tradição no mercado de classe média e alta criaram empresas específicas para o setor de imóveis econômicos e supereconômicos. Dados da FGV (Fundação Getulio Vargas) indicam um déficit habitacional da ordem de 8 milhões de unidades no país.
É o caso da RJZ Cyrela, que criou a Living, braço voltado para as classes C e D, "que se sentem mais seguras para fazer investimentos de longo prazo", diz Rogério Zylbersztajn, vice-presidente da RJZ Cyrela.
A oferta de segurança e lazer é uma forma de compensar o maior comprometimento da renda com o pagamento das prestações. "O impacto do custo com a construção de quadras esportivas e piscina é pequeno porque é dividido entre muitas unidades", afirma Flávio Prando, vice-presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação).

Dois ou três dormitórios
O conceito de imóvel para a classe C varia muito segundo cada empresa, mas de modo geral tem dois ou três dormitórios e preço que varia de R$ 50 mil a R$ 120 mil, de acordo com as empresas ouvidas pela Folha.
As unidades foram ficando compactas e "o lazer passou a ser um ponto fundamental. Daí o sucesso do conceito condomínio clube", diz Rodrigo Conde Caldas, vice-presidente da Ademi-RJ (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário). Há apartamentos de dois quartos à venda com até 46 metros quadrados.
Em alguns casos, as empresas não constroem condomínios, mas bairros inteiros. É o caso da Bairro Novo, joint venture da Gafisa e da Odebrecht em Cotia (SP), empreendimento com 450 mil metros quadrados, área equivalente a cerca de 58 gramados do Maracanã.
"Atuar nesse mercado exige industrialização de processos para reduzir custos. Usamos uma tipologia padrão, o que aumenta a produtividade", diz Marcelo Moacyr, diretor de construção. Moacyr destaca que os bairros planejados exigem áreas próximas a grandes centros. "Trabalhamos com módulos de 500 unidades. Em alguns lugares estamos construindo verdadeiras cidades, como em Camaçari (BA)."
A gerente de farmácia Maria Aparecida de Souza, 43, investiu suas economias em uma das casas em Cotia. "Estava procurando um imóvel, mas não queria comprar usado. Além disso, queria morar em casa, não gosto de apartamento. O fato de ser um bairro planejado pesou na decisão. Quero ter o prazer de falar: isso aqui é meu", disse. Ela financiou a casa em 25 anos e deve recebê-la em dezembro.


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