São Paulo, terça-feira, 28 de agosto de 2007

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Para bancos, emergentes vão bem, mas especuladores podem sair

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mercados emergentes nunca estiveram em uma posição tão privilegiada para enfrentar uma crise financeira internacional, mas correm o risco de perder capitais altamente especulativos que receberam nos últimos meses, caso operações financeiras de alto retorno -e risco- tenham de ser desmontadas. A avaliação é do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, em inglês), organização que reúne 340 dos maiores bancos do mundo.
De acordo com o IIF, os países emergentes de um modo geral foram alvo nos últimos meses de operações chamadas de "carry trade", em que investidores tomam dinheiro emprestado com juro barato -geralmente no Japão, que tem taxa real negativa- para aplicar em países com alto retorno, como o Brasil. O banco Morgan Stanley estima em US$ 1 trilhão o volume emprestado no Japão para essas operações.
Na operação, o especulador ganha duas vezes: com a diferença de juros entre os países e com a taxa de câmbio. Isso porque um dos efeitos no país alvo é a valorização de sua moeda -ou seja, o investidor entra no país, converte dólares em moeda local, que valerá mais ainda no momento de repatriação.
"As principais incertezas agora serão o quanto muitas dessas operações de "carry trade" serão preservadas e o grau de flexibilidade dos mercados financeiros locais em lidarem com isso. A magnitude desse fluxo parece ter sido substancial, dado o enorme e persistente aumento das reservas internacionais nos países emergentes nos últimos meses."
O instituto cita nominalmente o caso do Brasil, que teve aumento de US$ 70 bilhões nas reservas internacionais de janeiro a julho deste ano apenas com o Banco Central absorvendo o excesso de dólares que entrava no país. Diz ainda que o real teve uma valorização de 15% em relação ao dólar devido, entre outros fatores, a essas operações especulativas.
Revertidas essas operações, as moedas e ativos dos emergentes poderiam perder parte do valor acumulado.
Por outro lado, o IIF afirma que os países emergentes, em particular o Brasil, mostraram forte resistência contra a contaminação da crise nas primeiras seis semanas de turbulência nos mercados. "O mercado brasileiro mostrou alguns sinais desse descolamento, com o real seguindo em ritmo forte na fase inicial da crise, enquanto pioravam as taxas da dívida externa brasileira", afirmou o relatório do IIF.
Apesar das preocupações de curto prazo com o fluxo de capitais, o instituto afirma que os países emergentes estão com suas contas externas e fiscais em ordem, altas reservas, economia em crescimento e inflação baixa. A única exceção lembrada é a Argentina, que enfrenta dificuldades por conta da moratória de 2001. "Por padrões históricos, a recente reprecificação de risco na dívida dos emergentes é relativamente uma mancha pequena."
No longo prazo, o IIF afirma que uma eventual desaceleração da economia americana terá reflexos para os emergentes, particularmente, quanto ao consumo e o preço das commodities. "De fato, o fraco preço das commodities foi uma das formas de contaminação do choque asiático em 1997. Se os preços forem revertidos, será um baque significativo para várias economias emergentes."


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