São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2008

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Cade faz acordo com empresa do cartel de mangueiras marítimas

Decisão foi tomada na primeira sessão do órgão com sua nova composição

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na primeira sessão de julgamento com sua nova composição, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) firmou ontem um acordo com a empresa Bridgestone, uma das envolvidas no suposto cartel no mercado mundial de mangueiras marítimas. A companhia terá de pagar R$ 1,6 milhão ao governo por conta da prática.
No acordo, a Bridgestone admite a culpa pela participação no conluio e se compromete a cessar a prática. Além disso, obrigou-se a entregar documentos às autoridades antitruste brasileiras e colaborar com as investigações do cartel, que vêm sendo realizadas pela SDE (Secretaria de Direito Econômico).
Essa foi a primeira vez em uma investigação de cartel no Brasil em que há reconhecimento de culpa no acordo firmado com o Cade. Esse reconhecimento é obrigatório somente nos casos em que há adesão ao programa de leniência do governo.
No ano passado, a Bridgestone havia ingressado no programa. Na prática, a empresa delatou o cartel e, por isso, passou a ter atenuantes em sua condenação perante as autoridades. Agora, com a assinatura do acordo, a empresa passa a ser excluída do processo de investigação em curso.
O processo para investigar o cartel de mangueiras marítimas, formado por 11 empresas, foi aberto no segundo semestre do ano passado. No Brasil, de acordo com a SDE, a grande vítima teria sido a Petrobras.
A investigação no Brasil começou após uma das empresas integrantes do suposto cartel, cujo nome foi divulgado ontem, procurar a SDE oferecendo colaboração em troca de imunidade na Justiça.
Entre os dados fornecidos pela companhia delatora estavam mais de mil páginas de documentos, com minúcias sobre a atuação do cartel.
Por causa das ramificações do cartel, foram realizadas, no ano passado, buscas simultâneas nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, na Itália e no Japão.
Em um flagrante combinado com a empresa delatora, investigadores norte-americanos detiveram oito executivos estrangeiros durante reunião do cartel num hotel de Houston (Texas) em maio de 2007.

Usina de Jirau
Na sessão de ontem, o Cade ainda aprovou, por rito sumário, o consórcio Enersus (Suez/Camargo Corrêa/Eletrobrás) para construção e operação da usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO).
Desde 23 de julho o Cade não realizava sessões devido à falta de quórum exigido para as votações -cinco conselheiros. O julgamento de ontem marcou a estréia dos novos conselheiros Vinícius Carvalho, Carlos Ragazzo e Olavo Chinaglia.
A sessão foi comandada pelo presidente em exercício, Paulo Furquim, pois o conselho segue com a presidência vaga. O procurador-geral do Cade, Arthur Badin, já teve seu nome aprovado pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) para ocupar a presidência da autarquia, mas a indicação ainda precisa ser apreciada pelo plenário do Senado.
Devido a pressões de empresas, a indicação de Badin para a presidência do Cade demorou para ser aprovada. Badin era considerado muito jovem, pouco experiente e radical em sua atuação na autarquia. A pressão contra sua indicação partiu de grandes empresas -como a Vale e a Nestlé- que tiveram interesses contrariados pelo Cade.
Conforme informação do jornal "Valor Econômico", a Vale chegou a enviar uma carta ao ministro da Justiça, Tarso Genro, contra a indicação de Badin. Para a vaga ainda em aberto no Cade, o governo indicou o economista César Matos, que ainda não foi sabatinado pelos integrantes da CAE.


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