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Nos EUA, total de bancos com problemas cresce 36%
Setor bancário, epicentro da crise, perdeu US$ 3,7 bi em calotes no 2º trimestre
Apesar das perdas, ações dos bancos sobem e trazem temor de nova bolha; fundo garantidor de depósitos cai a menor nível em 16 anos
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O número total de bancos
considerados "problemáticos"
pelas autoridades financeiras
nos EUA aumentou de 305 para 416 entre o primeiro e o segundo trimestre do ano.
Juntos, esses bancos têm ativos equivalentes a US$ 300 bilhões, ou uma vez e meia as reservas em dólares do Brasil.
Entre abril e junho, o setor
bancário no país perdeu
US$ 3,7 bilhões em calotes relacionados principalmente ao setor de construção e a pequenos
e médios negócios.
No mesmo período, mais 111
bancos entraram na lista de
"problemáticos".
Muitos dos rombos tiveram
de ser cobertos pela FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), agência federal que supervisiona e garante o sistema.
Com o aumento da inadimplência, o volume de dinheiro no
fundo garantidor de depósitos
da FDIC caiu 20% no segundo
trimestre. Ele agora soma só
US$ 10,4 bilhões, menor patamar em 16 anos. No ano, a queda
dessas reservas é de 40%.
Paradoxalmente, o conjunto
das ações de bancos negociadas
na Bolsa de Valores de Nova
York acumula alta de 60% desde o fim de março.
Muitos analistas veem nessa
valorização a formação de uma
nova "bolha", já que o principal
problema dos bancos norte-americanos continua intocado
na crise.
Desde a quebra do banco de
investimentos Lehman Brothers, em 15 de setembro de
2008, o governo dos EUA ainda
não encontrou uma solução
viável para livrar o sistema financeiro dos chamados "ativos
tóxicos".
Resultado do excesso de crédito ofertado pelos bancos sem
garantias suficientes, esses ativos continuam "entupindo" as
carteiras de crédito dos bancos.
Em resumo, é a inadimplência
elevada relativa a esses empréstimos que continua a afetar os resultados dos bancos.
Os prejuízos ainda se sobrepõem aos lucros que os bancos
vêm obtendo em outras operações. Daí as perdas durante o
segundo trimestre, que tiveram
de ser cobertas com dinheiro
do fundo federal.
Durante a apresentação desses resultados, a chefe da FDIC,
Sheila Bair, tentou minimizar
os problemas afirmando que o
setor financeiro nos EUA vai,
aos poucos, "retornando à normalidade".
"Mas limpar os balanços dos
bancos [dos "ativos tóxicos'] é
um processo doloroso, que vai
levar tempo. Mas ele é absolutamente necessário para a lucratividade desse setor", afirmou Bair.
Embora um pequeno número de bancos nos EUA tenha fechado o trimestre entre abril e
julho com lucros relacionados a
outras áreas, a maioria das
8.195 instituições perdeu dinheiro no negócio principal:
empréstimos a pessoas físicas e
empresas, já que a inadimplência continua elevada.
Dificilmente esses bancos
voltarão a ter lucros nessa área
enquanto a economia não voltar a crescer.
Ontem, o Departamento do
Comércio dos EUA confirmou
que a economia americana encolheu 1% no segundo trimestre do ano, depois de registrar
um colapso de 6,4% no primeiro trimestre.
Além de engrossar a lista de
instituições consideradas "problemáticas", o governo dos
EUA estatizou 81 bancos no
ano. Eles foram efetivamente
fechados e suas contas, transferidas a concorrentes.
Além disso, a FDIC obrigou o
sistema a recolher mais US$ 5,6
bilhões adicionais para garantir
os depósitos de instituições que
ainda continuam em operação.
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