São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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CAMINHONEIROS
Categoria articula nova paralisação para este final de semana; ministro acha "inexplicável"
Nova greve romperá acordo, diz Padilha

da Sucursal de Brasília

O ministro Eliseu Padilha (Transportes) disse ontem, em cadeia nacional de rádio e televisão, que uma eventual nova greve nacional dos caminhoneiros irá romper o acordo que vigora entre o governo e a categoria.
Padilha disse que a nova paralisação, que vem sendo articulada por setores da categoria, "representará a ruptura das negociações que têm se desenvolvido nas últimas semanas".
A primeira greve ocorreu no final do mês passado e durou quatro dias, o que provocou transtornos nas estradas brasileiras e o desabastecimento de alimentos e mercadorias nas cidades da região Sudeste.

Surpresa
O ministro considerou "inesperada e inexplicável" a nova paralisação, que está sendo articulada pela União Nacional dos Caminhoneiros (presidida por José Araújo Silva) e pelo Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros (comandado por José Natan Emídio Neto).
Como exemplos do acordo em vigor, Padilha citou o projeto de lei enviado pelo governo para o Congresso, que aumenta em 50% o limite de infrações que determina a cassação da carteira de habilitação dos caminhoneiros.
O projeto de lei também isenta pontos anotados por causa de excesso de peso ou por pequenos defeitos mecânicos.
Padilha disse ainda que poderão ser desfeitos os grupos de trabalho que estão discutindo a pauta de reivindicação dos caminhoneiros e a adoção de medidas de segurança nas estradas. "Os caminhoneiros que realmente querem conquistas para a categoria não permitirão tal desatino (uma nova greve)", afirmou o ministro.

Panfletos
Duas entidades que representam caminhoneiros anunciaram o começo de uma nova greve da categoria a partir de amanhã.
A União Nacional dos Caminhoneiros e o Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros, ambas sediadas em São Paulo, distribuíram milhares de folhetos durante a semana convocando os caminhoneiros para a paralisação.
As duas organizações não contam com o apoio do Movimento União Brasil Caminhoneiro, de Nélio Botelho, responsável pela greve que praticamente parou o país em julho.
"É a tal história. Depois da onça morta, aparecem vários caçadores. São oportunistas que querem confundir os caminhoneiros", afirmou Botelho, ontem, à Agência Folha.

Reclamação
José Natan Emídio Neto, presidente do Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros, disse que o movimento comandado por Botelho ainda não trouxe benefício algum para o caminhoneiro e, por isso, haveria necessidade de nova greve.
"A orientação que estamos passando para os caminhoneiros no Brasil inteiro é que fiquem em casa a partir deste final de semana", afirmou Natan.
As reivindicações das duas entidades que estão convocando a greve incluem, entre outros itens, a isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a renovação da frota, reajuste de 65% nos valores dos fretes, anistia de multas e mudança do Código Nacional de Trânsito para permitir aumento da velocidade para os caminhões.
A possibilidade de uma nova greve já está trazendo problemas para algumas empresas.
A Multigrain Serviços, por exemplo, empresa paulista de logística, estava com dificuldade ontem em conseguir caminhões para o transporte de trigo do Paraná para moinhos no Centro-Oeste.
"As transportadoras disseram que muitos caminhoneiros estão com receio de saírem para a estrada e ficarem presos. Eles preferem esperar em casa para ver se haverá ou não bloqueio nas estradas", afirmou Carlos Herrmann, diretor da empresa.


Colaborou Marcelo Teixeira, da Agência Folha

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