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OPINIÃO ECONÔMICA
Fiesp, que bicho é esse?
BENJAMIN STEINBRUCH
Acabou a disputa eleitoral
na Fiesp. A nova diretoria,
empossada ontem, tem agora de
se concentrar na tarefa de trabalhar pelo país. Não se trata de
simples retórica: trabalhar pelo
país é a função número um de
uma entidade que congrega representantes de empresas responsáveis por 43% da produção industrial brasileira.
No caso da Fiesp, trabalhar pelo
país significa atuar para aumentar a produção e, conseqüentemente, o emprego e a renda dos
brasileiros. Vale, portanto, enumerar algumas tarefas que a nova Fiesp terá de cumprir para estimular a economia.
Não haverá crescimento continuado da produção enquanto
prevalecer aquilo que o ex-ministro Delfim Netto chama de terrorismo monetário. Então, cabe à
Fiesp propor fórmulas alternativas a essa política, que permitam
exorcizar a idéia equivocada de
que o Brasil não sobrevive com
um juro real básico inferior a
10%, a chamada taxa de equilíbrio. A batalha contra esses juros
altos e a preponderância do setor
financeiro na economia tem de
ser sistemática, vigorosa e persistente.
Não haverá investimentos suficientes para sustentar o crescimento enquanto prevalecer a
conduta do CMN (Conselho Monetário Nacional) em relação à
TJLP. Essa taxa, hoje fixada em
9,75%, serve de base para todas as
operações de crédito de longo prazo do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social). Ela é aplicada em mais de
400 mil contratos. Com a TJLP de
9,75%, os recursos do BNDES
acabam custando entre 16% e
18% ao ano, incluindo a remuneração do banco de fomento e dos
bancos repassadores. Então, a
Fiesp tem a obrigação de jogar
duro para forçar a redução dessa
taxa. A própria diretoria do
BNDES vem propondo o corte para 8%, e o CMN deve fixar amanhã a taxa para o último trimestre do ano.
Não haverá crescimento continuado se o Brasil não aumentar
sua presença nos mercados internacionais, por meio de exportações, que hoje respondem por apenas 0,8% do comércio mundial.
Taxa de câmbio ajustada é o alimento mais saudável para nutrir
o exportador. A vigilância cambial é indispensável para que o
governo não volte a adotar a valorização artificial da moeda para segurar a inflação. Sempre que
usou essa fórmula, colheu o desastre.
Nesse campo, ninguém duvida
também da importância dos
acordos de livre comércio que estão sendo negociados pelo país
com os Estados Unidos (Alca) e
com a União Européia. Ficar fora
deles condenaria o Brasil ao isolamento comercial. Porém é preciso negociá-los de forma a obter
benefícios para o país, pela criação de empregos e pela oferta de
bem-estar aos brasileiros. À Fiesp,
então, cabe interferir de forma
pró-ativa na discussão desses
acordos, que dizem respeito a
produção, postos de trabalho e fatias do mercado global.
Não haverá futuro para os empreendimentos brasileiros se o governo continuar cedendo à tentação de aumentar impostos, num
ritmo que vai fazer a receita tributária federal deste ano superar
em R$ 12 bilhões a previsão mais
otimista. Então, a Fiesp tem a
obrigação de buscar argumentos
para convencer o governo de que
a renúncia fiscal de hoje representa a arrecadação de amanhã,
porque a desoneração faz crescer
a produção, o que gera mais imposto.
Não se construirá no país um
parque industrial vigoroso sem
uma política industrial voltada
para estimular setores estratégicos. Faliu a velha tese do Consenso de Washington, segundo a
qual caberia ao governo apenas
regular e vigiar o funcionamento
da livre concorrência e deixar que
as próprias forças do mercado forjassem o desenvolvimento industrial. O direcionamento do Estado foi fundamental para desenvolver no passado os atuais países
ricos e continua fundamental hoje para sustentar o avanço dos
emergentes asiáticos, ricos de
amanhã. Nessa área, omissão da
Fiesp é inaceitável.
Por último, mas não menos importante, não haverá desenvolvimento do país, por mais globalizado que o mundo esteja, sem formação e sobrevivência de grandes
grupos nacionais internacionalizados. Encurraladas por falta de
crédito de longo prazo, juros exorbitantes e impostos abusivos, as
empresas nacionais vêm sendo
entregues à sua própria sorte na
competição com os grupos globais.
Dos retratos pendurados nas
paredes da própria Fiesp/Ciesp
pode-se tirar uma lição. Uma reportagem da última "Exame"
mostrou a foto dos nove grandes
empresários paulistas que fundaram a entidade, em 1928. Ao fazer
um levantamento para saber que
fim tiveram os grupos pertencentes a esses nove empresários, a revista chegou ao seguinte resultado: só três sobrevivem até hoje. E
se passaram apenas 76 anos.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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