São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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Reservas baixas podem impedir saída do Fundo

NEY HAYASHI DA CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A baixa quantidade de dólares que o governo brasileiro tem em seu caixa faz com que a equipe econômica não descarte a possibilidade de renovação do atual acordo do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O programa do FMI com o Brasil teve início em 1998, foi renovado em 2002 e se encerraria no final deste ano. Segundo a Folha apurou, a continuidade do acordo não é desejada pelo governo, mas a vulnerabilidade da economia a eventuais choques externos tem adiado a decisão final.
A questão será discutida nesta semana, quando representantes do governo -entre eles o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e o presidente do BC, Henrique Meirelles- chegam a Washington para a reunião anual do FMI e do Banco Mundial.
A preocupação está nas reservas internacionais do Brasil, hoje em cerca de US$ 22 bilhões -já excluído o dinheiro emprestado pelo FMI. O valor é visto por alguns analistas como insuficiente. É das reservas que saem os recursos usados pelo governo nos seus pagamentos da dívida externa, que, no ano que vem, devem somar US$ 11,092 bilhões. Também é de lá que saem os dólares que o BC vende no mercado quando o real apresenta fortes desvalorizações.
Numa tentativa de reverter esse quadro, o governo iniciou, em agosto do ano passado, um programa para recompor as reservas em moeda estrangeira.
Desde então, Tesouro Nacional e Banco Central compraram, juntos, cerca de US$ 14,6 bilhões no mercado de câmbio.
Em fevereiro passado, porém, as intervenções foram suspensas, devido à alta do dólar que, na ocasião, ocorria por causa das especulações dos investidores em torno do futuro das taxas de juros norte-americanas -que projetava impacto no fluxo de recursos para os países emergentes.
A partir de abril, quando as turbulências no mercado se reduziram, as compras de dólares não foram retomadas devido ao comportamento da inflação no Brasil. Para o BC, comprar dólares num momento em que a alta dos preços começava a colocar em risco o cumprimento das metas do governo não seria aconselhável, pois, quanto mais o real se valorizasse, mais o controle da inflação seria favorecido.
Ao final de 2005, caso o governo não retome as compras de dólares, as reservas internacionais cairão para US$ 18,291 bilhões, segundo projeção do BC. Para parte da equipe econômica, o valor é baixo para o país enfrentar, sem o suporte financeiro do FMI, ameaças externas como a alta do petróleo, o aumento nos juros norte-americanos e a desaceleração da economia da China.
Assim, nesta semana, o Brasil voltará a defender na reunião do FMI a criação de uma modalidade de crédito a ser oferecida a países em dificuldades financeiras. Essa nova ajuda seria dada a países que, mesmo ao seguir políticas econômicas aprovadas pelo Fundo, enfrentem problemas.
A novidade seria permitir que o socorro não fosse condicionado ao cumprimento de metas, como acontece hoje com o Brasil.


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