São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008

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Mercosul decide ampliar "desdolarização"

Integrantes do bloco e associados querem reduzir transações comerciais em dólar, como Brasil e Argentina já fazem hoje

Reunidos em Brasília para buscar saídas para a crise, países discutem criar um mecanismo comum contra ameaça de "dumping"

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) defendeu ontem a criação de um mecanismo comum da América do Sul contra a ameaça de "dumping", caso países como a China venham a despejar no continente o excedente de sua produção rejeitado em outras partes do mundo por causa da crise e da recessão internacional.
Em reunião realizada ontem no Itamaraty, ministros de economia e do exterior e presidentes de bancos centrais decidiram desdolarizar as transações comerciais entre os países do Mercosul e de seus associados, aplicando para toda a região um processo já iniciado entre o Brasil e a Argentina.
Também decidiram acelerar a criação do Banco do Sul, que foi proposto pela Venezuela para criar reservas para ajudar países da região em dificuldade.
"Não acredito que haja "dumping" [exportação a preços abaixo dos preços internos], mas, se houver, saberemos responder. Poderemos usar mecanismos de defesa comercial em conjunto", disse Amorim, depois de uma reunião com ministros e representantes de 12 países, para discutir a crise financeira.
Ele, porém, ressalvou que não há um mecanismo comum, que teria de ser criado com a "coordenação dos modelos de cada país". Ressalvou, ainda, que a via de saída da crise não é o protecionismo: "Entendemos que a resposta é mais integração e mais comércio, menos subsídio e menos distorção".
Na reunião, também foi defendida maior integração financeira (de serviços bancários, de capitais e de seguro) e o fortalecimento de organismos internacionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Não houve acordo em relação à proposta da Argentina de aumentar a TEC (Tarifa Externa Comum) do Mercosul para produtos como têxteis, móveis e confecções. Isso será tema de discussão bilateral com o Brasil, antes de ser ampliada para os demais países do Mercosul.

Punição a especuladores
Na opinião do ministro das Finanças da Venezuela, Ali Rodriguez, a crise financeira caracteriza um "crime contra a humanidade", pois vai resultar em "1 bilhão de pobres a mais no mundo". O país propôs, e o documento final mencionou, mas não como decisão, convocar uma reunião de chefes de Estado na ONU para discutir punições contra os "especuladores", a quem culpa pela crise. De outro lado, o Brasil contrapôs a convocação do Conselho Econômico e Social da ONU, para discutir, por exemplo, uma reforma da arquitetura financeira internacional. Também foi discutida uma comissão de monitoramento das medidas que cada país tomar.
O chanceler do Chile, Alejandro Foxley, sugeriu que os países da região proponham ao G-8 (grupo dos países mais desenvolvidos, mais a Rússia) que depositem recursos no BID e na CAF (Comissão Andina de Fomento) e, assim, criem uma reserva para ajudar os países mais prejudicados pela crise. Participaram da reunião de ontem: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Peru, Equador, Colômbia, Chile, Bolívia, Guiana e Suriname.


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