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Capital estrangeiro troca projetos por usinas já construídas
Segundo especialista da USP, participação de investidor externo cresce, mas sem dominar setor
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Uma boa e uma má notícia
para o setor de açúcar e álcool
no Brasil. A boa: o investimento
de multinacionais mostra que
os fundamentos para o segmento são consistentes para os
próximos anos. A má: ao contrário do que se esperava, o capital externo não vem para o
chamado "green field", o campo verde, os novos projetos. Fica no "brown field", o campo
marrom, usinas já construídas.
Essa é a avaliação de Marcos
Fava Neves, professor de estratégia da USP-Ribeirão Preto,
que coordenou o estudo "Mapeamento e Quantificação do
Setor Sucroenergético", divulgado pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
"As multinacionais tinham
projetos para novas usinas, mas
os investimentos migraram para unidades estabelecidas."
Se o investimento viesse como "green field", os benefícios
se espalhariam por outros elos
da cadeia produtiva, a partir do
setor de bens de capital -máquinas e equipamentos que
servem para a produção de outros bens, afirma Neves.
Isso não ocorreu por causa da
crise dos últimos anos, em que
vários grupos nacionais investiram de forma arrojada, esperando uma demanda internacional por biocombustíveis que
não se consumou. Os preços
também não colaboraram. O
agravamento da crise internacional em 2008 asfixiou o crédito e deixou as empresas com
margem financeira limitada.
A consultoria KPMG apurou
que, de 2000 a setembro deste
ano, o setor de açúcar e álcool
contou com 99 fusões e aquisições envolvendo empresas brasileiras. Apenas nos últimos
três anos, foram 45, sendo 22
negócios de empresas de capital estrangeiro adquirindo unidades de capital brasileiro estabelecidas no país.
Comparação
Mesmo com o avanço da consolidação, Neves avalia que a
participação estrangeira, que
não chega a 20%, ainda é muito
baixa no setor. "A questão da
concentração está longe de ser
preocupante." Ele compara
com a indústria de suco de laranja. "Uma usina e uma fábrica exigem investimento semelhante, da ordem de US$ 150
milhões a US$ 200 milhões.
Enquanto existem 15 fábricas
de suco, há mais de 400 usinas." Ele prevê que, até o fim da
próxima década, investidores
de outros países terão até 40%
do setor sucroenergético.
Segundo José Rezende, sócio
da PricewaterhouseCoopers, é
natural que esse processo de
consolidação continue.
Um universo de 400 a 450
usinas no país é controlado por
140 a 160 grupos, estima. Segundo ele, a participação estrangeira no setor é de 15%.
Eram 12% há quatro anos.
Com o bom momento do
mercado de açúcar, causado
pelas quebras de safra na Índia,
e com a demanda firme por álcool combustível por causa da
frota flex, as empresas brasileiras ganharam dois anos de fôlego. Esse impulso, porém, não
deve ser suficiente para companhias do setor replicarem a experiência de internacionalização de frigoríficos. "O espaço
para a influência do etanol brasileiro se limita à América Central e à África, no futuro."
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