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Conta de energia elétrica tem erro desde a privatização
Por isso, valor pago a mais pelos consumidores pode ser até maior do que R$ 10 bi
Previsão inicial era que erro vem desde 2002 e que valor seria de R$ 7 bi; tema entra hoje na pauta da CPI das Tarifas de Energia Elétrica
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O erro no cálculo da tarifa de
energia elétrica que gera cobrança indevida de R$ 1 bilhão
a mais por ano tem origem nos
contratos de concessão firmados no ato das privatizações das
elétricas, dizem especialistas
ouvidos pela Folha. Os primeiros contratos foram assinados
ainda no governo Fernando
Henrique Cardoso. As falhas
foram identificadas pelo TCU e
reveladas em reportagem da
Folha do dia 18 deste mês.
Com isso, o valor pago a mais
pelos consumidores pode ter
superado R$ 10 bilhões, ante
estimativa inicial de R$ 7 bilhões. O assunto entra hoje na
pauta da CPI das Tarifas de
Energia Elétrica, na Câmara
dos Deputados. Entre os convocados estão o diretor-geral
da Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica), Nelson Hubner e o secretário de energia
elétrica do Ministério de Minas
e Energia, Josias Matos de
Araújo. Para o presidente da
CPI, Eduardo da Fonte, o objetivo da comissão é pressionar o
governo para uma solução que
beneficie os consumidores.
A afirmação de que o problema está no contrato de concessão faz parte do relatório em fase de conclusão assinado por
três especialistas em regulação
do setor elétrico, ao qual a Folha teve acesso com exclusividade. Assinam o relatório os
engenheiros Ildo Sauer, professor de pós-graduação em energia do IEE/USP (Instituto Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo) e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras, Roberto Pereira D'Araujo,
consultor em energia e Carlos
Augusto Ramos Kirchner, diretor em energia do Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo).
A avaliação dos especialistas
contradiz a tese sustentada pela Aneel de que o problema começou em 2002, quando foi
publicada a portaria interministerial nº 25. Para eles, não
funcionará a sugestão da agência aos ministérios de Minas e
Energia e da Fazenda para que
seja republicada a portaria a
fim de solucionar o erro.
"O problema está na inconsistência matemática da fórmula de reajuste, que está turbinando uma parte da tarifa de
energia elétrica recebida pelas
distribuidoras. É por isso que
os reajustes tarifários são sempre muito mais altos do que a
inflação, produzindo lucro sobre o patrimônio líquido das
concessionárias muito acima
do razoável", afirma D'Araujo.
O relatório dos especialistas
subsidiará as ações dos órgãos
de defesa do consumidor, entre
os quais o Idec, o Procon-SP e a
Pro Teste.
Batalha jurídica
De acordo com os especialistas, a única solução para o caso
é a renegociação do contrato de
concessão entre a agência reguladora e as distribuidoras.
Sauer reconhece que o aditamento do contrato pode se converter numa batalha jurídica.
A Aneel já informou à Folha
que dificilmente os consumidores perderão ações com pedidos de ressarcimento movidas contra as distribuidoras. As
concessionárias, no entanto,
afirmam que apenas aplicam a
tarifa definida pela Aneel e que,
dessa forma, não há o que devolver aos consumidores.
"Não há outra solução fora a
Aneel reconhecer que existe
um erro na metodologia de cálculo dos reajustes tarifários e
fazer um aditamento de todos
os contratos para consertar a
falha", afirma Sauer.
A agência reguladora não dá
sinais de que tenha disposição
para isso. Ontem, a agência admitiu em nota a necessidade de
mudar o contrato de concessão, embora não veja como fazê-lo (leia ao lado). Já a associação das distribuidoras não
comentou o relatório.
A Aneel sustenta que o caso
se resolverá com nova versão
da portaria interministerial, a
partir da qual a agência poderia
fazer a compensação dos ganhos obtidos pelo aumento do
mercado de energia, algo que a
fórmula não captura hoje. Os
Ministérios de Minas e Energia
e da Fazenda, responsáveis pela publicação da chamada
"conta de compensação de variação da parcela A" -usada
para corrigir distorções ocorridas ao longo de um ano na fatia
da tarifa recolhida e repassada
ao governo-, não concordam
com a mudança. Acham que essa iniciativa pode ser interpretada pelas distribuidoras como
um ato de regulação, atribuição
exclusiva da Aneel.
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