São Paulo, quarta-feira, 28 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Descolamento pode não ter efeito positivo

JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"

O descolamento não deveria funcionar dessa maneira.
A grande teoria era que o descolamento dos mercados emergentes seria positivo para todos -eles cresceriam mesmo que os consumidores do mundo desenvolvido apanhassem um resfriado e ajudariam a superar os problemas comuns.
Os dados mais recentes sugerem um mundo descolado, mas isso não parece ter efeito positivo. Na Ásia, o BC da Índia enviou sinal de que já está começando a apertar novamente a política monetária. Os programas de ajuda aos bancos foram retirados, e a sua projeção de inflação foi elevada (uma questão política séria em um país no qual muita gente vive na pobreza). As ações indianas estão agora em seu menor nível nos últimos 30 dias, 8% abaixo do pico registrado recentemente.
Enquanto isso, a recuperação da economia da Coreia do Sul é espantosa. As exportações totais em setembro foram dois terços mais altas que as de janeiro. A preocupação agora é determinar se as autoridades terão de intervir para derrubar o valor do won [a moeda local], que subiu em um terço desde o pior momento da crise. O país está se beneficiando de sua decisão de fortalecer os vínculos com a China e atenuar as ligações com os Estados Unidos.
Enquanto a Ásia se superaquece, a confiança dos consumidores norte-americanos continua em ritmo de depressão. O indicador de confiança do instituto Conference Board tende a acompanhar a Bolsa. Quando as ações se saem bem, os consumidores são mais otimistas, e vice-versa.
Mas, a despeito da alta nas ações, a avaliação dos consumidores quanto ao momento presente caiu no mês passado ao seu nível mais baixo desde 1983, de acordo com o levantamento, enquanto o otimismo com relação ao futuro também mostrava séria queda. As duas coisas representaram surpresas desagradáveis para o mercado. A economia mais ampla ainda não consegue ver os motivos do otimismo que parece ter cativado Wall Street.
Assim, as economias asiáticas já chegaram a um ponto em que o principal perigo é o superaquecimento, enquanto os consumidores norte-americanos, apesar de todo o dinheiro que lhes foi encaminhado, continuam a se sentir mal. Isso não é encorajador.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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