São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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CONSTRUÇÃO CIVIL
Em SP, setor registra menor ocupação desde 82; empresário culpa modelo de privatização
Nível de emprego em obra pública desaba

MAURO TEIXEIRA
da Reportagem Local

A crise que reduziu o poder de investimento do governo e as privatizações praticamente dizimaram o emprego e ameaçam as empresas do setor de obras públicas.
No Estado de São Paulo, o setor registra em 1999 o seu mais baixo nível de ocupação desde 1982, quando a Apeop (Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas) começou a realizar um levantamento mensal.
Em outubro último, o setor empregava 70.771 trabalhadores, número três vezes menor do que o registrado em julho de 88, quando as empresas de obras públicas tinham um efetivo de 228.483 funcionários.
A situação não é diferente no Rio, onde a taxa de desemprego no setor é crescente. Entre julho de 96 e outubro passado, as construtoras de obras públicas demitiram 21.295 trabalhadores.
No mês passado, estavam empregados 15.569 pessoas no setor. Somente neste ano, foram demitidos 6.509 trabalhadores, o que representa uma redução de 29,4% nos empregos, segundo dados da Aeerj (Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro).

Modelo esgotado
"O fim da inflação e a globalização mostraram que o modelo de investimento do poder público se esgotou", avalia o presidente da Apeop, Paulo Godoy, que acha que a alteração no setor era "previsível e inevitável".
Para ele, as grandes obras de infra-estrutura já estão prontas. "O Brasil ainda precisa de muito investimento, mas não de grandes obras", afirma Godoy.
Os sindicalistas fazem o mesmo diagnóstico. "Há uma lógica simples para explicar a situação: o Estado não está investindo, apesar do grande déficit de obras de infra-estrutura", diz Antonio de Souza Ramalho, presidente do Sintracon-SP (sindicato dos trabalhadores da construção civil de São Paulo).
O sindicalista lembra que muitas das obras do programa Brasil em Ação, do governo Fernando Henrique Cardoso, não saíram do papel.
Segundo ele, o Sintracon-SP representa hoje 281 mil trabalhadores, 18 mil a menos do que no início deste ano.

Fim do mercado cativo
As privatizações dos setores de telecomunicações, energia e estradas também foram fundamentais para a mudança. As empresas brasileiras viram desaparecer o seu mercado cativo nas estatais com a chegada das companhias estrangeiras vencedoras dos leilões de privatização.
O modelo de privatização, aliás, é um dos principais alvos das críticas de empresários e trabalhadores. "Em muitos casos, a privatização significou queda da qualidade do emprego", diz Ramalho.
Ele afirma que a espanhola Telefônica causou a demissão de 30 mil trabalhadores das empresas que prestavam serviços para a Telesp. Porém o próprio Ramalho admite que as novas prestadoras de serviço para a Telefônica contrataram aproximadamente 45 mil pessoas.
"O problema é que a Telefônica, além de trazer trabalhadores de outros países, muitos sem qualificação, também criou uma mão-de-obra mais barata e despreparada", aponta Ramalho.
A Telefônica, por meio de sua assessoria de imprensa, diz que trabalha com valores de mercado e sempre busca a eficiência.
A empresa admite que no início do ano a falta de mão-de-obra especializada provocou alguns problemas, mas que a situação já foi normalizada. Por fim, diz que mantém o controle de qualidade do trabalho prestado por suas contratadas.

Omissão
Na opinião do empresário Arlindo Machado Moura, sócio da construtora Planova, "a privatização parece ter sido feita para eliminar empregos de brasileiros".
Moura acha que o governo foi omisso e deveria ter criado regras claras com relação ao emprego e às empresas brasileiras.
"Não estou defendendo uma reserva de mercado, mas acho que a empresa nacional deveria ter tido mais oportunidade."


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