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CONSTRUÇÃO CIVIL
Em SP, setor registra menor ocupação desde 82; empresário culpa modelo de privatização
Nível de emprego em obra pública desaba
MAURO TEIXEIRA
da Reportagem Local
A crise que reduziu o poder de
investimento do governo e as privatizações praticamente dizimaram o emprego e ameaçam as empresas do setor de obras públicas.
No Estado de São Paulo, o setor
registra em 1999 o seu mais baixo
nível de ocupação desde 1982,
quando a Apeop (Associação
Paulista de Empresários de Obras
Públicas) começou a realizar um
levantamento mensal.
Em outubro último, o setor empregava 70.771 trabalhadores, número três vezes menor do que o
registrado em julho de 88, quando as empresas de obras públicas
tinham um efetivo de 228.483
funcionários.
A situação não é diferente no
Rio, onde a taxa de desemprego
no setor é crescente. Entre julho
de 96 e outubro passado, as construtoras de obras públicas demitiram 21.295 trabalhadores.
No mês passado, estavam empregados 15.569 pessoas no setor.
Somente neste ano, foram demitidos 6.509 trabalhadores, o que representa uma redução de 29,4%
nos empregos, segundo dados da
Aeerj (Associação das Empresas
de Engenharia do Rio de Janeiro).
Modelo esgotado
"O fim da inflação e a globalização mostraram que o modelo de
investimento do poder público se
esgotou", avalia o presidente da
Apeop, Paulo Godoy, que acha
que a alteração no setor era "previsível e inevitável".
Para ele, as grandes obras de infra-estrutura já estão prontas. "O
Brasil ainda precisa de muito investimento, mas não de grandes
obras", afirma Godoy.
Os sindicalistas fazem o mesmo
diagnóstico. "Há uma lógica simples para explicar a situação: o Estado não está investindo, apesar
do grande déficit de obras de infra-estrutura", diz Antonio de
Souza Ramalho, presidente do
Sintracon-SP (sindicato dos trabalhadores da construção civil de
São Paulo).
O sindicalista lembra que muitas das obras do programa Brasil
em Ação, do governo Fernando
Henrique Cardoso, não saíram do
papel.
Segundo ele, o Sintracon-SP representa hoje 281 mil trabalhadores, 18 mil a menos do que no início deste ano.
Fim do mercado cativo
As privatizações dos setores de
telecomunicações, energia e estradas também foram fundamentais para a mudança. As empresas
brasileiras viram desaparecer o
seu mercado cativo nas estatais
com a chegada das companhias
estrangeiras vencedoras dos leilões de privatização.
O modelo de privatização, aliás,
é um dos principais alvos das críticas de empresários e trabalhadores. "Em muitos casos, a privatização significou queda da qualidade do emprego", diz Ramalho.
Ele afirma que a espanhola Telefônica causou a demissão de 30
mil trabalhadores das empresas
que prestavam serviços para a Telesp. Porém o próprio Ramalho
admite que as novas prestadoras
de serviço para a Telefônica contrataram aproximadamente 45
mil pessoas.
"O problema é que a Telefônica,
além de trazer trabalhadores de
outros países, muitos sem qualificação, também criou uma mão-de-obra mais barata e despreparada", aponta Ramalho.
A Telefônica, por meio de sua
assessoria de imprensa, diz que
trabalha com valores de mercado
e sempre busca a eficiência.
A empresa admite que no início
do ano a falta de mão-de-obra especializada provocou alguns problemas, mas que a situação já foi
normalizada. Por fim, diz que
mantém o controle de qualidade
do trabalho prestado por suas
contratadas.
Omissão
Na opinião do empresário Arlindo Machado Moura, sócio da
construtora Planova, "a privatização parece ter sido feita para eliminar empregos de brasileiros".
Moura acha que o governo foi
omisso e deveria ter criado regras
claras com relação ao emprego e
às empresas brasileiras.
"Não estou defendendo uma reserva de mercado, mas acho que a
empresa nacional deveria ter tido
mais oportunidade."
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