São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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CONSUMO
Mesmo com a crise no país, desempenho da grife de luxo em São Paulo é um dos melhores do mundo
Venda da Montblanc exibe desigualdade

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local

Nem Paris nem Nova York ou Tóquio. A butique da grife de produtos de luxo Montblanc que mais vendeu em todo o mundo nos últimos anos está muito mais perto: é a loja instalada na estratégica esquina das ruas Haddock Lobo e Oscar Freire, no centro do quadrilátero de ouro do comércio paulistano dedicado aos ricos e aos emergentes.
Em 98, a loja de São Paulo já tinha sido suplantada pela de Nova York, e as vendas deste ano no Brasil foram prejudicadas pela desvalorização do real. Mesmo assim, entre as 120 lojas da Montblanc no mundo, a butique paulistana deve ficar entre as 5 que mais venderam em 1999.
Oitava maior economia do mundo e com um dos piores índices de distribuição de renda, o Brasil é o quinto maior mercado para a Montblanc, que calcula que haja 1,5 milhão de pessoas no país com alto poder de compra. Foram esses consumidores que garantiram taxas de aumento das vendas de 10% a 20% nos últimos anos e de 5% a 10% em 1999.
Não há pesquisa abrangente sobre o mercado de luxo no país, mas calcula-se que cerca de 120 mil pessoas estejam empregadas por fabricantes, importadores e lojistas desses produtos -quase um terço dos trabalhadores do setor automobilístico.
Além disso, a profusão de butiques de grifes instaladas no país nesta década e a permanência da maioria delas mesmo com a desvalorização do real (que provocou um aumento no preço dos importados) são indicativos de que o supérfluo vende muito, mesmo nas crises econômicas. Levantamento informal de um consultor mostra que, de dez grifes de luxo que se instalaram no país nos últimos anos ,apenas duas foram embora.
"Comprar um produto de luxo tem muito a ver com amor, por si mesmo ou por outra pessoa. E o amor não desaparece com a crise", diz Norbert Platt, presidente da Montblanc International, que esteve no Brasil para a inauguração da quarta loja no país.
"Infelizmente, as crises costumam deixar os ricos mais ricos e os mais pobres ainda pior", afirma Freddy Rabbat, diretor de marketing da Montblanc no Brasil. Talvez as crises até ajudem a vender luxo. "Quem tem dinheiro ou está fazendo sucesso quer mostrar que está bem e uma maneira de fazer isso é usar uma caneta de grife ou uma roupa luxuosa", segundo Rabbat.
A reação da empresa à demanda dos brasileiros tem sido rápida: em cinco anos, desde a abertura da primeira butique na rua Oscar Freire, já foram instaladas mais três e planeja-se mais uma ou duas para o ano 2000. O investimento em cada uma é de cerca de R$ 2 milhões sem contar o custo do ponto. Nos outros países da América do Sul, há cinco lojas.
E o Brasil está sendo o primeiro mercado a receber as jóias femininas da marca Montblanc, ampliando a linha de canetas, relógios e itens de couro.
"Quem vende produtos de luxo não corre atrás do consumidor; nesse mercado, o consumidor é quem corre atrás do produto", complementa Platt.
Talvez a Montblanc não esteja perseguindo os consumidores, mas está procurando atrair mais mulheres para suas lojas.
Até agora, a grife era identificada muito mais com os homens, mas sua direção passou a constatar que mulheres estavam comprando mais relógios e canetas Montblanc em busca de um símbolo de poder.


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