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CONSUMO
Mesmo com a crise no país, desempenho da grife de luxo em São Paulo é um dos melhores do mundo
Venda da Montblanc exibe desigualdade
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local
Nem Paris nem Nova York ou
Tóquio. A butique da grife de produtos de luxo Montblanc que
mais vendeu em todo o mundo
nos últimos anos está muito mais
perto: é a loja instalada na estratégica esquina das ruas Haddock
Lobo e Oscar Freire, no centro do
quadrilátero de ouro do comércio
paulistano dedicado aos ricos e
aos emergentes.
Em 98, a loja de São Paulo já tinha sido suplantada pela de Nova
York, e as vendas deste ano no
Brasil foram prejudicadas pela
desvalorização do real. Mesmo
assim, entre as 120 lojas da Montblanc no mundo, a butique paulistana deve ficar entre as 5 que
mais venderam em 1999.
Oitava maior economia do
mundo e com um dos piores índices de distribuição de renda, o
Brasil é o quinto maior mercado
para a Montblanc, que calcula que
haja 1,5 milhão de pessoas no país
com alto poder de compra. Foram esses consumidores que garantiram taxas de aumento das
vendas de 10% a 20% nos últimos
anos e de 5% a 10% em 1999.
Não há pesquisa abrangente sobre o mercado de luxo no país,
mas calcula-se que cerca de 120
mil pessoas estejam empregadas
por fabricantes, importadores e
lojistas desses produtos -quase
um terço dos trabalhadores do setor automobilístico.
Além disso, a profusão de butiques de grifes instaladas no país
nesta década e a permanência da
maioria delas mesmo com a desvalorização do real (que provocou um aumento no preço dos
importados) são indicativos de
que o supérfluo vende muito,
mesmo nas crises econômicas.
Levantamento informal de um
consultor mostra que, de dez grifes de luxo que se instalaram no
país nos últimos anos ,apenas
duas foram embora.
"Comprar um produto de luxo
tem muito a ver com amor, por si
mesmo ou por outra pessoa. E o
amor não desaparece com a crise", diz Norbert Platt, presidente
da Montblanc International, que
esteve no Brasil para a inauguração da quarta loja no país.
"Infelizmente, as crises costumam deixar os ricos mais ricos e
os mais pobres ainda pior", afirma Freddy Rabbat, diretor de
marketing da Montblanc no Brasil. Talvez as crises até ajudem a
vender luxo. "Quem tem dinheiro
ou está fazendo sucesso quer
mostrar que está bem e uma maneira de fazer isso é usar uma caneta de grife ou uma roupa luxuosa", segundo Rabbat.
A reação da empresa à demanda dos brasileiros tem sido rápida:
em cinco anos, desde a abertura
da primeira butique na rua Oscar
Freire, já foram instaladas mais
três e planeja-se mais uma ou
duas para o ano 2000. O investimento em cada uma é de cerca de
R$ 2 milhões sem contar o custo
do ponto. Nos outros países da
América do Sul, há cinco lojas.
E o Brasil está sendo o primeiro
mercado a receber as jóias femininas da marca Montblanc, ampliando a linha de canetas, relógios e itens de couro.
"Quem vende produtos de luxo
não corre atrás do consumidor;
nesse mercado, o consumidor é
quem corre atrás do produto",
complementa Platt.
Talvez a Montblanc não esteja
perseguindo os consumidores,
mas está procurando atrair mais
mulheres para suas lojas.
Até agora, a grife era identificada muito mais com os homens,
mas sua direção passou a constatar que mulheres estavam comprando mais relógios e canetas
Montblanc em busca de um símbolo de poder.
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