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Agrofolha
Brasil "ensina" concorrentes a beber café
Empresa de marketing buscará aumentar o consumo em países produtores com baixo percentual de uso do próprio grão
Produtores brasileiros serão beneficiados pelo sucesso do programa, pois terão mais espaço para o café nacional nos mercados
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL AO ESPÍRITO SANTO
O Brasil é um dos poucos países que, além de grande produtor, também é grande consumidor de café. Pelo menos 45% do
que se produz por aqui é consumido pelos próprios brasileiros. No Vietnã, o segundo
maior produtor mundial, o
consumo interno é de apenas
6% do que se produz.
A Organização Internacional
do Café quer mudar essa tendência e incentivar o consumo
de café nos países produtores.
Uma empresa brasileira, a P&A
Marketing Internacional, com
20 anos de experiência no setor, está encarregada de elevar
o consumo nesses países produtores com baixo percentual
de utilização do próprio café.
Índia, México e Indonésia já
iniciam programas em conjunto com a P&A, enquanto El Salvador manterá o primeiro contato com a empresa em janeiro.
El Salvador é a base para o desenvolvimento de um programa em toda a América Central.
O programa é ousado e espera dobrar o consumo de café em
alguns desses países em apenas
cinco anos. Carlos Henrique
Jorge Brando, da P&A, diz que
"Índia, México e Indonésia têm
população de 1,5 bilhão de pessoas e consomem 5 milhões de
sacas de café atualmente. A
previsão é que esse volume suba para 7 milhões a 9 milhões
de sacas em cinco anos".
Com o desenvolvimento desses programas, "o grande ganhador será o Brasil, que terá
espaço maior para o produto
nacional nesses mercados. Esses países não têm como elevar
a produção e vão ter de importar café", afirma Brando.
Um dos pontos dessa busca
pela elevação no consumo de
café nos países produtores é o
exemplo brasileiro, que saiu de
12 milhões de sacas para 16 milhões em poucos anos.
Peculiaridades
Brando diz, no entanto, que
"nem tudo que foi bom para o
Brasil será para esses países,
que têm consumo com características próprias". Alguns deles
já tentaram implantar um programa semelhante ao brasileiro
e falharam.
Brando diz que cada mercado
tem peculiaridades que devem
ser respeitadas. Na Índia, o café
vem misturado com chicória
(uma raiz que é torrada, moída
e adicionada ao café). O programa pretende criar uma certificação sobre a quantidade de
adição de chicória para o consumidor saber o que está comprando.
Na Indonésia, o café é misturado ao milho. Essa mistura é
legalizada, e o importante é o
consumidor saber qual o teor
de mistura. No México, o café
não tem mistura, mas a gama
de produtos colocada à venda é
muito grande, e o consumidor
não tem noção do que está
comprando.
Apesar de problemas específicos, esses países têm de dar algumas soluções comuns a seus
mercados, como uma rotulagem especificando as características e a qualidade dos cafés.
Uma espécie de selo de qualidade como o criado pela Abic (Associação Brasileira da Indústria
de Café) no Brasil e que permitiu o aumento do consumo interno.
Os caminhos para esses países atingirem o objetivo de aumento será descobrir, por meio
de pesquisas, os problemas do
mercado. O programa vai utilizar, ainda, ferramentas já adotadas no Brasil, como concursos de qualidade e leilões. Além
disso, Brando diz que serão necessários acordos institucionais com parcerias entre governo e iniciativa privada.
Medidas
A P&A está fazendo reuniões
com toda a cadeia -produção,
indústria e revendas- para
adotar linhas estratégicas. O
programa passa pela criação de
transparência na apresentação
do produto, certificações de
qualidade e indicação do café
como um produto saudável e
benéfico à saúde.
O avanço do consumo nesses
países passa, ainda, pela resolução de problemas específicos
de cada um deles. Na Índia, por
exemplo, há uma discriminação fiscal contra a importação
de equipamentos destinados a
café, ao contrário dos destinados ao chá.
No México, o consumo está
concentrado apenas no café da
manhã. Já na Indonésia, o tipo
de preparação do café -o pó
também vai à xícara- começa a
desagradar aos jovens.
O programa de apoio ao aumento de consumo de café deverá ter recursos não só das entidades locais mas também do
Fundo Comum de Produtos
Básicos, sediado na Holanda e
com recursos dos países da
União Européia.
O jornalista MAURO ZAFALON viajou a convite da Abic (Associação
Brasileira da Indústria de Café)
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