São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

O desastre da oposição ao governo


Movimento social rende-se a Lula; PSDB e PFL dedicam-se à política de picuinhas e má-fé; oposicionismo vive apagão


O PFL renovou-se, segundo a análise de Fernando Henrique Cardoso em entrevista a esta Folha, no domingo passado. O partido não seria mais o restolho da ditadura, embora o ex-presidente não tenha avaliado se os pefelês teriam deixado de ser a memória viva do coronelato, eternos vira-casacas à procura de boquinhas, aglomerado de gente que jamais teve outra motivação política que a cupidez patrimonialista.
Mas FHC avalia que o PFL teria, sim, programa. Seria o primeiro partido a defender sistematicamente a redução dos impostos. De fato, tem sido essa a mais recente conversa fiada do PFL. Ressalve-se o quase inexistente PFL de São Paulo. Os pefelês paulistas talvez mereçam alguma credencial antiestatista -vide o caso de Guilherme Afif Domingos. Mas consideremos o resto dos pefelês.
Ontem mesmo, ao reagir a mais uma tolice desorientada e demagógica do governo Lula, viu-se a profundidade das convicções e a natureza do caráter dos pefelês. O que disse o PFL em relação ao acordo do salário mínimo, que provocará o aumento crescente do gasto previdenciário em relação ao PIB?
Os pefelês dizem que vão pugnar por um mínimo ainda maior, de R$ 420, diz o líder do partido na Câmara, deputado federal Rodrigo Maia, essa triste figura da obsolescência incipiente ou da renovação natimorta do conservadorismo.
Afora ser manifestação do espírito de porco mais vulgar, a defesa de tal medida estouraria de vez as contas públicas ou demandaria mais aumento de impostos.
Mas os pefelês são useiros e vezeiros em tais fraudulências. Levaram adiante a idéia do "13º salário" para os recipientes do Bolsa Família e outros exemplos mais ou menos infames de ataques ao bom senso fiscal. A história do PFL é plena dessas velhacarias. O partido defensor do contribuinte foi cúmplice do governo que mais aumentou impostos, o de FHC; apoiou a grande rapina dos cofres públicos e do dinheiro do cidadão, obra do governo de Fernando Collor.
O PSDB, a outra asa quebrada da oposição, apóia as ações velhacas do PFL. Partido supostamente dado a idéias e programas, agora torna-se coadjuvante da má-fé pefelista. O que foi feito do tucanato?
A discursalhada "ética" morreu assim que terminou a eleição. O presidente do partido, Tasso Jereissatti, apóia a carreira presidencial de um lulista de proa, Ciro Gomes. O candidato fracassado a presidente Geraldo Alckmin renegou em público seu programa já modesto de reorganização fiscal do governo, apavorado com a demagogia do lulismo-petismo. Mesmo antes de ceder ao populismo eleitoreiro, seu projeto já desconversava sobre o essencial da crise do Estado e da regulação do mercado.
Lula não tem oposição. Os movimentos sociais restantes renderam-se ao presidente. As instituições financeiras se dão por satisfeitas por terem capturado os setores do Estado que lhe parecem relevantes. Os dois partidos maiores que não se entregaram de todo à boquinha federal, PSDB e PFL, dedicam-se à picuinha e não têm projeto ou ao que dizer ao povo. Chegamos ao apagão político.

vinit@uol.com.br


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