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Trabalhador poderá usar FGTS em fundo de obras
Aplicação segue modelo que permitiu compra de ações de Petrobras e Vale no início da década
Fundo que investe em projetos de infra-estrutura deve oferecer, pelo menos,
o dobro da rentabilidade do FGTS, afirma o governo
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Os trabalhadores poderão
usar, em 2009, parte dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para
aplicar em investimentos em
infra-estrutura.
Assim como em 2000, quando o governo permitiu o uso de
parte do FGTS para a compra
de ações da Petrobras, e em
2002, quando o fez com a Vale
do Rio Doce, desta vez a autorização será para a aplicação no
FI-FGTS (Fundo de Investimento do FGTS), que é administrado pela CEF (Caixa Econômica Federal).
O objetivo do governo ao autorizar o uso de parte dos recursos do FGTS no FI-FGTS é
evitar que a escassez de crédito
gere uma freada nos investimentos em infra-estrutura.
Os recursos do fundo do
FGTS também têm sido uma
importante fonte de investimento, inclusive do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
para reforço de seu caixa nestes
tempos de crise.
Além disso, essa decisão do
governo também vai permitir
ao trabalhador ter uma opção
de aplicar parte do FGTS num
fundo que promete um rendimento superior ao atual. Os recursos depositados no FGTS
rendem TR (Taxa Referencial)
mais 3% ao ano. Já as aplicações do FI-FGTS são garantidas pelo Tesouro e se comprometem a um rendimento de no
mínimo TR mais 6% ao ano.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que preside o conselho curador do FGTS (ao qual o
FI-FGTS está subordinado),
afirmou à Folha que já existe
um grupo técnico estudando a
adoção dessa medida. Segundo
ele, a decisão será tomada em
março, na primeira reunião do
conselho curador do FGTS do
ano. "Será uma opção que pode
dar ao trabalhador um ganho
maior com os recursos do fundo de garantia", diz Lupi.
A lei que instituiu o FI-FGTS
já autoriza essa possibilidade
de permitir ao trabalhador
aplicar até 10% do FGTS no
fundo de investimento, mas o
conselho curador do FGTS decidiu não aprovar essa decisão
num primeiro momento. O
fundo primeiro precisava ser
testado, e o país ainda não vivia
os problemas de restrição ao
crédito com a crise global.
No início do ano, quando o
FI-FGTS foi autorizado a funcionar, seu orçamento inicial
era de R$ 5 bilhões, mas, com a
crise, esse montante acabou se
mostrando insuficiente. Nos
últimos dois meses, o conselho
curador autorizou mais dois
aportes de R$ 5 bilhões para
atender as necessidades de financiamento do fundo.
O conselho curador também
autorizou o repasse de R$ 7 bilhões desses recursos adicionais para reforçar o orçamento
do BNDES. Até dezembro, o
FI-FGTS aprovou R$ 11,3 bilhões em projetos de saneamento e infra-estrutura, sendo
que mais da metade foi investida em debêntures emitidas pelo BNDES.
A expectativa é a de que, ainda no primeiro semestre de
2009, o FI-FGTS já tenha
aprovado cerca de R$ 18 bilhões em financiamento.
Rendimento
De acordo com o ministro do
Trabalho, todos esses financiamentos terão um rendimento
superior ao do FGTS. Dos R$
11,3 bilhões aprovados neste
ano, 64% irão render TR mais
9%, 15% serão corrigidos pelo
IPCA, 12% pelo CDI e 9% pelo
mercado. O mínimo garantido
pelo Tesouro, segundo Lupi, é
de TR mais 6%.
Hoje, o orçamento do FI-FGTS soma R$ 15 bilhões, mas
será ampliado com a permissão
de o trabalhador aplicar parte
do FGTS no fundo.
Se as pessoas com conta no
FGTS usarem todo o saldo que
poderão investir no FI-FGTS, o
fundo terá um aporte adicional
de R$ 15 bilhões, mas essa previsão, hoje, é muito difícil de ser
feita. A opção do trabalhador
será voluntária. De qualquer
forma, se forem necessários
mais recursos para atender às
necessidades de investimento
em infra-estrutura, Lupi afirma que o conselho curador irá
aprovar mais aportes do FGTS.
O caixa do FGTS gira em torno
de R$ 150 bilhões.
"Vamos fazer mais aportes se
necessário", diz Lupi.
O vice-presidente de ativos
de terceiros da Caixa Econômica Federal, Bolivar Tarragó,
que responde pela administração do FI-FGTS, afirma que,
apesar de o fundo ter sido criado no início deste ano, a demanda só aumentou mesmo no
segundo semestre, depois de
ter explodido a crise financeira
global. Mais de 70% dos 72 projetos aprovados foram apresentados no segundo semestre.
Para 2009, já existem 45 projetos sendo analisados nas
áreas de energia, logística e saneamento, que representam
investimentos superiores a R$
10 bilhões. "O investidor estrangeiro se retraiu, e o empreendedor nacional correu
para o FI-FGTS", diz Tarragó.
Energia
O FI-FGTS é formado com
recursos do patrimônio líquido
do FGTS e tem por finalidade
investir em projetos de infra-estrutura nos setores de rodovias, portos, hidrovias, ferrovias e energia. O fundo tem autorização de investir até 90%
do total do projeto.
Dos R$ 11,3 bilhões já aprovados em financiamentos pelo
FI-FGTS, R$ 9,2 bilhões foram
para o setor de energia. Desse
total, R$ 4,3 bilhões para hidrelétricas, R$ 2,7 bilhões para infra-estrutura complementar,
R$ 625 milhões para geração,
R$ 550 milhões para co-geração, R$ 306 milhões para distribuição, R$ 200 milhões para
transmissão, R$ 171 milhões
para termoelétricas e R$ 130
milhões para pequenas centrais hidrelétricas.
Além de energia, também foram aprovados financiamentos
para investimentos nos seguintes setores: ferrovias (R$ 903
milhões), portos (R$ 708 milhões), rodovias (R$ 500 milhões) e saneamento (R$ 60
milhões).
Segundo a CEF, esses projetos devem gerar 608.147 novos
empregos diretos e 317.548 indiretos -um total de 925.695
empregos diretos e indiretos.
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