São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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Meirelles diz a Lula que BC reduzirá juros

Promessa foi feita após o Copom decidir pela manutenção da taxa em 13,75%; próxima reunião ocorre nos dias 20 e 21 de janeiro

Para o presidente, redução dos juros já no começo de 2009 criaria ambiente mais favorável à manutenção da produção e dos empregos

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prometeu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que vai reduzir em janeiro a taxa básica de juros (Selic), segundo apurou a Folha. A próxima reunião para fixar a Selic está marcada para os dias 20 e 21 do mês que vem.
A promessa de Meirelles a Lula foi feita em encontro no Palácio do Planalto logo depois de o Copom (Comitê de Política Monetária) ter decidido manter a Selic em 13,75% ao ano na reunião que fez nos dias 9 e 10 deste dezembro.
Em tom duro, dizendo-se bastante contrariado com a última decisão do Copom, Lula cobrou explicações de Meirelles para não reduzir os juros, como era esperado pelo Palácio do Planalto. O Copom, formado por Meirelles e pelos sete diretores do BC, reúne-se a cada 45 dias para fixar a Selic.
No encontro no Planalto, o presidente do Banco Central disse a Lula que o BC optou por ser cauteloso porque ainda não estava seguro do tamanho do efeito que a valorização recente do dólar terá sobre os preços. Ou seja, se a desvalorização do real vai resultar em mais inflação entre este final de ano e o começo de 2009.
Na conversa com o presidente da República, Meirelles apresentou tabelas para mostrar que a chamada curva futura dos juros caiu após a decisão do BC de manter a Selic inalterada. Trocando em miúdos: segundo o presidente do BC, o mercado reduziu sua previsão de juros futuros porque o BC foi duro e sinalizou a manutenção da autonomia operacional dada por Lula à instituição.
No Ministério da Fazenda, o entendimento para o mercado ter feito projeção menor dos juros básicos é outro. Para a Fazenda, quando o comunicado do BC disse que foi cogitada a redução dos juros já na reunião de dezembro, o mercado entendeu como um sinal de corte iminente da taxa e a precificou. Ou seja, antecipou-se, reduzindo a previsão de juros.

Debate quente
Está quente o debate sobre juros no governo. Lula pediu ao ministro Guido Mantega (Fazenda) que não fizesse declarações públicas porque, toda vez que isso acontece, a diretoria do BC reagiria corporativamente e adotaria a posição mais conservadora para reforçar sua autonomia operacional.
Reservadamente, Lula tem dito que não vai tirar Meirelles em meio à crise econômica, porque poderia transmitir um sinal ruim ao mercado. No entanto, o presidente da República intensificou a pressão direta sobre o presidente do Banco Central, algo que sempre aconteceu nos últimos seis anos e que é negado publicamente por Lula e Meirelles.
Apesar da promessa de redução dos juros, o Palácio do Planalto não espera uma queda significativa da taxa agora em janeiro. Na avaliação de Lula, o BC vai reduzir a taxa a conta-gotas, em decisões de 0,25 ponto percentual a cada reunião, até fazer uma avaliação dos efeitos da valorização do dólar sobre a inflação.
Uma queda superior a 0,25 ponto percentual seria uma surpresa para o presidente, disse à Folha um dos ministros que acompanham os bastidores da tensa relação entre BC, Fazenda e Palácio do Planalto.
Para Lula, é importante o BC reduzir os juros já no começo do ano. Na sua avaliação, isso ajudaria a criar um ambiente mais positivo entre empresários para a manutenção do ritmo de produção e do nível de empregos. O presidente da República deseja esse sinal explícito na reunião de dezembro, mas foi feita uma sinalização política pelo Copom, quando admitiu que a maioria de seus integrantes discutiu reduzir a Selic naquele encontro.


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