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Meirelles diz a Lula que BC reduzirá juros
Promessa foi feita após o Copom decidir pela manutenção da taxa em 13,75%; próxima reunião ocorre nos dias 20 e 21 de janeiro
Para o presidente, redução dos juros já no começo de 2009 criaria ambiente mais favorável à manutenção da produção e dos empregos
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prometeu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que vai reduzir
em janeiro a taxa básica de juros (Selic), segundo apurou a
Folha. A próxima reunião para
fixar a Selic está marcada para
os dias 20 e 21 do mês que vem.
A promessa de Meirelles a
Lula foi feita em encontro no
Palácio do Planalto logo depois
de o Copom (Comitê de Política
Monetária) ter decidido manter a Selic em 13,75% ao ano na
reunião que fez nos dias 9 e 10
deste dezembro.
Em tom duro, dizendo-se
bastante contrariado com a última decisão do Copom, Lula
cobrou explicações de Meirelles para não reduzir os juros,
como era esperado pelo Palácio
do Planalto. O Copom, formado
por Meirelles e pelos sete diretores do BC, reúne-se a cada 45
dias para fixar a Selic.
No encontro no Planalto, o
presidente do Banco Central
disse a Lula que o BC optou por
ser cauteloso porque ainda não
estava seguro do tamanho do
efeito que a valorização recente
do dólar terá sobre os preços.
Ou seja, se a desvalorização do
real vai resultar em mais inflação entre este final de ano e o
começo de 2009.
Na conversa com o presidente da República, Meirelles
apresentou tabelas para mostrar que a chamada curva futura dos juros caiu após a decisão
do BC de manter a Selic inalterada. Trocando em miúdos: segundo o presidente do BC, o
mercado reduziu sua previsão
de juros futuros porque o BC
foi duro e sinalizou a manutenção da autonomia operacional
dada por Lula à instituição.
No Ministério da Fazenda, o
entendimento para o mercado
ter feito projeção menor dos juros básicos é outro. Para a Fazenda, quando o comunicado
do BC disse que foi cogitada a
redução dos juros já na reunião
de dezembro, o mercado entendeu como um sinal de corte
iminente da taxa e a precificou.
Ou seja, antecipou-se, reduzindo a previsão de juros.
Debate quente
Está quente o debate sobre
juros no governo. Lula pediu ao
ministro Guido Mantega (Fazenda) que não fizesse declarações públicas porque, toda vez
que isso acontece, a diretoria
do BC reagiria corporativamente e adotaria a posição
mais conservadora para reforçar sua autonomia operacional.
Reservadamente, Lula tem
dito que não vai tirar Meirelles
em meio à crise econômica,
porque poderia transmitir um
sinal ruim ao mercado. No entanto, o presidente da República intensificou a pressão direta
sobre o presidente do Banco
Central, algo que sempre aconteceu nos últimos seis anos e
que é negado publicamente por
Lula e Meirelles.
Apesar da promessa de redução dos juros, o Palácio do Planalto não espera uma queda
significativa da taxa agora em
janeiro. Na avaliação de Lula, o
BC vai reduzir a taxa a conta-gotas, em decisões de 0,25 ponto percentual a cada reunião,
até fazer uma avaliação dos
efeitos da valorização do dólar
sobre a inflação.
Uma queda superior a 0,25
ponto percentual seria uma
surpresa para o presidente, disse à Folha um dos ministros
que acompanham os bastidores da tensa relação entre BC,
Fazenda e Palácio do Planalto.
Para Lula, é importante o BC
reduzir os juros já no começo
do ano. Na sua avaliação, isso
ajudaria a criar um ambiente
mais positivo entre empresários para a manutenção do ritmo de produção e do nível de
empregos. O presidente da República deseja esse sinal explícito na reunião de dezembro,
mas foi feita uma sinalização
política pelo Copom, quando
admitiu que a maioria de seus
integrantes discutiu reduzir a
Selic naquele encontro.
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