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Com crise, Chávez reduz compra de dólar a US$ 2.500
Para analistas, primeira medida anticrise do governo é uma forma de atacar a classe média, opositora ao chavismo
Atual cota é de US$ 5.000; país pode ser o mais afetado na região, mas Chávez deve anunciar outras medidas só após referendo da reeleição
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Pressionado pelo baixo preço
do petróleo, o governo venezuelano anunciou que reduzirá
no próximo ano a cota de dólares para viagens ao exterior. Será a primeira medida do presidente Hugo Chávez em resposta à crise econômica e afetará
principalmente as classes média e alta, majoritariamente
oposicionistas.
De acordo com as rígidas regras cambiais venezuelanas,
cada cidadão não pode, legalmente, comprar mais do que
US$ 5.000 por ano, numa transação mediada pelo governo
nacional via Cadivi (Comissão
de Admissão de Divisas). A expectativa é que essa cota seja
reduzida a pelo menos US$
2.500 para o ano que vem.
A medida foi antecipada há
alguns dias pelo ministro das
Finanças, Ali Rodriguez. Mas a
indefinição sobre o valor e sobre quando a medida será implantada -especula-se que será entre janeiro e março- desvalorizou ainda mais a moeda
local no câmbio paralelo. No
começo da semana, US$ 1 estava a cotado a 5,5 bolívares, enquanto o câmbio oficial permanece congelado em 2,15 bolívares -uma diferença de 155%.
Com o dólar caro no mercado
paralelo, a medida deve reduzir
significativamente os gastos
dos venezuelanos no estrangeiro. Neste ano, a estimativa é a
de que o Cadivi distribua US$ 5
bilhões em cotas, 10% da demanda por dólares.
A economia venezuelana está cada vez mais pressionada
pela queda brusca do petróleo,
responsável por 94% das exportações do país. O preço do
barril local está cotado em apenas US$ 27,10, queda de 79,8%
em relação ao valor máximo
deste ano -US$ 134 por barril.
Mesmo assim, o governo
Chávez ainda não promoveu
mudanças na política econômica. Em clima de campanha eleitoral, a Venezuela é o único país
latino-americano que até agora
não adotou nenhuma medida
oficial anticrise, segundo levantamento feito pela Cepal
(Comissão Econômica para
América Latina e Caribe).
Na semana passada, Chávez
disse que a Venezuela ainda
não foi afetada pela crise porque seu governo "desenganchou [o país] da locomotiva capitalista", mas que o impacto é
incerto por causa da instabilidade no preço do petróleo.
Para analistas críticos a Chávez, a redução da cota a viajantes tem uma lógica política, já
que afetará sobretudo camadas
da população chamadas de "esquálidos" pelos chavistas. Para
o governo socialista, os dólares
a viajantes são considerados
um supérfluo subsídio para a
classe média viajar ao exterior.
Na avaliação desses analistas,
medidas mais urgentes e impopulares, como a redução do gasto público e a desvalorização do
bolívar, só serão tomadas após
o referendo convocado por
Chávez sobre a emenda constitucional da reeleição presidencial indefinida. Ainda não há
data marcada, mas o governo
tem pressa e quer realizar a
consulta nacional já no dia 15
de fevereiro.
"A queda dos ingressos petroleiros é tão aguda que o governo pode atrasar algumas
medidas duras, mas claramente está antecipando medidas
não-oficiais, como o atraso no
pagamento de fornecedores da
PDVSA [estatal petroleira]",
disse à Folha o economista Orlando Ochoa, da Universidade
Católica Andrés Bello.
As previsões para a Venezuela variam bastante. Segundo
relatório sobre a América Latina da Economist Inteligence
Unit (EIU), a Venezuela será o
país da região mais afetado pela
crise. O informe prevê uma retração do PIB de 3%, em 2009,
e de 5,4% em 2010. Mais otimista, a Cepal prevê que o PIB
local cresça 3% em 2009, acima
da média regional (1,9%).
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