São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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Com crise, Chávez reduz compra de dólar a US$ 2.500

Para analistas, primeira medida anticrise do governo é uma forma de atacar a classe média, opositora ao chavismo

Atual cota é de US$ 5.000; país pode ser o mais afetado na região, mas Chávez deve anunciar outras medidas só após referendo da reeleição

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Pressionado pelo baixo preço do petróleo, o governo venezuelano anunciou que reduzirá no próximo ano a cota de dólares para viagens ao exterior. Será a primeira medida do presidente Hugo Chávez em resposta à crise econômica e afetará principalmente as classes média e alta, majoritariamente oposicionistas.
De acordo com as rígidas regras cambiais venezuelanas, cada cidadão não pode, legalmente, comprar mais do que US$ 5.000 por ano, numa transação mediada pelo governo nacional via Cadivi (Comissão de Admissão de Divisas). A expectativa é que essa cota seja reduzida a pelo menos US$ 2.500 para o ano que vem.
A medida foi antecipada há alguns dias pelo ministro das Finanças, Ali Rodriguez. Mas a indefinição sobre o valor e sobre quando a medida será implantada -especula-se que será entre janeiro e março- desvalorizou ainda mais a moeda local no câmbio paralelo. No começo da semana, US$ 1 estava a cotado a 5,5 bolívares, enquanto o câmbio oficial permanece congelado em 2,15 bolívares -uma diferença de 155%.
Com o dólar caro no mercado paralelo, a medida deve reduzir significativamente os gastos dos venezuelanos no estrangeiro. Neste ano, a estimativa é a de que o Cadivi distribua US$ 5 bilhões em cotas, 10% da demanda por dólares.
A economia venezuelana está cada vez mais pressionada pela queda brusca do petróleo, responsável por 94% das exportações do país. O preço do barril local está cotado em apenas US$ 27,10, queda de 79,8% em relação ao valor máximo deste ano -US$ 134 por barril.
Mesmo assim, o governo Chávez ainda não promoveu mudanças na política econômica. Em clima de campanha eleitoral, a Venezuela é o único país latino-americano que até agora não adotou nenhuma medida oficial anticrise, segundo levantamento feito pela Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe).
Na semana passada, Chávez disse que a Venezuela ainda não foi afetada pela crise porque seu governo "desenganchou [o país] da locomotiva capitalista", mas que o impacto é incerto por causa da instabilidade no preço do petróleo.
Para analistas críticos a Chávez, a redução da cota a viajantes tem uma lógica política, já que afetará sobretudo camadas da população chamadas de "esquálidos" pelos chavistas. Para o governo socialista, os dólares a viajantes são considerados um supérfluo subsídio para a classe média viajar ao exterior.
Na avaliação desses analistas, medidas mais urgentes e impopulares, como a redução do gasto público e a desvalorização do bolívar, só serão tomadas após o referendo convocado por Chávez sobre a emenda constitucional da reeleição presidencial indefinida. Ainda não há data marcada, mas o governo tem pressa e quer realizar a consulta nacional já no dia 15 de fevereiro.
"A queda dos ingressos petroleiros é tão aguda que o governo pode atrasar algumas medidas duras, mas claramente está antecipando medidas não-oficiais, como o atraso no pagamento de fornecedores da PDVSA [estatal petroleira]", disse à Folha o economista Orlando Ochoa, da Universidade Católica Andrés Bello.
As previsões para a Venezuela variam bastante. Segundo relatório sobre a América Latina da Economist Inteligence Unit (EIU), a Venezuela será o país da região mais afetado pela crise. O informe prevê uma retração do PIB de 3%, em 2009, e de 5,4% em 2010. Mais otimista, a Cepal prevê que o PIB local cresça 3% em 2009, acima da média regional (1,9%).


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