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Em concordata, Parmalat ganha fôlego com credores
Objetivo é organizar contas sem se preocupar com ações judiciais
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi com a intenção de se proteger que a Parmalat decidiu aceitar
o conselho de seus advogados e
encaminhar ontem os pedidos de
concordata preventiva à Justiça
de São Paulo. A partir de agora, o
grupo ganha fôlego para organizar as contas sem ter de se preocupar com a disparada de ações judiciais de credores.
Com essa estratégia definida, às
16h08 de ontem o advogado da
Parmalat Carlos Miguel Aidar
deu entrada na 29ª Vara Cível de
São Paulo com o pedido de concordata da Parmalat Brasil S.A.
Indústria de Alimentos. Logo depois, às 16h45, fez o mesmo para a
Parmalat Participações do Brasil
na 4ª Vara Cível.
"A empresa estava sendo "assaltada" por todos os lados. A concordata foi pedida para protegê-la", disse Thomas Felsberg, advogado da Parmalat Alimentos.
Os advogados pediram 90 dias
de prazo aos juízes Dimas Borelli
Thomaz Júnior (29ª Vara) e Cláudio Teixeira Villar (4ª Vara) para
reunir documentos justificando o
pedido.
Durante esse prazo, permanecem válidas as decisões judiciais
obtidas por credores da empresa.
Segundo o juiz Carlos Henrique
Abrão, da 42ª Vara Cível, o comitê
de fiscalização por ele nomeado
no dia 16 deste mês deverá continuar atuando na sede da empresa.
Esse comitê está encarregado de
monitorar os movimentos de entrada e saída de dinheiro da Parmalat, evitando que a empresa
venda ativos e remeta recursos à
matriz ou a suas coligadas.
"Enquanto não for deferido o
pedido da concordata, o comitê
pode continuar atuando", disse
Abrão. O juiz marcou para amanhã uma audiência com o presidente da Parmalat Alimentos, Ricardo Gonçalves, no Fórum Central de São Paulo.
Estratégia
Houve a necessidade de entrar
na Justiça com dois pedidos de
forma separada, um para a Parmalat Alimentos e outro para a
holding, porque os credores são
diferentes e a tática dos advogados na condução dos casos será
diversa. Eles irão bater na tecla de
que a Parmalat Alimentos é viável, geradora de caixa e precisa ser
analisada de forma independente.
Essa separação fica clara quando, simultaneamente ao pedido
de concordata, a Parmalat Alimentos anunciou a formação de
um "grupo gestor de crise" só para a empresa operacional. O escritório Galleazi & Associados e a
Aggrego Consultores, do ex-banqueiro Alcides Tápias, serão os
gestores da crise.
Caso a concordata seja deferida,
a empresa terá até dois anos para
organizar as contas. Essa foi uma
das razões do pedido de concordata: o grupo precisa de tempo
para ajeitar a casa -a dívida total
no país é de US$ 1,8 bilhão.
Segundo a lei, companhias concordatárias não podem ser cobradas na Justiça por débitos não pagos com fornecedores e bancos.
No entanto, ela terá de convencer
os juízes de que poderá cumprir a
exigência legal de quitar 40% dos
débitos no primeiro ano e 60% no
segundo.
A cada dia, desde a semana passada, praticamente um pedido de
falência do grupo era encaminhado pelos credores à Justiça. Foram
cinco pedidos de falências de empresas e um de banco, o Fibra, no
valor total de R$ 1.362.958. Com a
cobrança do banco Fibra, noticiada pela Folha no sábado passado,
os rumores de que a Parmalat poderia pedir concordata cresceram
no mercado.
Quando um pedido de falência
é encaminhado ao juiz, a empresa
precisa ser citada (informada) do
fato. Se isso ocorre, ela tem 48 horas para solucionar a pendência,
seja pagando o valor ou depositando-o em juízo, por exemplo.
Essa possibilidade de uma disparada de cobranças levou a empresa a adotar a estratégia de entrar com o pedido de concordata
agora. A empresa não chegou a
ser citada (informada) de nenhum pedido de falência.
No entanto, segundo a lei, para
ter direito ao benefício da concordata, ela terá de pagar todos os
credores que pediram falência na
Justiça até ontem. Isso inclui um
novo pedido da empresa Orlândia, encaminhado ontem.
(ADRIANA MATTOS E SANDRA BALBI)
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