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Preço controlado sobe mais que o livre
Inflação "do governo" supera a "do mercado"
ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O governo manteve a taxa de
juros em 16,5% ao ano com
medo da evolução dos preços,
principalmente daqueles que
não estão sob seu controle. Entretanto, desde que o câmbio se
tornou flexível, em 1999, as tarifas e preços controlados pelo
governo têm subido mais que
os preços livres e aumentado os
custos do setor privado.
Em 2003, os preços do governo (tarifas e preços administrados) subiram 13,2%, e os preços dos empresários (preços livres), 7,79%. O cálculo foi feito
pela Fecomércio-RJ (Federação do Comércio do Estado do
Rio de Janeiro), com base no
IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo).
O IPC-DI, da FGV, mostra o
mesmo comportamento, com
os preços do governo subindo
mais que os dos empresários.
Sondagem da FGV (Fundação Getúlio Vargas) feita neste
mês mostrou que 43% das empresas da indústria de transformação têm intenção de aumentar seus preços neste primeiro trimestre.
Para o economista Alexsandro Barbosa, da consultoria
Global Invest, para atingir a
meta de inflação fixada em
5,5% (pelo IPCA) em 2004, não
há saída para o governo senão
apertar os empresários com juros altos. Segundo cálculos da
consultoria, para confirmar a
previsão do BC de uma inflação
de 7,8% nos preços administrados pelo governo para 2004,
resta apenas uma inflação máxima de 4,5% para os preços
dos empresários.
"De fato, o governo é o maior
culpado da inércia inflacionária. Os juros não podem cair
porque há uma meta rígida de
inflação, de 5,5%, com um
câmbio flutuante, um IPCA
com um terço sensível ao câmbio e ainda as tarifas indexadas
aos índices gerais de preços,
também muito sensíveis às oscilações cambiais", diz. Para
Barbosa, "a política monetária
está punindo os empresários".
O economista Salomão Quadros, da FGV, afirma que, mesmo com algumas altas no atacado, a demanda de consumo é
muito fraca para a alta chegar
ao consumidor. "Nem todas
essas intenções de aumento de
preços vão se confirmar. E, para o consumidor, essa alta chega mais diluída", afirmou.
Na sua opinião, as empresas
sofreram pressões no ano passado -custos com energia e
outras tarifas e reajustes salariais- e precisam recompor
sua margem. "As empresas não
vão viver eternamente comprimindo margem. Tem uma hora que passam para a frente [os
aumentos]", diz. Ele ressalta
que isso não significa o início
de um processo inflacionário
porque tal tipo de ajuste é feito
de uma vez e se esgota.
Para o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, uma
parada no corte do juros pode
frear os investimentos e o esperado crescimento econômico
sustentado. "Não se pode usar
apenas um instrumento monetário, que são os juros, para
ajustar os preços livres. Isso limita a capacidade de crescimento do país", afirmou.
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