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Chefe da YPFB sai por defender Petrobras
Ex-presidente da estatal boliviana de energia tinha posições mais moderadas em relação à empresa brasileira, diz ex-funcionário
Medidas que obrigariam a Petrobras a rearranjar produção de gás para atender Bolívia e Argentina
motivam saída de executivo
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-presidente da YPFB
Juan Carlos Ortiz deixou o governo Evo Morales na última
sexta-feira por defender posições mais moderadas em relação à Petrobras e ser contra o
aparelhamento da estatal boliviana de gás e petróleo.
A polêmica gira em torno de
temas como as medidas recém-tomadas que obrigam a empresa brasileira a rearranjar a produção de gás para atender aos
mercados boliviano e argentino, além da negociação em torno do preço do produto, disse à
Folha um alto ex-funcionário
do governo boliviano da área de
gás e petróleo.
Ortiz discordou do decreto
presidencial 28.994 e das resoluções do Ministério de Hidrocarbonetos 255 e 256, todos do
final de dezembro, que obrigam
as empresas produtoras, entre
as quais a Petrobras, a entregar
o gás de acordo com o determinado pelo governo.
O objetivo de Morales com
essas medidas é priorizar o
cumprimento do acordo assinado com a Argentina, que prevê a exportação de 7,7 milhões
de metros cúbicos diários para
este ano e 27,7 milhões de metros cúbicos a partir de 2010.
O contrato com a Argentina
prevê o pagamento de US$ 5
por milhão de BTU, acima do
que é pago pela Petrobras, de
US$ 4,3 por milhão de BTU (excluído o transporte). O acordo
com a Petrobras prevê a exportação de até 30 milhões de metros cúbicos diários.
Na avaliação da Petrobras
Bolívia, as novas medidas de
Morales ferem o acordo de
compra e venda de gás natural
assinado em 1996, no qual o
fornecimento ao Brasil é preferencial, e têm um caráter "expropriatório" ao obrigar a empresa a investir para satisfazer
o mercado do país.
As medidas foram tomadas à
revelia da equipe de Ortiz, que
as considera "irracionais", pois
obriga as empresas a produzir
segundo uma fórmula matemática para atender às demandas,
e não segundo o programa de
investimentos. Atualmente, a
produção de gás não é suficiente para suprir os contratos com
o Brasil e a Argentina.
Questionado sobre as novas
medidas, o diretor de Gás e
Energia da Petrobras, Ildo
Sauer, disse ontem à Folha
que, "do ponto de vista jurídico, há um contrato internacional em vigor, com garantias internacionais, que define as
prioridades".
Ortiz, um ex-gerente da Petrobras Bolívia, também não
aceitou o aparelhamento da
YPFB por filiados ao partido
governista, o MAS (Movimento
ao Socialismo), de acordo com
esse ex-funcionário. Pela sua
proposta, as contratações teriam um perfil técnico.
Ortiz também foi desautorizado pelo governo Morales em
sua negociação em torno do
preço do gás. Na última reunião com a Petrobras, em dezembro passado, os dois lados
concordaram em deixar a questão do reajuste de lado em troca de uma agenda para a retomada de investimentos da empresa brasileira na Bolívia.
Morales, no entanto, vem cobrando ultimamente um aumento do preço do gás. Ele espera tratar do tema durante a
visita de Estado a Brasília, no
dia 14 do mês que vem.
De acordo com o ex-funcionário, que deixou o governo recentemente, a mudança de estratégia se deve a setores do governo que "acham que o sucesso da política de Morales será
subir o preço ao Brasil".
Ainda de acordo com esse
funcionário, a diplomacia brasileira tem pouca influência em
Morales, mais próximo do venezuelano Hugo Chávez e do
argentino Néstor Kirchner.
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