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Saldo nas transações com exterior cai 74%
Câmbio reduz saldo comercial em 2007 e estimula remessas de lucro de multinacionais ao exterior, que vão a US$ 21 bi
Transações correntes do Brasil ficaram positivas em US$ 3,5 bi em 2007 e devem fechar no vermelho neste ano pela 1ª vez desde 2002
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As remessas de lucros ao exterior bateram recorde e ficaram entre os principais motivos da piora no resultado das
contas externas do Brasil em
2007. Segundo dados do Banco
Central, empresas instaladas
no país enviaram US$ 21,2 bilhões para suas matrizes em
2007, maior valor desde 1947,
início das estatísticas do BC.
Em relação a 2006, o aumento das remessas foi de 30%. Para este ano, a estimativa oficial
é que US$ 20 bilhões deixem o
país assim, mas o número deve
ser revisto para cima. "Projeção
existe para ser revisada", diz o
chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
O crescimento nas remessas
de lucros reflete, em parte, os
maiores ganhos que têm sido
apurados pelas empresas instaladas no Brasil. O câmbio também ajuda a explicar o movimento, já que, com o dólar barato, uma mesma quantidade
de reais consegue comprar volume maior de moeda estrangeira para ser remetida.
Além disso, as multinacionais também podem usar os lucros que conseguem no Brasil
para compensar perdas enfrentadas em outros países com a
desaceleração da economia
mundial -caso das matrizes
nos EUA, cada vez mais dependentes dos lucros remetidos do
exterior.
O envio de lucros e dividendos ao exterior é um dos componentes da conta de transações correntes, que contabiliza
todas as negociações de bens e
serviços com outros países. Entre seus itens estão ainda balança comercial, pagamento de
juros e gastos com viagens internacionais, entre outros.
No ano passado, a conta de
transações correntes do Brasil
ficou positiva em US$ 3,555 bilhões, queda de 74% em relação
a 2006. Além do aumento das
remessas, houve também uma
redução de US$ 6,4 bilhões no
saldo da balança comercial, que
ficou em US$ 40,040 bilhões.
Um menor saldo na conta de
transações correntes significa
que é cada vez menor o volume
de dólares que o Brasil consegue acumular com a negociação
de bens e serviços com o exterior. Para 2008, a expectativa é
que a piora continue e que o indicador fique negativo pela primeira vez desde 2002.
Ainda assim, alguns analistas
dizem que a piora nas contas
externas não deve, ao menos
por enquanto, causar muitos
problemas para a economia. O
economista Caio Megale, sócio
da Mauá Investimentos, diz
que, caso a crise se agrave, o BC
pode usar parte das reservas internacionais acumuladas nos
últimos anos para compensar a
redução no fluxo de dólares.
"Ainda existe um estoque
grande de capital de curto prazo no Brasil. Se eles [investidores estrangeiros] quiserem sair,
o déficit [nas contas externas]
vai ser maior do que o esperado", diz Megale. Nos seus cálculos, porém, uma saída mais
acentuada de recursos faria
com que ficasse faltando entre
US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões
para equilibrar as contas externas, valor pequeno perto dos
US$ 188 bilhões em reservas.
Já Júlio Gomes de Almeida,
consultor do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário do Ministério da Fazenda,
ressalta que, mesmo que o país
consiga financiar com certa
tranqüilidade suas contas externas em 2008, há motivos para preocupação num prazo
mais longo. "Assim que essa
instabilidade passar, o governo
deveria tomar alguma medida a
respeito disso. Ainda temos um
problema de câmbio", afirma.
Para Almeida, o Brasil está
no início de um processo que
pode levar, num futuro próximo, a déficits em contas externas semelhantes ao que se observava até 2002.
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