São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo adia ação para não constranger ministro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O recuo do governo começou a ser desenhado na terça. O ministro Guido Mantega (Fazenda) recebeu pressões do empresariado, mas temia criar um constrangimento público ao colega Miguel Jorge (Desenvolvimento) revogando imediatamente a medida. Por isso, tentou-se encontrar uma forma "honrosa" para resolver o problema, considerado pelos técnicos do governo como "um erro completo de comunicação".
Segundo a Folha apurou, a Fazenda e o Desenvolvimento vinham discutindo a evolução da balança comercial e formas de conseguir antecipar o desempenho, sobretudo das importações, e também monitorar as compras da Ásia, que tem um custo de produção muito baixo em relação ao Brasil.
A Fazenda havia pedido um levantamento detalhado para o Desenvolvimento e foi acertada um encontro na terça-feira para retomar o tema, mas, um dia antes, o Ministério do Desenvolvimento já havia estabelecido a exigência de licenças prévias de importação e a reunião se destinou a discutir uma solução para o problema.
Nesse mesmo dia, em visita a São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado da reação negativa à decisão e pediu a Mantega que conversasse com o ministro do Desenvolvimento, que está no exterior. A Fazenda se manifestou pela revisão da medida.
Jorge resistiu e foi tentada uma alternativa: deixar claro que a produção que depende de insumos e peças importadas não seria afetada. Não deu certo. As críticas subiram de tom e, na manhã de ontem, a Fazenda estava convencida de que o governo teria que recuar.
Jorge teve que concordar diante do aumento das críticas. Lula, que havia dito que analisaria o assunto quando voltasse a Brasília, o fez ontem pela manhã. Ele foi informado de que um de seus conselheiros econômicos, o ex-ministro Delfim Netto, era contra a medida. Também pesou a repercussão negativa na imprensa, o que o levou a acatar os argumentos contrários da Fazenda.
Quando recebeu, no meio da tarde, telefonema do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, demonstrando preocupação com a medida, o presidente já comunicou o colega de Mercosul que ela seria revogada.
O Ministério do Desenvolvimento ainda tentava se justificar, argumentando que a medida não era uma barreira -serviria para melhorar a avaliação estatística da balança comercial. Nas palavras de um ministro, houve uma falha de comunicação, apesar de empresários e economistas apontarem o caráter protecionista da medida.
(SHEILA D"AMORIM, KENNEDY ALENCAR E SIMONE IGLESIAS)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Barreira seria exceção, avalia OMC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.