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Governo adia ação para não constranger ministro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O recuo do governo começou
a ser desenhado na terça. O ministro Guido Mantega (Fazenda) recebeu pressões do empresariado, mas temia criar um
constrangimento público ao
colega Miguel Jorge (Desenvolvimento) revogando imediatamente a medida. Por isso, tentou-se encontrar uma forma
"honrosa" para resolver o problema, considerado pelos técnicos do governo como "um erro completo de comunicação".
Segundo a Folha apurou, a
Fazenda e o Desenvolvimento
vinham discutindo a evolução
da balança comercial e formas
de conseguir antecipar o desempenho, sobretudo das importações, e também monitorar as compras da Ásia, que tem
um custo de produção muito
baixo em relação ao Brasil.
A Fazenda havia pedido um
levantamento detalhado para o
Desenvolvimento e foi acertada um encontro na terça-feira
para retomar o tema, mas, um
dia antes, o Ministério do Desenvolvimento já havia estabelecido a exigência de licenças
prévias de importação e a reunião se destinou a discutir uma
solução para o problema.
Nesse mesmo dia, em visita a
São Paulo, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva foi informado da reação negativa à decisão e pediu a Mantega que
conversasse com o ministro do
Desenvolvimento, que está no
exterior. A Fazenda se manifestou pela revisão da medida.
Jorge resistiu e foi tentada
uma alternativa: deixar claro
que a produção que depende de
insumos e peças importadas
não seria afetada. Não deu certo. As críticas subiram de tom
e, na manhã de ontem, a Fazenda estava convencida de que o
governo teria que recuar.
Jorge teve que concordar
diante do aumento das críticas.
Lula, que havia dito que analisaria o assunto quando voltasse
a Brasília, o fez ontem pela manhã. Ele foi informado de que
um de seus conselheiros econômicos, o ex-ministro Delfim
Netto, era contra a medida.
Também pesou a repercussão
negativa na imprensa, o que o
levou a acatar os argumentos
contrários da Fazenda.
Quando recebeu, no meio da
tarde, telefonema do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez,
demonstrando preocupação
com a medida, o presidente já
comunicou o colega de Mercosul que ela seria revogada.
O Ministério do Desenvolvimento ainda tentava se justificar, argumentando que a medida não era uma barreira -serviria para melhorar a avaliação
estatística da balança comercial. Nas palavras de um ministro, houve uma falha de comunicação, apesar de empresários
e economistas apontarem o caráter protecionista da medida.
(SHEILA D"AMORIM, KENNEDY ALENCAR E SIMONE IGLESIAS)
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