São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

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Indústria de SP tem retração recorde

Com a crise, atividade recua 10,2% no quarto trimestre do ano passado; resultado é o pior desde 2002

Setor de máquinas e equipamentos também é afetado e tem redução de 9,9% no faturamento nos últimos três meses de 2008


YGOR SALLES
DA FOLHA ONLINE

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com a chegada da crise financeira global ao país, o setor industrial registrou retração no quarto trimestre de 2008.
A indústria paulista apresentou no período o seu pior desempenho acumulado da série histórica do INA (Indicador do Nível de Atividade da Indústria), iniciada em 2002, segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A atividade caiu 10,2% nos três últimos meses de 2008.
Segundo o diretor do Depecon (Departamento de Pesquisas Econômicas) da Fiesp, Paulo Francini, as perspectivas para os próximos meses não são animadoras devido à deterioração das expectativas do empresariado.
A pesquisa antecedente do Sensor Fiesp fechou em 38,9 pontos na segunda quinzena de janeiro, ante 43,5 pontos na primeira quinzena. Uma pontuação abaixo de 50 indica pessimismo.
"Como o empresário tem certeza da rota de queda, ele se prepara", disse Francini, o que resulta, de acordo com ele, em demissões e redução de investimentos. "Por isso que o emprego está respondendo muito mais rápido à queda de produção do que em outros momentos", afirmou.
Com as demissões, Francini prevê que a redução da renda e da demanda seja o próximo passo da crise. "O mundo está mostrando essa sequência", disse o economista, referindo-se às revisões apresentadas ontem pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) -que elevaram a previsão do número de desempregados pela crise no mundo de 20 milhões para 51 milhões- e do FMI (Fundo Monetário Internacional) -que reduziu o crescimento médio global para 2009 de 2,2% para 0,5%. "Como pegamos a crise um pouco atrasados [em relação aos países desenvolvidos], sabemos qual será o próximo passo."

Bens de capital
O faturamento no setor de máquinas e equipamentos caiu 9,9% no último trimestre do ano passado em relação ao período anterior, segundo dados divulgados ontem pela Abimaq (Associação Brasileiras de Máquinas e Equipamentos). No ano, puxado pelo período pré-crise, porém, o setor faturou R$ 78 bilhões, alta de 21,6% sobre 2007, desempenho recorde.
Com as dificuldades no mercado de crédito, porém, o setor já prevê queda nos investimentos para este ano: R$ 6,8 bilhões contra R$ 7,1 bilhões em 2008.
Desde setembro, mês marcado pelo recrudescimento da crise, o setor já registrou redução de 38,9% em sua carteira de pedidos, puxada por setores como o siderúrgico e o sucroalcooleiro. Para o primeiro trimestre, a Abimaq vislumbra queda de 19% nas vendas.
"Essa é uma crise de financiamento. Mas a atitude conservadora por parte dos bancos na concessão do crédito acaba por fabricar uma crise econômica", disse o vice-presidente da Abimaq, Carlos Pastoriza. "Temos casos de empresas saudáveis que correm o risco de fechar as portas por falta de capital de giro", ressalta.
Em dezembro, a indústria de máquinas e equipamentos fechou 5.334 vagas, a maior queda desde dezembro de 1998.
A Abimaq encaminhou ao governo uma série de propostas para evitar o agravamento da crise, entre elas a redução da taxa Selic e a desoneração de investimentos produtivos.


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