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FMI defende nacionalizar bancos contra a crise
DE NOVA YORK
Enquanto o FMI (Fundo
Monetário Internacional) recomendou abertamente ontem
a nacionalização de bancos privados para enfrentar a atual
crise de crédito, o secretário do
Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, afirmou que
em breve anunciará um novo
pacote de ajuda às instituições
financeiras.
Confrontado com a opção
pela nacionalização de alguns
bancos, Geithner afirmou:
"Nosso sistema financeiro pertence a acionistas privados e é
gerido por instituições privadas. Nós gostaríamos de fazer o
possível para mantê-lo dessa
maneira".
Várias opções vêm sendo
consideradas pelo Tesouro para a segunda etapa do socorro
ao sistema financeiro, que deverá custar, no mínimo, US$
350 bilhões. Essa é a segunda
parcela do pacote de US$ 700
bilhões aprovado pelo Congresso no ano passado.
Entre as saídas, figura a criação de um "banco podre" estatal. As instituições privadas
transfeririam para esse "banco
podre" os chamados títulos "tóxicos" (resultados de empréstimos malfeitos e sem garantias)
de suas carteiras.
Em troca, o governo converteria esses ativos "tóxicos" em
títulos que poderiam ser transformados em ações dos bancos
caso o Tesouro queira. Com isso, o governo aumentaria o poder de pressão sobre os bancos,
como já vem fazendo.
Embora Geithner fale em
"sistema privado", com os socorros realizados até aqui (e
que já se estenderam a quase
300 bancos), os contribuintes
norte-americanos já são, individualmente e na prática, os
principais acionistas das duas
maiores instituições no país. O
governo já tem 6% das ações do
Citigroup e cerca de 8% das do
Bank of America.
Depois de ter recebido US$
45 bilhões em dinheiro público,
por exemplo, o Citigroup foi
pressionando pelo Tesouro a
abandonar a compra de um jato
de US$ 50 milhões. Agora, o
Bank of America está sendo
instado a adiar para 2010 o pagamento de eventuais bônus.
Essa "estatização branca",
como vem sendo chamada, poderá aumentar ainda mais com
a criação do "banco podre" estatal. Seu objetivo é limpar as
carteiras de empréstimos dos
bancos e permitir que eles voltem a assumir novos riscos, fornecendo mais crédito.
Hoje, o mercado de crédito
está travado justamente porque os bancos temem emprestar mais, levar novos calotes e
assim aumentarem ainda mais
o rombo em suas carteiras.
Até agora, segundo relatório
do FMI divulgado ontem, só os
bancos norte-americanos precisaram de mais de US$ 2,2 trilhões para cobrir perdas com
esses ativos "tóxicos". Segundo
o Fundo, serão necessários pelo menos mais US$ 500 bilhões
para que o sistema se estabilize
-o que não significa que todas
as perdas serão cobertas.
Nacionalização
Diante dos rombos trilionários, o diretor do Departamento para o Mercado Financeiro e
de Capitais do FMI, o espanhol
Jaime Caruana, defendeu com
todas as letras ontem a nacionalização de alguns bancos.
"Sobre a possibilidade de
eventuais nacionalizações, a intervenção total das autoridades
talvez se faça necessária", afirmou Caruana. "Nesse caso, a
questão de quanto pagar pelos
ativos dos bancos é menos importante, já que as autoridades
estarão no controle."
Caruana acrescentou que "a
"limpeza" das carteiras dos bancos é fundamental, pois o crédito vai continuar deteriorando
se a confiança não for readquirida". "Isso precisa ser feito
imediatamente", disse.
Apesar do discurso pró-mercado, os EUA já nacionalizaram
bancos no passado. No fim da
década de 1980 foi criada a Resolution Trust Corporation,
que assumiu carteiras "podres"
dos então chamados "bancos
zumbis", impôs perdas aos
acionistas e afastou controladores das instituições.
Depois de limpos, os bancos
foram vendidos, fundidos com
outros ou eliminados. Na época, o plano consumiu US$ 130
bilhões e envolveu bancos pequenos, médios e regionais.
Com um novo pacote de ajuda a caminho, as ações dos bancos lideraram ontem o movimento de alta na Bolsa de Nova
York, com o índice S&P 500 fechando em alta de 3,36%, e o
Dow Jones, de 2,46%.
(FC)
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