São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

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DISPUTA INTERNA
Com aprovação tácita do Palácio do Planalto, diretores barram plano de forte expansão de Steinbruch
Vale privatizada já preocupa governo

LUÍS COSTA PINTO
da Reportagem Local

O empresário Benjamin Steinbruch está travando uma queda-de-braço pelo controle do Conselho de Administração da Companhia Vale do Rio Doce.
É uma briga de titãs. Ele disputa a ascendência sobre a Vale com o megainvestidor internacional George Soros e o Banco Opportunity. O Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, é o fiel de balança na disputa. A briga preocupa o governo.
Tramou-se uma rede de intrigas dentro do Palácio do Planalto contra Steinbruch, controlador da Companhia Vale do Rio Doce e da Companhia Siderúrgica Nacional.
Privatizadas respectivamente em maio de 97 e abril de 93, as duas empresas formam a dupla das mais reluzentes jóias da coroa de estatais já privatizadas.
Em função das intrigas, o Previ, que tem dois dos nove membros do Conselho de Administração da Vale do Rio Doce, votou contra o projeto de Steinbruch de fazer com que a Vale e a CSN se associassem para comprar a Sidor (Siderúrgica del Orenoco), estatal da Venezuela privatizada no início deste mês. Esse voto levou ao veto da associação das ex-estatais.
A partir dessa derrota de Steinbruch e dos dois outros conselheiros da CSN dentro do Conselho da Vale, instalou-se ali uma queda-de-braço administrativa.
O Previ, cujas posições têm força para pôr do seu lado os conselheiros do Petros e do Funcef, fundos de pensão da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal, respectivamente, chegou à Vale associado a Steinbruch e à CSN no consórcio Valepar mas nos últimos dois meses tem firmado posições muito mais próximas de seus adversários no Conselho da Vale: o Banco Opportunity, dos economistas Pérsio Arida e Daniel Dantas, e o Banco Liberal, representante do megainvestidor internacional George Soros, que administra US$ 20 bilhões em investimentos nas Bolsas de Valores do mundo inteiro.
"Existem opiniões divergentes dentro do Conselho da Vale, isso ocorre em todas as reuniões, e considero positivo" diz Benjamin Steinbruch, que está incomodado com o disse-me-disse que o cerca e às suas empresas.
"Há muita plantação de notícia, muita fofoca, porque incomodamos muita gente quando assumimos o controle da Vale e da CSN", afirma Steinbruch.
Na primeira semana de dezembro do ano passado dois parlamentares tucanos, ambos de São Paulo, em audiências diferentes, estiveram com o presidente Fernando Henrique Cardoso e falaram sobre a Vale do Rio Doce.
Levaram a FHC a informação de que alguns empresários paulistas e economistas estrangeiros com poder de influência sobre as oscilações do mercado internacional estavam preocupados com a falta de clareza nas estratégias traçadas por Steinbruch para a Vale.
As conversas foram um pouco mais além. Disseram que ele estava induzindo a Companhia Vale do Rio Doce a se associar à Companhia Siderúrgica Nacional (cujo conselho também controla) para, juntas, comprarem a Sidor, maior siderúrgica venezuelana.
Alertaram o presidente para o vencimento, em maio deste ano, de uma dívida de R$ 500 milhões que a CSN tem com o Nations Bank dos Estados Unidos e contraída em maio do ano passado para a compra da Vale.
O presidente considerou relevantes as informações e conversou, ele mesmo, com pelo menos dois empresários paulistas -um banqueiro e um industrial- sobre o assunto. Também trocou idéias acerca do tema com o secretário-geral da presidência, Eduardo Jorge Caldas Pereira.
Desde que FHC ocupou o Ministério da Fazenda, no governo do ex-presidente Itamar Franco, Eduardo Jorge tornou-se o encarregado informal pelo relacionamento entre a equipe do então ministro e os fundos de pensão estatais -como o são o Previ, o Funcef e o Petros.




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