São Paulo, sexta, 29 de janeiro de 1999

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Boi sobe 12% em 15 dias

BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha

A desvalorização do real trouxe um clima de "dèja vu" no campo. Como nos tempos do Plano Cruzado, de 1986, os pecuaristas resolveram reter o boi no pasto à espera de uma valorização dos preços da arroba.
A escassez provocou um efeito dominó na cadeia da carne. Desde a liberação do câmbio, no dia 15, a arroba do boi subiu 12,3%, de R$ 28,50 para R$ 32.
A alta já chegou ao varejo. No prazo de 13 dias, os preços da carne subiram em média 4% nos supermercados e 10% nos açougues.
"É um movimento especulativo e inconsequente", diz Hélio Toledo, do Sindicato da Indústria do Frio, entidade que representa os frigoríficos.
Para Luciano Agostin, analista da Scot Consultoria, os pecuaristas só estão tentando se defender da desvalorização. "Os preços dos bezerros e dos bois magros subiram em média 7%. Além disso, existe hoje a insegurança sobre o que fazer com o dinheiro", diz.
Sigeyuki Ishii, presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, diz que a desvalorização do real elevou os custos de produção da pecuária.
"Mas a intenção não é repassar a diferença cambial para os preços", acrescenta.
No atacado, o preço da carne do traseiro saltou de R$ 2,40, no dia 13 último, para R$ 2,80, no dia 27. Mas ontem recuou para R$ 2,75.
"Os pecuaristas costumam vincular o boi ao dólar. Mas agora a realidade é outra. O mercado não permite aumentos abusivos. O desemprego cresceu, os salários estão estáveis e o consumo estagnado", diz Manoel Faria Ramos, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carne.
Segundo ele, os supermercados reagiram à alta dos preços, mas os açougues são mais vulneráveis.
As exportações de carne, segundo Danilo Fiorini Júnior, da FNP Consultoria, também estariam pressionando os preços da arroba.
A médio prazo, na avaliação do analista, a tendência é de queda nos preços. "A oferta de boi deve aumentar e o preço vai despencar".



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